ENQUANTO E NAO

terça-feira, novembro 06, 2007

CONFISSÔES DE UM MERCENÁRIO ECONÓMICO



AQUI ESTÁ MAIS UM LIVRO QUE VALE A PENA LER
E que vivamente aconselho


Os fãs de John Grisham ou John Le Carré estão bem familiarizados com a figura do mercenário, um assassino a soldo de um governo ou de uma organização criminosa e que tem por missão «apagar» figuras política ou ideologicamente incómodas.

Mas quem já ouviu falar de um mercenário económico? Muito pouca gente,

certamente Porque, ao contrário dos assassinos contratados saídos das paginas de thrillers, os mercenários económicos são reais - e mantidos no mais completo sigilo. São profissionais altamente treinados - formados nas melhores escolas de Gestão e Economia e recrutados das principais empresas de consultoria - que trabalham para a CIA ou para multinacionais, influenciando ou ameaçando governos de países em vias de desenvolvimento para favorecer a politica económica dos EUA e atribuir lucrativos contratos governamentais a empresas americanas.

John Perkins sabe tudo acerca deles porque foi um deles - durante mais de uma década. A sua missão consistia em levar os governos de países em vias de desenvolvimento a pedir empréstimos ao Banco Mundial ou ao FMI - empréstimos que não podiam pagar - para desenvolver infra-estruturas essenciais. Esse dinheiro era posteriormente investido em contratos com empresas americanas e os empréstimos tinham de ser pagos pelos contribuintes do país devedor. Quando o país não conseguia pagar o empréstimo, ficava à mercê das regulamentações do Banco Mundial - e dos seus agentes americanos. Esta era, segundo Perkins, uma maneira de os EUA expandirem o seu «império» e enriquecerem à custa de países do Terceiro Mundo.

Só para adoçar a boca, aqui fica uma pequena capassagem de um dos capítulos. Lê-se como um romance. Negro, bem negro.

RASPAR O VERNIZ

Em 2003, pouco depois de ter regressado do Equador, os Estados Unidos invadiram o Iraque pela segunda vez em pouco mais de uma década. Os ME tinham falhado. Os chacais tinham falhado. Por isso, acabaram por ser enviados para o Iraque homens mulheres jovens para matar e morrer nas areias do deserto. Uma questão importante que a invasão levantou, e que me parecia que a maioria dos cidadãos norte-americanos não estava em posição de considerar, era o possível significado desta invasão para a Casa Real de Saud. Se os Estados Unidos tomassem o Iraque, país que, de acordo com muitas estimativas, possui mais petróleo do que a Arábia Saudita, deixaria aparentemente de haver necessidade de continuarmos a honrar o pacto feito com a família real saudita na década de 70, o tal negócio que dera origem ao caso da lavagem de dinheiro da Arábia Saudita.

O fim de Saddam tal como o fim de Noriega no Panamá, alteraria a equação. No caso do Panamá, depois determos reinstalado os nossos fantoches, retomámos o controlo do Canal independentemente de isso contrariar o tratado que Torrijos e Cárter tinham negociado. Quando controlássemos o Iraque, poderíamos dividir a OPEP? Tornar-se-ia a família real saudita irrelevante na arena da política do petróleo? Alguns analistas estavam já a questionar-se sobre a razão que levara Bush a atacar o Iraque, em vez de canalizar todos os nossos recursos para a perseguição da Al-Qaeda no Afeganistão.

Seria possível que do ponto de vista desta Administração - desta família do petróleo - garantir fornecimentos de petróleo e justificações para a realização de contratos de construção era mais importante do que combater terroristas?

Havia porém outra opção plausível: a OPEP poderia tentar reafirmar-se. Se os Estados Unidos tomassem o controlo do Iraque, os outros países ricos em petróleo poderiam ter pouco a perder se subissem os preços do crude e/ou se reduzissem os seus fornecimentos. Esta possibilidade condizia ainda com outro cenário, um cenário com implicações que provavelmente ocorreriam a poucas pessoas que não fizessem parte do mundo da alta finança internacional, mas que poderiam afectar o equilíbrio geopolítico e, em última instância, destruir o sistema que a dolarcracia tinha trabalhado tão afincadamente para construir. Poderia, na verdade, revelar-se o único factor capaz de provocar a autodestruição do primeiro império verdadeiramente global.

No fim de contas, o império global depende em grande medida de o dólar funcionar como _divjsa-padrão do mundo, e de a Casa da Moeda norte-americana ter o direito de imprimir dólares. É assim que fazemos empréstimos a países como o Equador, sabendo perfeitamente de antemão que nunca nos poderão pagar; na verdade, não queremos que eles honrem as mas suas dívidas, uma vez que é a falta de pagamento que nos concede a nossa força e poderio. Em condições normais, correríamos o risco de dizimar os nossos próprios fundos; afinal, nenhum credor pode dar-se ao luxo de ter demasiados empréstimos por cobrar. No entanto, nós não nos encontramos em circunstâncias normais. Os Estados Unidos imprimem dinheiro que não é suportado pelo ouro. Na realidade, é suportado apenas pela confiança que o Mundo tem na nossa economia e na nossa capacidade de manobrar as forças nos recursos do império que criámos.

A possibilidade de imprimir dinheiro dá-nos imenso poder. Significa, entre outras coisas, que podemos continuar a conceder empréstimos que nunca serão pagos, e que nós próprios também podemos continuar a acumular dívidas gigantescas. No início de 2003, a dívida nacional dos Estados Unidos excedia o extraordinário valor de 6 biliões de dólares e projectava-se que atingisse os 7 biliões de dólares antes do final do ano, correspondendo a cerca de 24 000 dólares por cada cidadão norte-americano. A maior parte desta dívida está circunscrita aos países asiáticos, especialmente ao Japão e à China, que adquirem obrigações do Tesouro dos EUA (essencialmente, notas de dívida) com fundos acumulados na venda de bens de consumo - incluindo aparelhos electrónicos, computadores, automóveis, electrodomésticos e vestuário - aos Estados Unidos e ao mercado mundial.

Enquanto o mundo aceitar o dólar como divisa-padrão , esta dívida excessiva não levanta obstáculos sérios à dólarcracia e no entanto, se surgisse outra divisa para substituir o dólar,,e se alguns dos credores dos Estados Unidos (o Japão ou a China, por exemplo) decidissem solicitar o pagamento das suas dívidas, a situação poderia alterar-se drasticamente. Subitamente, os Estados Unidos encontrar-se-iam numa situação muito precária.

Actualmente, a existência dessa divisa já não é hipotética; o euro entrou na cena financeira internacional a 1 de Janeiro de 2002 e está a crescer em prestígio e poder a cada mês que passa. A nova moeda oferece uma oportunidade pouco habitual à OPEP, caso a organização opte por retaliar devido à invasão do Iraque, ou se por qualquer outra razão escolher usar a sua força contra os Estados Unidos.

Se a OPEP decidisse substituir o dólar pelo euro como divisa-padrão, império sofreria alguns abalos em muitos dos seus alicerces. Se isso acontecesse, e se um ou dois grandes credores exigissem que pagássemos as nossas dívidas em euros, impacto seria enorme.

Eram questões como estas que andavam às voltas na minha cabeça na manhã de Sexta-Feira Santa de 18 de Abril de 2003, ao fazer a pé a curta distância entre a minha casa e a garagem, onde tenho o meu escritório, ao sentar-me à secretária, ligar o computador e, como habitualmente, entrar no sítio da Internet do New York Times. A manchete prendeu-me logo a atenção e levou-me imediatamente para longe dos meus pensamentos sobre as novas realidades da finança internacional, da dívida nacional e do euro, fazendo-me regressar à minha antiga profissão: «EUA Atribuem à Bechtel Grande Contrato para a Reconstrução do Iraque».

O artigo afirmava: «A Administração Bush atribuiu hoje ao Grupo Bechtel, sediado em São Francisco, o primeiro grande contrato de um vasto plano de reconstrução do Iraque.» Mais abaixo, na mesma página, o autor informava os leitores de que «os Iraquianos trabalharão com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, instituições estas sobre as quais os Estados Unidos exercem uma influência abrangente, para estruturar o país»

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