ENQUANTO E NAO

terça-feira, janeiro 31, 2006

NOTÍCIA

Comunico à tal "imensa legião" de bisbilhoteiros deste meu blogue que, a partir de amanhã, quarta feira, 1 de Fevereiro de 2006 podem passar a bisbilhotar também um novo blogue que criei e cujo endereço é
Destina-se este novo blogue a albergar apenas os escritos um pouco mais elaborados, mais intimistas, memórias, fantasias, espécie de pequenos contos, talvez poemas, fotos, sei lá...ficando o "Enquanto e Não" mais virado para os comentários políticos ou faits divers do dia a dia.
Para começar, passei para o novo blogue alguns dos posts já editados neste blogue e cujas características se enquadram mais no espírito do novo, aos quais junto, amanhã, um pequeno novo texto.
Claro que a actualização do novo blogue não vai ser feita com o mesmo ritmo, quase diário, do actual. Sê-lo-á quando tiver inspiração e vagar.
Emtodo o caso, se as minhas parvoeiras tiverem o condão se suscitar um pouco do vosso interesse (há gostos para tudo) vão dando uma espreitadela.
Com amizade
António Melenas

segunda-feira, janeiro 30, 2006

COMENTÀRIOS

Delgado dixit

Este já tardava.Diz hoje no DN:

A vitória do Hamas é uma tragédia para a Palestina, para Israel, para os EUA, e para a Europa. Nada de ilusões. Diga-se o que se disser, mesmo aquelas frases de ocasião e muito democráticas, os fanáticos que obtiveram a maioria na Palestina têm a mesma raiz e natureza dos grupos terroristas que estão na génese das maiores catástrofes a que o mundo tem assistido.

Claro. E não é só na Palestina que as nações árabes se estão a virar para o fundamentalismo. Qual será o motivo porque no Irão, onde se desenhava um tendência para uma maior abertura, acabou por ganhar a ala mais mais radical? Qual será, qual será senhor Delgado?
E no Iraque? Aí então verifica-se um fenómeno muito curioso: É que são os próprios americanos que estão a ajudar ao estabelecimento de um estado confessional xiita, aparentado com o do Irão e, até certo ponto do Hamas. Esperem pela pancada.

Mas, continua o sr. Delgado

Como lidar com eles? Em primeiro lugar é deixar que sejam os próprios palestinianos a resolver o seu dilema, ao permitir que um movimento com estas características de extremismo esteja legalizado e apto a concorrer a eleições legislativas. E essa reacção, violenta, vai gerar uma guerra civil no exíguo território palestiniano, já visível e dramaticamente pressentida.

Vá lá, vá lá. Aqui, o rapaz até demonstra algum bom senso. Pede-se moderação às nações ocidentais mas também à derrotada e inconformada Fatah. Caso contrário a coisa vai ficar feia (mais feia) por aquelas bandas.

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Portugesmente falando:

Ouço com frequência na rádio e na TV, pessoas (que tinham obrigação de o não fazerem) utilizarem a expressão “midia” em vez de “media”, para se referirem aos órgãos de informação. Julgo que será mais por snobismo do que por ignorância. Na verdade “média” é o plural da palavra latina “médium”. Sendo assim, porque é que raio de carga de água, nós, latinos, teremos de pronunciar uma palavra latina, à inglesa? Vê-se cada uma!

Outra coisa com que embirro é ouvir e ler frases como esta. Só nesse altura realizei que me tinha esquecido das chaves em casa.. Meus senhores em português o verbo realizar é transitivo e significa “fazer”, “efectuar”. Não significa “concluir que…”. O verbo inglês to realize é que significa “concluir que…”. Então deixemos esse verbo para quando falarmos inglês. Tá?

E o emprego do Presente do Indicativo em vez do Passado? Isso então é uma praga! A toda a hora se ouve na rádio e na TV: “Quando ontem chegamos a casa”. Não é chegamos, senhores, é chegámos!

domingo, janeiro 29, 2006

ALGUNS COMENTÁRIOS

Manuel Alegre e a sua cidadania
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Afinal, Manuel Alegre e o seus apoiantes sempre pretendem levar avante a sua ideia de se constituirem como um fórum, grupo de reflexão, movimento cívico, ou coisa que o valha. Avisadamente não avançam para a formação de um novo Partido – o que seria um perfeito disparate, tendo em conta o que aconteceu com anteriores experiências nesse sentido, nomeadamente, por se tratar do caso mais paradigmático, a do PRD.
Já a opinião de alguns de que deve desistir da sua condição de deputado e que ele parece disposto a seguir, é absolutamente errada. Se Manuel Alegre entende que as regras democráticas não funcionam como ele gostaria de ver no seu partido, é dentro dele que, moralizado pelo resultado que obteve nas eleições, deve canalizar todos os esforços para que as coisas se modifiquem.
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Que é que eu tenho a ver com isso?
Tenho tudo a ver, pois sou um cidadão que se preocupa com a saúde democrática do nosso país e ela será tanto melhor quanto melhor funcionar a vida democrática dos principais partidos. No caso particular do PS será tanto melhor quanto mais PS ele for, já que muito pouco PS se tem revelado e com tendências para, com José Sócrates, o ser cada vez menos.
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De repente, todos os analistas desataram a botar faladura acentuando o desprestígio dos partidos e o facto de ser esse desprestígio que levou ao bom resultado dos candidatos concorrentes à margem dos partidos. A admitir essa hipótese, que a realidade dos factos, aliás, desmente, uma vez que Cavaco Silva teve, na prática o apoio (se não pedido, pelo menos consentido) dos partidos de direita, ainda não encontrei um só bendito analista que reconhecesse que, pelo menos com o Partido Comunista essa tese não se funciona, uma vez que, nestas eleições, o resultado obtido pelo candidato que propôs e apoiou, viu subir os resultados relativamente aos das suas participações em eleições anteriores.
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A verdade é só uma: Cavaco ganhou em parte porque os eleitores quiseram punir a política de Sócrates, mas sobretudo porque Sócrates demorou em apresentar um candidato e quando o fez, tarde e a más horas, inventou um candidato para perder.

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Ainda o Hamas
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Vale a pena ler o editorial de Eduardo Dâmaso no DN de hoje
Começa assim:
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“A vitória do Hamas coloca ao mundo um dos seus mais complexos desafios. O Ocidente nada mudará no Médio Oriente se o seu padrão político continuar a ser aquele que é dado pelas posições norte-americanas, europeias e israelitas, que apontam para sublinhar o carácter terrorista do Hamas e pela impossibilidade de dialogar, negociar, ou mesmo avançar para um corte radical nas ajudas externas aos territórios palestinianos.
Compreende-se que o façam agora numa perspectiva maximalista para poderem mais tarde negociar em vantagem. Mas ao ir às eleições o Hamas escolhe o campo institucional, o que abre uma oportunidade de ouro para ensaiar uma mudança de paradigma na política palestiniana, menos assente na lógica pura da guerra e mais numa normalização política pelos padrões próprios da democracia.
Afinal, o que fazer com esta vitória? Esta é a questão que se coloca tanto ao Ocidente como ao próprio Hamas, e ao mundo árabe em geral, e que exige respostas pragmáticas de todos os lados.”
E termina deste modo:

Gerir um movimento de oposição que se movimento sobretudo pelos códigos militares da guerra não é o mesmo que dirigir uma máquina de Estado e jogar pelas regras democráticas. Portanto, tanto o Hamas como os seus opositores vão ter de guiar-se mais pelo pragmatismo do que por convicções ideológicas. É este o único "mapa para a paz" possível no Médio Oriente.”

É isso mesmo.
As democracias ocidentais têm, (se não por respeito à regras democráticas e à vontade dos povos que defendem quando lhes convêm) pelo menos por pragamatismo, de não andar a reboque dos Estados Unidos que, em matéria de disparates têm sido uns mestres. Aliás, convém não esquecer que o Hamas foi criado com o beneplácito de Israel e dos americanos, naturalmente. Já fora assim com o Bin Laden, com Sadat e tantos outros…é o que se chama cuspir para o ar cair-lhes o cuspo na cara. Só é pena que haja sempre quem, solícito e servil, os vá ajudar a limpar a cara
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Por outro lado, tal como referi no meu escrito de 17-1-2006 (Começo a desonfiar que estes jornalistas me andam a copiar o blogue, eh, eh, eh) os funtamentalistas no poder são sempre bem menos fundamentalistas que na oposição e sê-lo-ão ainda muito menos, se em vez de os hostilizarem os ouvirem e com eles dialogarem

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Neve
Grande parte do país acordou hoje coberto com uma manto de neve, mesmo em sítios onde nunca antes nevara,o que é um espectáculo (lindo de ver ( excepto para os sem-abrigo e sem roupa adequada) . Enquanto escrevo já recebi notícia de familiares de que a aldeia de minha mulher (Moitas-Venda-Alcanena) está toda branquinha e está a nevar em Sacavém, em alguns locais de Lisboa e mesmo aqui em algumas zonas de Almada.

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Futebol (e porque não?)

Praticando um futebol digno de se ver, o Sporting foi ao estádio das Aguias derrotar o seu eterno rival por 3-1.
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Não é notícia? Ai não, que não é!

sábado, janeiro 28, 2006

ORLANDO DA COSTA

Faleceu ontem o escritor e democrata Orlando da Costa.

Este é um daqueles amigos, cujo passamento este meu diário não podia ignorar


Orlando da Costa nasceu em Lourenço Marques, hoje Maputo, em Julho de 1929. Vivida a infância e a juventude em Goa, vem aos 18 anos para Lisboa, licenciando-se na Faculdade de Letras em Ciências Histórico-Filosóficas.Na Casa dos Estudantes do Império, nos anos 50, conviveu estreitamente com alguns dos futuros dirigentes da FRELIMO, MPLA e PAIGC.Publica A Estrada e a Voz, seu primeiro livro de poesia, em 1951, Os Olhos sem Fronteira em 1953, Sete Odes do Canto Comum em 1955 e Canto Civil em 1979, colectânea que inclui as obras anteriores e O Coração e o Tempo. Autor de peças de teatro Sem Flores nem Coroas, 1971 (reeditada em 2003 na colecção de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores/Publicações Dom Quixote) e A como estão os cravos hoje?, 1984, premiada pela Seiva Trupe, publicou os romances O Signo da Ira, Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, 1961, Podem Chamar-me Eurídice, 1964, Os Netos de Norton, Prémio Complementar «Eça de Queirós» de Literatura 1994, da Câmara Municipal de Lisboa, e em 2000, O Último Olhar de Manú Miranda e Vocações/Evocações, que reúne, numa selecção muito intencional, o conjunto de poemas que constituem o seu modo de celebrar os 30 anos do 25 de Abril. Filiado no PCP, sofreu varias prisões durante a ditadura salazarista. Era pai de António Costa, actual ministro da Administração Inerna no governo PS e de Ricardo Costa, jornalista da SIC.
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E por hoje não me apetece escrever mais nada

sexta-feira, janeiro 27, 2006

MOZART e Outros Assuntos


Mozart

Seria impensável que no dia em que se celebram os 250 anos do nascimento deste imenso génio da música, a efeméride passasse despercebida neste meu blogue que entendi criar como uma espécie de diário, onde vou anotando os acontecimentos que considero essenciais da cada dia que passa e as pessoalíssimas reflexões que os mesmos me suscitam. O que pensariam de mim os meus descendentes se no meu Diário silenciasse a passagem de uma data como esta?

Aqui fica, pois, a minha homenagem ao génio criador desta imortal figura, património da humanidade. Nem uma palavra acerca da sua vida e da sua obra. São por demais conhecidas. A homenagem apenas.

O Hamas

Tal como eu próprio antevi - quando os órgãos de informação davam a Fatah como vencedora – foi o Hamas que ganhou as eleições legislativas na Palestina. Por uma margem bastante maior, aliás de tudo quanto se pudesse imaginar. Foram eleições limpas e credíveis e são resultado da vontade da maioria do povo palestiniano. No entanto, os americanos e as democracias ocidentais já começaram a torcer o nariz, Só espero que não façam o mesmo que fizeram na Argélia a alguns anos atrás. Lembram-se? O movimento integrista FIS (julgo que era esta a sigla) ganhou com larga maioria as eleições para o parlamento argelino, os americanos não gostaram e as eleições foram pura e simplesmente anuladas. Pois é, a democracia é uma coisa muito bonita se nos favorece; se não nos favorece, liquida-se (estou a falar, claro pela boca dos americanos e outros democratas). O resultado, como todos devem estar lembrados, foi a Argélia ter mergulhado num banho de sangue durante anos e anos.

Não seria mais avisado os americanos e as democracias ocidentais interrogarem-se sobre os motivos que levam a que, naquela região, as populações optem por escolherem governantes mais radicais? A ocupação do Iraque e as humilhações à nação árabe não terão nada a ver com isto?

E se esses democratas todos se limitassem a respeitar a vontade do povo palestiniano e aguardassem, democraticamente, a evolução dos acontecimentos? Até porque, isto aqui entre nós, os tapetes do poder têm, muitas vezes o condão de amaciar, como por magia, a sola das botas de muitos furibundos radicais..

Já vi tanta coisa!

quinta-feira, janeiro 26, 2006

LEALDADE/AMIZADE

De entre os bons sentimentos susceptíveis de habitar o ser humano, um dos mais nobres – talvez aquele que eu mais aprecie – é a Lealdade. Também a Amizade se conta entre as grandes qualidades minhas preferidas, mas esta não fará qualquer sentido sem o suporte da primeira. Amizade e lealdade fazem parte de um binómio indissociável tanto mais valioso quanto raro, raríssimo mesmo de encontrar na adulterada escala de valores da sociedade em que vivemos.

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Vem isto a propósito do belíssimo artigo que Mário Bettencourt Resendes assina hoje no Diário de Notícias, sob o título “Senhor Presidente, meu Amigo”.

Mário Bettencourt Resendes não concordava com a apresentação de Mário Soares como candidato à Presidência da República e antes de ele o fazer, disse-lho sem reservas.

Porém, sendo amigo e admirador de Mário Soares e pressentindo que ele não ria resistir ao que considerava um dever cívico, garantiu-lhe "Se for candidato, mesmo discordando, terá, obviamente, o meu voto..."

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Mário Soares (vá lá saber-se porquê) avançou apesar da avisada opinião do seu amigos experiente jornalista e, estou certo de muitas outras avisadas opiniões.

Mário Bettencourt Resendes cumpriu integralmente o que prometera: “conformado”,deu-lhe o seu apoio, “nos limites compatíveis com a independência de espírito que se exige ao jornalista que exerce, com regularidade, a análise política”, ofereceu ao Amigo o voto que, além do mais, provavelmente tinha por inútil.

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No artigo de hoje, enunciando todos os erros cometidos por Mário Soares durante a campanha (que ele preferia não tivesse existido) e independentemente do fraco resultado obtido, remata com esta frase magnífica:

“Daqui a cinco anos, se tiver um impulso semelhante, avançará, uma vez mais, contra a minha opinião, mas terá, obviamente, o meu voto.”

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Bonito! São atitudes como estas que conseguem, às vezes, reconciliar-me com o tempo de abjecção em que vivo e me induzem a pensar que nem tudo está perdido.

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Tinha outros temas para abordar hoje, mas prefiro que a beleza deste gesto não seja contaminada por outras coisas menos belas com que, a cada instante, nos deparamos

quarta-feira, janeiro 25, 2006

FLASHES

Eleições na Palestina

Nas eleições legislativas que hoje de correm na Palestina, o grupo radical Hamas, que concorre pela primeira vez pode ficar à frente da Fatah, o partido histórico de Yasser Arafat. Israel, que não quis negociar com o falecido e carismático líder - preferindo aguardar condições mais propícias após o seu desaparecimento, que sempre desejou e inúmeras vezes (sem êxito) promoveu - arrisca-se agora a encontrar pela frente um interlocutor muito mais difícil.
Lá diz o ditado: atrás de mim virá, quem de mim bom fará.

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Relatório acusa CIA de subcontratar tortura
(Título de notícia no DN de 25-5-2006)

São muito hipócritas estes americanos! Como a sua Constituição proíbe o uso da tortura sobre pessoas detidas, sejam elas quem forem, o seráfico senhor Bush e sua corte pagam a outros países para fazerem o trabalho sujo e utilizam mesmo empresas especializadas em métodos de tortura para gerir prisões que detêm fora do seu território nacional e aplicar aos presos os métodos que a sua própria constituição não permite. É exactamente assim que age a Máfia, que paga a assassinos profissionais para fazerem os livrarem de estorvos às suas impolutas carreiras de empresário de sucesso à luz do dia e criminosos intocáveis na parte oculta das suas vidas.

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Agressão violenta a aluno da Casa do Gaiato
(Título de notícia no DN de 25-1-2006)

Foi a isto que chegou a notável obra do Padre Américo ?!!!

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A morte do último dos “Parodiantes de Lisboa”

Com 80 anos faleceu Rui Andrade. Pelos menos cinquenta anos da sua vida passou-os a fazer rir Portugal. O Programa que fundou em 1947, juntamente com seu irmão José Andrade e outros e durou até 1997, foi referência incontornável da nossa rádio no campo do humorismo e fica na memória e no afecto de todos que tenham mais de 30 anos e riram com a galeria infindável de figuras nascidas da imaginação e criatividade inesgotável dos seus autores.

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Ainda a cidadania

No post que editei ontem à tarde, advertia contra o perigo da mistificação possível do conceito de cidadania. Fi-lo, mas confesso que algo receoso de que pudesse haver da minha parte um receio infundado.
À noite, porém, nos noticiários da TV, o Jerónimo de Sousa colocava o problema nos exactos termos em que eu o havia formulado.
Não estou sozinho, pelos vistos.
E isso me deixa, também, mais intranquilo.

terça-feira, janeiro 24, 2006

RESCALDOS

Antes de mais, devo dizer que achei óptimo que o Manuel Alegre tenha batido o candidato escolhido por Sócrates. Foi uma boa lição para ambos.

E contudo, aqui muito à puridade (pese embora o apreço que tenho pelo empenhamento, generosidade e excelência de intenções de muitos dos que se envolveram na campanha eleitoral de Alegre) não consigo pensar nele sem o achar muito menos aggiornato do que o velhoMário Soares.

É assim que penso. E contra isso, batatas. (é a vantagem de escrever num blogue pessoal, que me permite usar este estilo coloquial, que tanto me apraz). Com efeito, apesar da idade mais avançada, vejo Mário Soares, muito mais atento ao que se passa no mundo, aos problemas da globalização, do ambiente, da guerra e da paz, dos direitos humanos, do terrorismo, etc, enquanto Alegre, o vejo mais popularucho, mais virado para o passado, mais marialva, mais tipo republicano de 1910 e mais afastado dos grandes temas da actualidade.

De qualquer modo, Manuel Alegre perfilou-se para avançar como candidato e muito me espanta que Mário Soares com a sua experiência se tenha deixado cair na esparrela que o Sócrates resolveu armar-lhe. Foi o que se viu.

Estou certo que se o PS tivesse apresentado apenas um candidato (que podia muito bem ser o Manuel Alegre, que para tal se disponibilzara) com o apoio activo e organizado de todas as suas estruturas, Cavaco não teria, pelo menos, passado à primeira volta. O que são 60 mil votos comparados com as centenas de milhar de votos perdidos na abstenção - a maior de todas, em eleições presidenciais. Foi por acaso que isto aconteceu?

Agora há que tirar ilações. O resultado de Alegre em confronto com o do candidato de Sócrates vai ser objecto de grandes polémicas no seio do PS. È bom que assim seja. Mas será muito mau se Manuel Alegre, tomando a nuvem por Juno, se entusiasme, por a formar outro partido ou movimento à margem do seu Partido. Seria a pior coisa que poderia acontecer à já fragmentada esquerda. Seria bom que este resultado fosse aproveitado como uma mais valia para estabelecimento de um reequilíbrio de forças dentro do PS, de forma a que a ala mais à esquerda estivesse em condições de moderar o ímpeto direitista que Sócrates lhe tem vindo a imprimir.

E não me venham com a treta da bondade, agora descoberta, dos movimentos de cidadania. É certo que a democracia não se esgota nos Partidos, mas eles são a espinha dorsal do seu funcionamento. È preciso é vigilância interna, para que não se tornem propriedade de caíques.

Tenho muito receio de que esta nova/velha descoberta resulte (embora possa não ser essa a intenção dos seus defensores) em mais uma achega para a insidiosa campanha a que vimos assistindo de desprestígio dos políticos, da política e dos partidos, curiosamente alimentada por partidos de direita. Porque será?
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Estejamos atentos. Get smart, como dizia o outro

segunda-feira, janeiro 23, 2006

E AGORA?

E AGORA?

Agora, umas botas!
Não vai tardar muito que os abstencionistas de esquerda vão chorar tardias lágrimas de crocodilo: que muitos dos que alegremente votaram no “salvador da pátria, se apercebam do logro em que caíram; e que todos (todos os que vivemos exclusivamente do nosso salário ou da nossa pensão de reforma, bem entendido) vamos sofrer na pele, durante pelo menos 10 anos, o resultado da asneira que foi deixar este senhor trepar à cadeira de Belém.

A Direita está radiante e Sócrates teve o que fingiu (mal) que não queria.

Temos agora dois Cavacos. Um em São Bento, outro em Belém. Dupond e Dupont, no seu melhor estilo. Almas gémeas que se completam. A fome e a vontade de comer. Dois fanáticos adoradores do sacrossanto equilíbrio orçamental a qualquer preço. Direitos adquiridos, estabilidade de emprego, adequação dos vencimentos ao índice da inflação, equidade e moderação na tributação fiscal,.benefícios sociais, educação, saúde. justiça, Tudo isso que dane. O importante é o orçamentozinho.

Não tenho dúvidas a tal respeito. Se a tendência já apontava nesse sentido, agora, com o fanático economicista a pontificar e a dar o seu aval a um tipo de medidas que lhe são tão gratas, e os poderosos grupos económicos a pressionar no mesmo sentido, bem tramados estão os trabalhadores e as camadas populacionais mais desprotegidas.

Mais do que nunca é necessário que os trabalhadores estejam atentos e unidos em torno das suas organizações de classe. O apertar do cinto, se for necessário ( e os trabalhadores sempre compreenderam e aceitaram restrições que se lhe afigurem justas e justificadas) não pode ser só para eles. È altura de exigirmos – mas exigirmos com muita força e muita determinação – que a factura, de uma vez por todas, seja paga por TODOS , sem excepção, e na medida exacta das suas capacidades financeiras.

Há um determinado senhor que escreve no DN uma crónica com o título “Não há almoços grátis”. Não há, não senhor, sobretudo para os trabalhadores por conta de outrem. Se não estiverem atentos e unidos na luta pelos seus interesses, esta sociedade de lucro fácil e rápido e a qualquer preço, nem água lhes deixa para o café, quanto mais comida para o almoço!
É assim. Nada nos será dado e tirar-nos-ão o que temos, se não estivermos vigilantes firmes e organizados. O tipo de sociedade que à nossa volta se está a criar não existe para nos beneficiar. Como objectivo tem apenas um: o LUCRO.
Estejamos atentos

domingo, janeiro 22, 2006

LUTO POR PORTUGAL



Quem deixou que o Cavaco ganhasse

e mesmo assim, à tangente,
não foi quem votou.
Foram os quase 40% de eleitores
que ficaram em casa.
E foi O Governo PS, que depois de obter uma maioria
absoluta nas últimas eleições, tanto contribuiu para
a apatia política de muitos que o elegeram.
Mas bem feita que vão ter de o gramar, tanto como eu.

sábado, janeiro 21, 2006

A OBJECTIVIDADE DE INFORMAÇÃO NA TV

Como se vê no gráfico abaixo, Mário Soares tinha alguma razão quando se queixava da maior visibilidade de Cavaco nos orgãos de informação relativamente à sua própria candidatura. Indignaram- se estes, quais donzelas ofendidas. Pois aqui está a prova de que a discriminação existiu - ela foi patente em toda a campanha- e o mais prejudicado, a léguas de distância, foi, como sempre, o candidato apoiado pelo PCP.

E já agora, os dados deste mesmo gráfico comentados pr Ruben de Carvalho, no DN de 18-1-2005

Isto é que é objectividade!
Ruben de Carvalho

No seu site www.marktest.pt, a empresa de sondagens divulgou esta semana os resultados do levantamento de noticiários televisivos sobre as presidenciais obtido pela Media-Monitor e pela Telenews.

Os dados são particularmente interessantes, até na medida em que não nos encontramos perante projecções ou amostragens trata-se do inventário puro e duro dos tempos de presença dos diversos candidatos nos noticiários e outros programas informativos dos canais generalistas e de sinal aberto: RTP1 e 2, SIC e TVI.

O facto mais notório é que em qualquer dos critérios utilizados os resultados são sempre os mesmos seja no número de notícias protagonizadas por cada candidato, seja na duração média de cada uma, seja na duração total, Cavaco Silva ocupa sistematicamente a primeira posição e Jerónimo de Sousa a última!

As sínteses da própria Marktest são esclarecedoras "Cavaco Silva protagonizou o maior número de notícias com 55 matérias, Jerónimo de Sousa, com 20 peças, foi o que menos protagonizou"; "Cavaco Silva protagonizou também notícias de maior duração, com um total superior a 2 horas e 56 minutos. Jerónimo de Sousa, pelo contrário, foi protagonista de notícias de menor duração total, cerca de 33 minutos"; "Cavaco Silva protagonizou (...) matérias de duração média mais longa, de 3 minutos e 13 segundos. Pelo contrário, Jerónimo de Sousa protagonizou notícias de duração média mais baixa, com 1 minuto e 38 segundos".

É irresistível ainda fazer a comparação entre os tempos relativos a Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã enquanto o primeiro foi objecto de 20 notícias, Louçã brilhou em 50; enquanto o noticiário sobre o primeiro ocupou 33 minutos, o segundo contou com mais de 2 horas! De uma forma geral, Louçã foi noticiado de forma idêntica a Soares ou Alegre, todos dispondo cada um de cerca do dobro da informação relativamente a Jerónimo.

E para concluir, informa tranquilamente a Marktest "Analisando o período posterior às eleições autárquicas (...) Jerónimo de Sousa é o único que nas últimas três semanas tem assistido a decréscimos progressivos."

Se fossem as televisões a contar os votos, havia de ser bonito...
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Pois, pois, a gente sabe como é.
Estava tudo montado para levar o Cavaco até Belém.
Veremos se, apesar de tudo, o cálculo não lhes sai furado!

sexta-feira, janeiro 20, 2006

DERROTAR CAVACO, apesar de Sócrates

O Diário de Notícias atribui hoje 53 % de intenções de voto em Cavaco Silva, O Público fala em 52.. A coisa anda maiss ou menos por aí, de acordo com o que as pessoas sondadas “quiseram” responder aos inquiridores. A verdade, porém, é que um em cada dez eleitores não sabe ainda a favor de quem irá recair a sua escolha.

Eu não tenho dúvidas (nesse aspecto sou como o Cavaco) e espero que não me engane (uma coisa que ao dito Cavaco, segundo ele diz, nunca acontece) de que até domingo muitos desses indecisos se vão decidir – talvez que alguns só o façam já dentro da cabine de voto, no momento de pôr a cruzinha no boletim e que a balança acabe por pender para a soma das candidaturas de esquerda.

A eleição de uma personagem tão cinzenta, tão tosca, tão insensível como é o Cavaco, para representar Portugal no areópago das nações é tão absurda (eu diria mesmo pornográfica) que me recuso a acreditar que os indecisos de esquerda – e é deles que nestes últimos dias tudo depende, se permitam, por inércia ou falta de visão, deixar que isso aconteça.

Como diz, António José Teixeira no DN de hoje a dúvida destas presidenciais centra-se no sentido de voto do eleitorado que há poucos meses votou em José Sócrates. É ele que vai ou não conduzir Cavaco Silva a Belém já no Domingo.

O diabo é que o próprio Sócrates não está nada interessado em impedir a caminhada de Cavaco para Belém. Senão, como se compreende o anuncio de um aumento duplo da gasolina em vésperas do acto eleitoral?
Quem precisa de inimigos com amigos destes?


Por isso aqui deixo o meu grito de guerra:
Vamos derrotar Cavaco, apesar de Sócrates!

quinta-feira, janeiro 19, 2006

CAVACO E A SABEDORIA POPULAR

Recebi esta brincadeira e não resisto a divulga-la através deste blogue

1) Em Janeiro sobe ao outeiro; se vires verdejar, põe-te a cantar, se vires Cavacar, põe-te a chorar.

2) Quem vai ao mar avia-se em terra; quem vota Cavaco, mais cedo se enterra.

3) Cavaco a rir em Janeiro, é sinal de pouco dinheiro.

4) Quem anda à chuva molha-se; quem vota em Cavaco lixa-se.

5) Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão; parvo que vota em Cavaco, tem cinco anos de aflição.

6) Gaivotas em terra temporal no mar; Cavaco em Belém, o povinho a penar.

7) Há mar e mar, há ir e voltar; vota Cavaco quem se quer afogar.

8) Março, marçagão, manhã de Inverno tarde de Verão; Cavaco, Cavacão, manhã de Inverno tarde de inferno.

9) Burro carregando livros é um doutor; burro carregando o Cavaco é burro mesmo.

10) Peixe não puxa carroça; voto em Cavaco, asneira grossa.

11) Amigo disfarçado, inimigo dobrado; Cavaco empossado, povinho atropelado.

12) A ocasião faz o ladrão, e de Cavaco um aldrabão.

13) Antes só que mal acompanhado, ou com Cavaco ao lado.

14) A fome é o melhor cozinheiro, Cavaco o melhor coveiro.

15) Olhos que não vêm, coração que não sente, mas aturar o Cavaco, não se faz à gente.

16) Boda molhada, boda abençoada; Cavaco eleito, pesadelo perfeito.

17) Casa roubada, trancas na porta; Cavaco eleito, ervas na horta.

18) Com Cavacos e bolos se enganam os tolos.

19) Não há regra sem excepção, nem Cavaco sem confusão.

20) De Boliqueime, nem bom vento nem porra nenhuma.

QUEM TE AVISA...JÁ SABES...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

A QUEDA CONTINUA!


Cavaco, que há 10 dias recolhia 61% das intenções de voto, tem vindo a descer a cada dia que passa, obtendo hoje, segundo a última sondagem apenas 53,2%. Tendo em conta que entre os eleitores hesitantes se contam, principalmente, habituais votantes de esquerda (e com razão, porque muito os tem decepcionado a actuação dos últimos governos) é muito animadora esta tendência descendente do candidato da direita, pois significa que essa tendência pode aumentar se os indecisos se decidirem.

Acordai, pois, ò indecisos!
Mexei-vos, ò comodistas!

Só depende de nós derrotar a direita nestas eleições. Digo a direita e não o Cavaco, porque este (ninguém se iluda com a pose) é apenas um insignificante e descartável instrumento daquela parte da nossa sociedade mortinha por fazer o ajuste de contas com o 25 de Abril. Gente ressabiada e revanchista , que sabe o que quer e, sobretudo, gente que não sabe o que quer e se deixa levar com a conversa do homem providencial – a mesma conversa, afinal, com que tantas vezes fomos tramados ao longo da nossa história.

Não há homens providenciais. Há povos esclarecidos ou menos esclarecidos. Há gente com memória e gente sem memória. É imperioso, no caso presente, que os que têm memória estejam despertos para a importância do próximo acto eleitoral. È que não é apenas um presidente da República que se vai eleger.

Desta vez, muito mais do que isso, é o sancionamento de tudo o que o 25 de Abril instituiu ou a sua rejeição pura simples e o regresso a práticas e concepções que aqueles que têm memória (e é só a esses que me dirijo) não podem de forma alguma aceitar.

A onda que parecia querer avassalar-nos está a querer desfazer-se. Saibamos nós aproveitar o refluxo, votando em massa no dia 22.


Vamos votar!
Vamos derrotar a direita!

Como na Comuna de Paris, digamos para nós mesmos:
Oh, çà ira, çà ira, çà ira!

terça-feira, janeiro 17, 2006

CURTAS

CAVACO PERDE MAIS 2%
NA SONDAGEM DN/TSF

Há que ter esperança. Eu tenho. Muita coisa pode acontecer. Só perde quem desiste.
Se o Cavaco ganhar, a culpa é toda da direcção do PS que andou a jogar às escondidas sem apresentar um candidato credível, deixando a conspiração cavaquista ganhar terreno e ganhar raizes, como o escalracho. Tenho para mim, e já o disse outras vezes, que ao Blairzinho cá do sítio, dava muito jeito que o Cavaco ganhasse. Agora, quase no fim da campanha, lá foi, de muletas, fazer o elogio do candidato por ele lançado tarde e a más horas, mas nem uma palavra se lhe ouviu contra o candidato supostamente adversário. Foi muito digno, muito cavalheiro, muito cool, dizem. Pois foi, mas foi também muito significativo, sobretudo para quem, como eu,
está de pé atrás com esse senhor.

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AS FAMÍLIAS
MAIS RICAS
DE PORTUGAL
***
Pergunta estúpida:
Será que estes pobrezinhos
vão votar no Cavaco?
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AS MULHERES NA CRISTA DA ONDA

No Chile, a candidata socialista Michelle Bachelet derrota o candidato da Sebastian Pinera, da direita (53/% contra 46%) e torna-se a primeira mulher Presidente da República na América do Sul (de todas as Américas, aliás) .
Michelle Bachelet de 56 anos, é pediatra e especialista em saúde pública. Foi ministra da saúde nos governos de Ricardo Lagos, a quem sucede na Presidência da República
É filha de um general da Força Aérea, antigo colaborador do Presidente Salvador Allende, que foi detido e torturado, aquando do golpe de Estado de Pinochet, tendo morrido torturado na prisão.

Na Libéria, outra mulher, Ellen Johnson-Sirleaf, tomou ontem posse como Presidente da República, sendo também a primeira mulher do continente africano a ser eleita tão alto cargo.

domingo, janeiro 15, 2006

CAVACO, NÃO

Tivesse eu a voz mais forte,
Tivesse melhor pulmão,
Passava o dia à janela
A gritar: CAVACO, NÃO!!!

A minha voz levaria
Ao mais remoto rincão
E a toda a gente diria
Por favor, CAVACO, NÃO!!!

Se em vez de um triste blogue
Tivesse a TV à mão,
Eu só faria programas
A dizer CAVACO, NÃO!!!

Pois é, mas eu não sou nada disto e a força dos banqueiros é incomparavelmente maior… E contudo eu estou animado. Durante toda a semana que hoje finda a múmia começou a falar e falando começou a descer. Muito ou pouco, não houve um só dia em que não tivesse descido nas intenções de voto, e estou certo de que essa tendência se vai acentuar à medida que se aproximar a data das eleições.

É preciso acreditar. Vamos derrotar Cavaco.

Aqui em segredo, devo confessar-vos uma coisa: não é bem do Cavaco que tenho medo. Medo tenho, isso sim, dos cavaquistas, dos ultramontanos, dos que continuam a achar que no tempo do “manholas” é que era bom, que foi um mal perdermos as colónias e que o Soares é que teve a culpa, que o sr. Prior acha que o uso do preservativo é pecado, que a interrupção voluntária da gravidez é um crime, e por aí fora. Além dos banqueiros e capitalistas é toda essa tropa fandanga que está interessada (nem sabem bem porquê) na vitória do Cavaco.


Mas nós vamos impedi-la
CAVACO NÃO! CAVACO, NÃO! CAVACO NÃO!

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Flashes

- Soares afirma: A vitória de Cavaco Silva acabará com a demissão de Sócrates.
DN de 12-1-2006
--
Comentário: E isso é mau, ou é bom? Esta afirmação prejudica Cavaco ou constitui um incentivo para que votem nele
Meça as suas palavras, Dr. Mário Soares.
= = =
- Cavaco cai 1,5% na sondagens.
DN de 12-1.2006
--
Comentário: Isto sim. isto é muito bom. Espero que continue a cair 1,5% por dia.
É que, meus amigos, até ao lavar dos cestos é vindima
= = =
Material informático dá direito a redução no IRS.
Esta regalia aplica~se apenas a estudantes e famílias com estudantes a cargo.
DN de 12-1-2006
--
Comentário: Pois é, mais uma vez a terceira idade é esquecida. Então os velhotes, como eu, que encontram na informática alguma qualidade de vida - a única, às vezes, de que dispõem - não têm esse direito, porquê?
= = =
- Relação pode anular casa Pia; No final do julgamento, que decorre há largos meses, se os juizes da Relação considerarem que houve violação do "princípio do Juiz natural", o processo e todo anulado e regressa fase de inquérito.
DN de1 2-5-2006
--
Comentário: Mas há alguem que duvide de que é isso mesmo que vai acontecer? Este processo nunca foi levado à sério, foi semeado de incidente e manobras constantes. Por mim, sempre tive a ideia de que ninguém vai ser condenado

terça-feira, janeiro 10, 2006

Homenagens

Este meu Blogue ameaça transformar-se num verdadeiro obituário. Mas que culpa tenho eu, que sendo velho, tenha amigos velhos e que, pela ordem natural das coisas vai estando na hora de cumprirem uma das regras de todo o ser vivo que é a sua inexorável finitude? O que eu não posso é deixar partir estes velhos Amigos sem uma palavra, sem um, simples que seja, registo da sua passagem.

Quem desprevenido aceder a este blogue vai porventura pensar que os mortos de que tenho falado e que trato como Amigos serão porventura pessoas das minhas relações estreitas relações. São Amigos, porque ao logo de uma vida me admirei a admirá-los, a amá-los, pelo que escreveram pelo que pensaram, pelo que fizeram e, sobretudo, pelo seu carácter.

Até que a minha voz se cale também, falarei de todos os Amigos que se incluírem neste grupo de pessoas. De quem eu não gostar não darei notícia do seu passamento, a menos que fosse para dizer: já não era sem tempo – o que. Convenhamos. Não seria bonito

Vem isto a propósito do falecimento de dois Amigos ocorrido ontem:


Artur Ramos

2o-11-1926 / 9-1-2005

Artur Ramos, é uma personalidade artística que marcou profundamente a vida cultural portuguesa do século XX. Encenador, cineasta, realizador de televisão, ensaísta, tradutor, Artur Ramos, nos seus vários papéis, foi sempre um intelectual, um artista que procurou fazer avançar as coisas, que estudava e se informava, nas difíceis condições da época que lhe coube viver, e encontrou, ainda, tempo para uma actividade de divulgação que, nunca abandonou.

Foi, um pioneiro da televisão, em Portugal, o primeiro realizador efectivo da RTP, a partir logo das emissões experimentais a partir da Feira Popular em 1956. Em toda a sua carreira esteve sempre presente o interesse pela literatura portuguesa contemporânea, , por exemplo, nos seus filmes Pássaros de Asas Cortadas, de Luís Francisco Rebello, ou A Noite e a Madrugada, de Fernando Namora, de quem adaptou também Retalhos da Vida de um Médico, numa famosa série que dirigiu para a RTP, ou na divulgação, que empreendeu com entusiasmo, das obras de Jaime Salazar Sampaio, Teresa Rita Lopes, Augusto Sobral, Luís Francisco Rebello, Romeu Correia, Manuel da Fonseca ou Bernardo Santareno.

Foi, também, um divulgador da dramaturgia moderna, tendo dirigido textos de Beckett (estreia em português de Os Dias Felizes, com Glicínia Quartin), Peter Shaffer, Michael Franders, Alec Coppel, Harold Pinter, John Osborne, Frederic Knott, Kafka, Arthur Miller, Mitkiewicz, Tancred Dorst, Peter Weiss, Rolf Hochhuth, Heiner Kippartt, Jordi Texidor, Brecht, Egon Wolf, etc.
Na Companhia de Teatro de Almada dirigiu Os Retratos, de Julio Mauricio, e O Fim da Enfermeira João, de Franck Markus.

Na sua actividade de realizador de teleteatro, na RTP, dirigiu numerosas peças de autores como Tchecov, Carlos Selvagem, John Milligton Synge, João Pedro de Andrade, Marivaux, Molière, Gervásio Lobato, Gozzi, Garrett, Gil Vicente, Calderón, Thorton Wilder, Oscar Wilde, Lope de Vega, Eugene O’Neill, Cervantes, Bernard Shaw, Mrozeck, Ribeiro Chiado, D. Francisco Manuel de Melo, Eça de Queiroz, Luís de Sttau Monteiro, Alfredo Cortez, Marcel Pagnol, Miguel Rovisco, António Ferreira, entre muitos outros.
A um tempo artista criador e homem de Cultura, Artur Ramos fez sempre questão ide se inserir e de se envolver na sua época e na modernidade. E soube sempre, com exemplar coerência e convicção, assumir uma atitude cívica e política que determinou o seu despedimento da RTP em 1961, acusado pela PIDE de simpatia pelo PCP. Só depois do 25 de Abril voltaria a ser reintegrado

(extracto de um texto editado pela Companhia de Teatro de Almada)


Helena Sá e Costa
26-5-1913/9-1-2005

Com 92 anos faleceu ontem esta insigne pianista e pedagoga que era uma lenda viva na cidade do Porto e uma das mais brilhantes figuras portuguesas, sobretudo no campo da música, de todo o século XX.

Oriunda de uma família de músicos (a sua casa era uma tertúlia musical e cultural por onde passaram alguns dos mais insignes vultos da nossa cultura ao longo de várias, décadas) cedo demonstrou o seu pendor para seguir as pisadas dos seus maiores. Iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Lisboa, mas resolveu alargar os seus conhecimentos tendo ido estudar para Paris e Berlim. Quando regressou foi logo convidada para suceder a Viana da Mota, seu ex-mestre no Conservatório. Mudou-se posteriormente para o Conservatório do Porto, fundado por seu avô, onde foi, por sua vez, mestra de alguns dos pianistas mais conceituados actualmente no nosso país. Interpretou, no país e no estrangeiro, todos os grande nomes da música universal, com especial relevo para Bach, de que se tornou especialista de um nível excepcional

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Curtas

O Diário de Notícias

O diário de notícias apresenta-se hoje com uma nova cara: novo aspecto, nova mancha gráfica, novo arrumo dos artigos, novos colunistas, novas promessas e… novos preços, claro. Ninguém me disse nada, mas ao chegar ao posto de vendas perguntei imediatamente qual o novo preço do DN.
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É assim. Tudo sobe, porque não os jornais? A título de curiosidade lembro-me de, quando era garoto, o meu pai comprar o jornal – este jornal – por 50 centavos (cinco tostões, como então se dizia)
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De qualquer modo, devo dizer que simpatizo com o novo aspecto geral que o velho DN nos mostra hoje. Apenas dois senões: um menos importante é que, quanto a mim, a secção “Agenda” não melhorou com a mudança, antes pelo contrário; o segundo, esse mais gravoso, no meu particular entender, é a manutenção do como colunista do inefável Luís Delgado, tanto mais que ele começa por prometer (ameaçar seria, neste caso, mais exacto), continuar igual a si mesmo, isto é dentro da mesma linha da “Linhas Direitas”, onde tanta baba bolçou ao longo dos últimos nove anos. Promete (ameaça) ainda que o seu novo espaço”nunca será um santuário de isenção e objectividade”. Aqui dou-lhe razão. Está no seu direito de não ser isento. Eu também não sou. Isento, nem sequer no pagamento da taxa moderadora nos Serviços de saúde. Já fui, mas o Governo do senhor Cavaco, retirou-me a isenção.
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Na verdade ninguém tem o direito de ser isento, de ser neutro, nos tempos que correm. As pessoas devem ser o que são e como tal se apresentarem aos outros. Contudo, alinhamento não significa cegueira. O senhor Luís Delgado devia ter sido mais humilde quando os factos demonstraram que ele estava totalmente errado na defesa pertinaz da teoria de que o Governo de Sadam possuía armas de destruição em massa. Ele devia sentir vergonha e pedir desculpa aos seus leitores pelo apoio activo que deu a uma das maiores mistificações de todos os tempos e, sobretudo, da forma quase insultuosa como classificava os que não partilhavam das suas iluminadas certezas (ele e um outro senhor, que dá pelo nome de António Ribeiro Ferreira e que nos, últimos tempos, felizmente, quase desapareceu de circulação). Verdade seja que, mesmo sem formalmente ter pedido desculpa, os seus escritos perderam, malgré tout, muita da virulência que até então os caracterizava.
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Mas deixemos o Luís Delgado, que é um epifenómeno fugaz, um leve grão de pó, num jornal centenário, e passemos ao jornal em si.
O Diário de Notícias é um jornal que me tem acompanhado ao longo da vida. Cresci e envelheci com ele e nele aprendi a transformar em estrelinhas mágicas os sinais gráficos que na escola me iam ensinando. Todos os dias eu soletrava, em voz alta, cada dia com mais desenvoltura e convicção, as notícias que ele veiculava, para dar a conhecer a minha mãe – analfabeta, mas sequiosa de informação como pouca gente que eu tenha conhecido – tudo o que ia acontecendo por esse mundo de deus.
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Lembro-me de uma vez ter lido, para grande alegria e aplauso de minha mãe que “os aliados tinham capturado um comboio de vivêres, destinado à tropas alemãs” e logo o meu pai, no estilo áspero que o caracterizava: não é vivêres, é víveres, meu brutinho. E eu, muito empertigado, não querendo dar o braço a torcer: “Eu acho que é vivêres – coisas que a gente precisa para viver. E tão convencido estava da minha sabedoria que, no dia seguinte, pus a questão ao professor que, com o seu ar bondoso me fez ver que o meu pai tinha razão. Mas foi com estes e outros erros que aprendi a ler correctamente e sobretudo a amar a leitura.
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Tudo isto a propósito da renovação do Diário de Notícias, ao qual desejo que continue, cada vez melhor, o grande jornal de referência a que nos habituou.

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As eleições Presidenciais

Na primeira página do DN, leio a ainda que, de acordo com uma recente sondagem, Cavaco pode ganhar a eleição à primeira volta com 61% de votos.
È uma notícia estarrecedora. Será possível que o povo português tenha perdido a memória a tal ponto, e com ela a vergonha?!!!
Recuso-me a acreditar.
Quero acreditar até ao fim que as sondagens são falíveis e que só nas urnas, depois de contados os votos, se poderá concluir quem ganhou e com que percentagem.

domingo, janeiro 08, 2006




Neste fim de semana mandei formatar o computador. É uma vergonha mas ainda não apreendi a faze-lo sozinho. Agora encontro-me perante uma caixa vazia, um poço sem fundo , um corpo sem alma. Não tomei as necessárias precauções e perdi uma boa parte dos ficheiros, alguns bem antigos, favoritos, livro de endereços e sei lá mais o quê.
Olho para isto tudo como boi para palácio e nem sei porque ponta hei-de começar. Nem sequer tive tempo ou disposição para preparar um texto para o meu blogue.

Não quero contudo deixar passar este dia sem assinalar a data da passagem do 10º aniversário de François Mitterand um dos maiores políticos da minha geração, um grande presidente da República Francesa e uma grande personalidade, tanto como estadista, como homem, na vida pública e na vida privada. Até na doença ele se mostrou grande. Comparado com ele, os actuais políticos da nossa terra e mesmo os da sua terra, são umas tristes e ridículas figuras .

sábado, janeiro 07, 2006

Curtas


As atribuições do Presidente da República

Entrevistado hoje pela TSF, Garcia Pereira produziu afirmações que sem constituírem novidade, são contudo um bom motivo de reflexão: Há anos que o país anda embalado nesta alternância PS/PSD (ora agora viras tu, ora agora viro eu, como se de um corridinho algarvio se tratasse) e a nossa vida vai piorando de cada vez que os parceiros mudam. Está um deles no Governo (não interessa qual porque pouca diferença fazem) o povo está descontente, vem o outro capitaliza esse descontentamento, apregoa que irá fazer o contrário e é eleito; uma vez no poleiro faz exactamente o mesmo ou pior que o seu antecessor; o partido derrotado promete mudar tudo se voltar a ser eleito, promete aumento de vencimentos, redução dos impostos, criação de postos de trabalho, melhorias na educação, na saúde, na justiça, e o povo embarca; chegado ao poder, não há aumentos para ninguém, agrava os impostos, aumenta o custo de vida, e o povo continua alegremente a participar no bailinho, sem reparar que está a ficar sem sapatos para a dança. E não saímos disto.
Claro que o Garcia Pereira só aflorou o tema, pois o estilo da prosa é meu como já devem ter reparado.

Isto é uma coisa que todos sabemos mas a verdade é continuamos distraídos como se não fosse nada connosco. O que o Garcia Pereira introduz de novo nesta história é a seguinte questão: Será que e constitucional mentir ao povo. Isto é constituir um governo na base de uma mentira pública? Não será das atribuições do Presidente da República chamar à pedra um governo que, grosseira e despudoradamente desrespeita as promessas com que aliciou os eleitores e poder mesmo demiti-lo? Garcia Pereira acha que sim.
Eu também.

Política e moral

A questão da participação da empresa espanhola Iberdola na EDP, mais do que preocupante pelo perigo de que, paulatinamente, os centros de decisão sobre os nossos recursos energéticos passem para as mãos do poderoso vizinho (mas essas são as regras do sacrossanto princípio da liberalização económica que quem nos governa tanto aprecia) é, sobretudo, resultado de um acto sumamente imoral. Como é possível que tenha sido pela mão de um ministro português, o sr. Pina Moura que essa empresa tenha entrado na EDP e agora esse mesmo senhor, que é deputado do PS apareça como um dos seus representantes? Isto não brada aos céus?!! Não há vergonha neste País.


A morte de Ilse Losa

Com 92 anos faleceu hoje a escritora Ilse Losa
Muita gente não saberá quem foi. Mas foi uma grande escritora da nossa língua, que a mim me marcou bastante na minha juventude e a de muita gente do meu tempo.
Ilse Lieblich Losa, escritora portuguesa de origem alemã e de ascendência judaica, nasceu a 20 de Março de 1913, em Bauer, uma cidade perto de Hanover.

Em 1930 está em Londres onde toma conta de crianças durante um ano. De regresso à Alemanha e devido à sua condição de judia é perseguida pela Gestapo e tem de abandonar o seu país, refugiando-se em Portugal onde chega em 1934, radicando-se no Porto. Casa com o arquitecto Arménio Losa e adquire a nacionalidade portuguesa.

A sua obra inclui romances, contos, crónicas, trabalhos pedagógicos e literatura para crianças.

Paralelamente à sua actividade de desenvolveu outras ocupações quer no domínio da tradução, quer como colaboradora em jornais e revistas, alemães e portugueses, entre os quais se destacam o Jornal de Notícias, o Comércio do Porto, o Diário de Notícias, Neue Deutsche Literatur, entre outros.

Ilse Losa está também representada em várias antologias de autores portugueses, tendo ela própria colaborado na organização e tradução de antologias de obras portuguesas publicadas na Alemanha. Traduziu do alemão alguns dos mais consagrados autores.

A sua obra
As experiências da nazificação do seu país natal e as dificuldades de adaptação à sua pátria de exílio constituem alguns dos motivos das suas obras, entre as quais se contam:
O Mundo em Que Vivi (1949, volume de estreia), Histórias Quase Esquecidas (1950), Rio Sem Ponte (1952), Aqui Havia Uma Casa (1955), Sob Céus Estranhos (1962), Encontro no Outono (1965), Estas Searas (1984), Caminhos sem Destino (1991) e À Flor do Tempo (1997, Grande Prémio da Crónica de 1998).
Distinguiu-se também como autora de literatura infantil, com os livros A Flor Azul (1955), Na Quinta das Cerejeiras (1984, Prémio Calouste Gulbenkian), A Visita do Padrinho (1989) e Faísca Conta a Sua História (1994).
Escreveu ainda uma obra de crónicas de viagem, Ida e Volta — À Procura de Babbitt (1959).

Aqui lhe presto a minha homenagem

terça-feira, janeiro 03, 2006

Curtas


Uma notícia boa

António Mega Ferreira foi nomeado presidente do Centro Cultural de Belém (CCB)

Considero esta nomeação uma óptima notícia no aspecto da cultura, pois Mega Ferreira é um homem culto, empreendedor, eficiente, com provas dadas em várias missões que lhe tem sido confiadas
Mega Ferreira, 56 anos, começou como jornalista no "Comércio do Funchal", em 1968, tendo trabalhado depois no "Jornal Novo", "Expresso", ANOP e RTP e "Jornal Letras, Artes e Ideias". De 1986 a
1988 foi director editorial do Círculo de Leitores, onde fundou a revista "Ler".Ainda em 1988 passou a integrar a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, tendo fundado então a revista "Oceanos". Exerceu funções de comissário executivo da Expo 98, foi administrador do Parque Expo, do Oceanário de Lisboa e do Pavilhão Atlântico.Mega Ferreira presidiu ainda ao conselho de administração da Parque Expo de 1999 a 2002 e dirigiu a representação de Portugal como país-tema da feira do livro de Frankfurt em 1997.Cronista regular em vários títulos da imprensa portuguesa, Mega Ferreira estreou-se na literatura em 1984, tendo assinado várias obras de ficção, ensaio e poesia.

A cultura portuguesa está de parabéns

Uma notícia má

Faleceu es
ta madrugada o jornalista Cáceres Monteiro.

Tal como Mega Ferreira Cáceres Monteiro era um jornalista de eleição.

Director da revista “Visão” desde a sua fundação até ao ano passado, Cáceres Monteiro desempenhava actualmente o cargo de director editorial do grupo Edimpresa, proprietário da revista “Visão”.Galardoado com o Grande Prémio de Jornalismo (2002), atribuído pelo Clube Português de Imprensa, Cáceres Monteiro escreveu vários livros, entre os quais “Hotel Babilónia”, lançado em Junho de 2004.Nascido em Lisboa a 9 de Agosto de 1948, Cáceres Monteiro foi dirigente associativo da Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, tendo abandonado o curso para dedicar-se ao Jornalismo.No início da sua carreira, trabalhou nas revistas “Flama” e “Século Ilustrado”, tendo sido mais tarde subchefe de redacção no jornal “A Capital” e editor de política nacional no “Diário de Notícias”.Co-fundador de “O Jornal”, em 1975, assumiu o cargo de seu director adjunto. Entre 1975 e 2003, cobriu, entre outros acontecimentos, as guerras do Golfo e do Iraque e o conflito israelo-palestiniano.Entre 1977 e 1981, Cáceres Monteiro foi também presidente do Sindicato dos Jornalistas. Entre os livros que escreveu, destacam-se ainda: “Angola, País de Vida ou de Morte” (1975), ”China, Contra-revolução. Tranquila” (1986), “Amazónia Proibida” (1987) e “O Enviado Especial” (1991

Já são tão poucos os bons jornalistas que o falecimento de um deles constitui sempre uma péssima notícia

Uma notícia preocupante

Falo do corte do fornecimento de gás à Ucrânia por parte da empresa russa Gazprom. Esta empresa é uma das mais poderosas produtoras e fornecedoras, quer de gás quer de petróleo do mundo. É ela que fornece também grande quantidade do gás consumido em vários países da Europa: Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Polónia, por exemplo.

Compreende-se, pois, a preocupação destes países com a atitude da poderosa empresa de além dos Urais. E compreende-se também a luta de interesses à volta destes dois produtos energéticos que têm condicionado ao longo das últimas décadas toda a política das grandes potências em relação à zona onde eles são especialmente produzidos: médio oriente e antigas repúblicas soviéticas.
A agudização de problemas nesta área explosiva pode dar origem à medida que forem escasseando estes produtos a uma guerra de morte pela sua posse.

Estou certo que o Governo russo apoia a atitude da Gazprom, mas a verdade é que esta é uma empresa privada (embora com capitais do Estado) e ela sozinha pode tomar as medidas que bem entender sobre o assunto. È o liberalismo, senhores! É por isso de lamentar a inconsciência com que o nosso governo alinha alegremente na política de privatização de empresas como a EDP e mesmo no seu conúbio com capitais estrangeiros. Hoje mesmo o Presidente da República manifestou (embora tardiamente) a sua apreensão relativamente a tais práticas.

Uma notícia idiota

Uma pequena notícia publicada hoje no Diário de Notícias tem como título: ”Carris compra 15 locomotivas”

A primeira reacção de qualquer leitor minimamente infirmado é interrogar-se: Carris, mas a Carris utiliza locomotivas? A notícia a seguir esclarece, porém, que se trata da CP. Então e o escriba que redigiu a notícia ignora que Carris e CP são duas empresas distintas, que nada tê ver uma com a outra?

Poder-se ia admitir que o uso da palavra carris correspondesse a uma propositada figura de estilo que consiste no emprego da parte pelo todo, mas nem assim faria sentido, pois o escriba ignora que os carris não pertencem à CP, mas sim a uma outra empresa chamada REFER.

Pois é. Os patrões dos jornais trocaram os grandes jornalistas por estes tarefeiros ignaros e o resultado vê-se. É asneira que ferve!

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Ano novo, vida cara

Como se esperava o primeiro dia do ano começou com a entrada em vigor de um já anunciado aumento do custo de determinados produtos e serviços.

Assim, para já, para já, temos:

Títulos de transporte:……………………………........... 2,3%
Portagens da Brisa …………………………….............. 2,8%
Portagens na pontes 25 de Abril e Vasco da Gama 5,0%
Electricidade……………………………................ 1,2% a 2,3%
Gasolina ……………………………………….................... 3,7%
Rendas de casa …………………………………............... 2,1%
Imposto automóvel …………………………….............. 2,3%
IMT (antiga Sisa) ……………………………….............. 4,37%
Tabaco ………………………………………….................... 15,%


A estes outros se seguirão, quer por decisão governamental (taxas de saúde, por exemplo) quer por arrastamento (toda a gama de produtos de consumo diário que os comerciantes não vão deixar de aproveitar)

Por outro lado, temos o aumento de salários de 1,5% previsto para a função pública ( que o governo recomenda não seja excedido pelas empresas privadas), e que representa uma perda de 8% do poder de compra;

O aumento de apenas 3% no salário mínimo – o que significa um aumento de apenas o,7% em relação à inflação;

A redução de benefícios fiscais por parte dos reformados,

Tudo junto, dá uma ideia dos problemas porque vão passar as classes menos favorecidas da sociedade portuguesa – ou seja a sua grande maioria.

Todos os anos é assim e as condições de crise que atravessamos podem justificar que este ano os sacrifícios que nos são pedidos sejam particularmente severos. Muito bem.

Tudo estaria certo se a gente visse que os sacrifícios que nos são pedidos atingissem, na mesma proporção (Eu diria mais: numa maior proporção) os elementos mais favorecidos da sociedade a que pertencemos.

É isto um lugar comum?
É. Mas vale a pena repeti-lo e eu repeti-lo-ei, até à exaustão, até que deixe de o ser.

Porque não seguem os nossos governantes a iniciativa de Evo Morales, o recém-eleitoPresidente da Bolívia que já prometeu abdicar de 50% do vencimento que lhe cabe pelo exercício das suas funções?

É demagogia? É populismo barato?
Será. Mas atitudes como esta ajudam os mais sacrificados a aceitar com mais resignação os sacrifícios que, por norma, é sempre sobre os seus combros que mais pesadamente recaem.

Escrevendo, como escrevo, para a gaveta – que é de facto o que este blogue significa – gaveta que permito, no entanto, que outros espreitem, eu posso perfeitamente dar-me ao luxo de me estar nas tintas para o “politicamente correcto” – postura que decididamente rejeito – e dizer o que dá na gana.

E o que me dá na gana, hoje, é dizer que é tempo de não ser só o mexilhão a lixar-se quando o mar bate na rocha.