ENQUANTO E NAO

terça-feira, março 18, 2008

Morreu António Melenas


Foi no passado dia 16 de Março, pelas 22 horas, que faleceu António Joaquim Gouveia, vítima de Macroglobulinemia de Waldenström (no sangue). Decorreu hoje - dia 18 - o funeral, no cemitério do Feijó, concelho de Almada, com a presença dos familiares e amigos mais chegados.

Passo por este meio a mensagem a todos os cibernautas que com ele contactaram nos últimos anos, partilhando duas das suas grandes paixões: a escrita e os computadores. Para todos vós que visitam este blogue o nome era António Melenas, pseudónimo baseado no apelido da sua mãe, e durante dois anos foi este tal Melenas que deliciou inúmeros curiosos da blogosfera que por cá passaram, com estórias e relatos de uma vida fascinante.

Já está online a homenagem realizada pelo seu grande amigo Luís Gaspar, no site de podcast "Estúdio Raposa":

http://www.estudioraposa.com/index.php/18/03/2008/lugar-086-antonio-melenas/

Em breve publicarei no blogue "Escritos Outonais" a edição póstuma das restantes partes de "O Tempo das Hienas", texto sobre a experiência do meu avô na prisão que já há muito ele havia escrito e guardado para que eu só o lesse na idade adulta.
Poderão enviar mensagens para os blogues "Enquanto e Não" e "Escritos Outonais", que eu estarei por cá para receber, responder e recordar o meu avô e meu amigo, que muitas histórias partilhou comigo.

Beijos e Abraços do neto,
João Gouveia

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

ENSINO, O MAIOR EMBUSTE DESDE A 1ª REPÙBLICA


Chegou-me às mão este texto.

Não resisto a dar o meu contributo para a sua divulgação.
A avaliação dos rofessores, nos moldes em que a a senhora Ministra e o Senhor Sócrates, querem fazer impô-la é, na verdade, um verdadeiro embuste.
Há que o desmascarar por todos os meios


O ministério dito da "Educação" está a resvalar para a maior fraude no ensino desde a 1ª. República. Refiro-me ao novo modelo de avaliação do desempenho dos professores. Como é que foi possível caber nas cabeças iluminadas dos nossos (des)governantes que a qualidade do ensino melhoraria se os professores fossem avaliados pelas notas que dão aos alunos? Isto é uma autêntica perversão. Os professores não rejeitam a sua avaliação, desde que ela seja ponderada, justa, exequível e fundamentada, respeitadora de critérios éticos. Os professores não querem violentar as suas consciências, sentindo-se coagidos a dar notas positivas aos alunos que as não merecerem. É que, se o não fizerem, a espada de Dâmocles cairá sobre as suas cabeças, pois verão comprometida a progressão na carreira. O Sr. Presidente da República não vê ao que poderá conduzir uma medida destas? Desta forma teremos futuramente fartura de engenheiros, por exemplo, todos com um diploma inquestionável. Resta saber com que conhecimentos!!! Entretanto, ter-se-á contribuído positivamente para as famosas e imprescindíveis estatísticas com um facilitismo tacitamente instituído. O nosso Governo não pode mostrar à Europa que os alunos têm um insucesso tão grande em Portugal. Com tanta cimeira de sucesso!!! Obviamente que só pode haver um responsável: a classe docente. Como se o atraso secular de um país se pudesse inverter numa geração! Como se a sociedade que temos não fosse a geradora das incapacidades que os nossos alunos demonstram cada vez mais nas nossas escolas. Não que sejam menos inteligentes que os dos outros países europeus. O problema radica num sistema de contravalores que a sociedade difunde como valores. Se não, vejamos: onde está o reconhecimento do mérito pelo trabalho dedicado, esforçado? O que as nossas televisões transmitem, como paradigma para a nossa juventude, é o “desenrascanço” fácil, o confronto com o professor que, nalguns casos é representado como um “totó” completamente paranóico e desajustado da realidade, servindo de chacota aos alunos. Bonito exemplo que dão à sociedade! E que nobres valores transmitem! Desta forma, que belo incentivo à falta de educação, indisciplina e ausência de civismo (ou cidadania, como agora se diz!). Não é o que demonstram tantos e tantos jovens, actualmente, nas nossas escolas? Alguém já se escandaliza com as agressões físicas e verbais de que os professores são vítimas por parte de alguns alunos, e por vezes dos próprios pais? Seria interessante mostrar ao país o que se passa dentro de muitas salas de aula, onde os alunos se divertem a humilhar os professores, numa atitude irresponsável que faria corar de vergonha os seus avós. Já não digo os pais, porque não tenho a certeza de que tivessem essa reacção. É que os professores têm vindo a ser postos de joelhos, principalmente por este governo, e passaram a ser motivo de chacota. Não sei a quem esta vulgaridade aproveitará, mas não será sem dúvida aos nossos alunos. A escola deve ser uma transmissora de valores e de regras de conduta social, mas está a tornar-se num sítio onde uma classe de angustiados tem de descobrir como há-de ensinar alguma coisa aos filhos de outros cidadãos que não parecem ter consciência do que se passa. E muito menos com uma campanha de difamação da classe docente. Como poderemos ter criatividade, amor è profissão, espírito de missão, sendo tratados desta maneira?
Para além disso, o sistema de ensino que temos, remendado por tantas reformas e reformas das reformas, tornou-se numa verdadeira manta de retalhos, com lacunas a todos os níveis. Tem-se pretendido facilitar o ensino para gerar um sucesso que nunca será mais do que um embuste. O pior é que todos perdemos com isso, pois os nossos jovens saem cada vez menos preparados para enfrentar a competitividade que o mercado de trabalho exige. Este Governo (com este Ministério dito da Educação) só está a meter a cabeça na areia. Porque é óbvio que não se pode forçar o conhecimento: este tem de ser adquirido com esforço e participação. Infelizmente, a mensagem que passa não é essa: o que importa, para os nossos iluminados dirigentes da Educação, é que os alunos frequentem a escola, vão às aulas. Não importa o que lá se faz ou se não deixa fazer a quem deseja apenas cumprir a sua obrigação.
As novas medidas do Ministério, tendo como corolário este novo e maquiavélico processo de "avaliação do desempenho" dos professores, que mais não é do que uma forma encapotada de perseguição à classe docente, farão com que muitos professores, sentindo em perigo a sua carreira profissional, se vejam obrigados, repito, a dar positivas a quem as não merece. Isto, para além de escandaloso, é ridículo e imoral. Outro tanto se passa com as chamadas "NOVAS OPORTUNIDADES" — outra panaceia. Com este rótulo pomposo, pretende-se certificar "competências", sem ter em conta os conteúdos. Aos “alunos” bastará demonstrarem “competências”, mesmo que não dominem nenhum conhecimento escolar em concreto. Ao que nós chegámos! Desta maneira, passaremos de um país com elevado nível de iliteracia a um país de superdotados. E com esta visão messiânica, temos um processo que mais não é do que uma panóplia salvadora para as nossas estatísticas. Mais uma vez as estatísticas! Será que O PAÍS NÃO VÊ QUE O REI VAI NU? O nosso governo está a promover a incompetência ao estatuto de missão patriótica! E a forçar a classe docente a participar nesta mentira, sob pena de ver comprometidos alguns dos seus objectivos, os tais que passam a contribuir para a dita “progressão na carreira”! Dá vontade de dizer: “Tirem-me deste filme!”, à semelhança do que dirão muitos dos nossos jovens, a propósito do novo contexto tão sabiamente criado: “Eh pá, tás a ver a cena? Bué da louca! Fixe, meu, agora é que está a dar! Tu até nem precisas de ir às aulas. Os mangas dos setôres têm que nos dar positiva, para não terem problemas. Baril!”
Estas medidas do nosso Ministério parecem ter saído de um concurso de anedotas!
Mas, se o lúdico acaba forçosamente, mais cedo ou mais tarde, por desembocar no risível, já o mesmo se não pode dizer das ameaças veladas, encapotadas, disfarçadas deste novo iluminismo político, cavalgando um espírito de cruzada de falsos cavaleiros da Távola Redonda, que brandem cem cessar a espada “Excalibur” sobre as cabeças pensantes dos professores que ousem tornar-se rebeldes, isto é, “discordantes”. Processos inovadores? Nem por isso. Isto, afinal, não passa de um “déjà vu”. A perseguição, a admoestação, a criação de um clima de insegurança e medo já eram utilizados pelos esbirros do anterior regime. Mas esses ao menos não se diziam de esquerda!!!

José Colaço – Prof. Efectivo na Escola Secundária de Cascais

23/02/2008

sábado, janeiro 26, 2008

ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS

Um filme com este mesmo título estreia-se na próxima semana nos cinemas do nosso país. Não sei se o filme é tão bom como o livro. A maior parte das vezes não é, Mas este,com a chancela dos irmãos Cohen é, certamente, tão bom, ou melhor.
Aconselho vivamente a leitura do livro e o visionamento do filme.
É uma história terrível sobre uma sociedade terrível. um mundo asfixiante, impiedoso, cruel.
Trata-se de uma caricatura, é certo. Mas a realidade não anda muito distante. Esta é a civilização ocidental e cristã de que tanto nos orgulhamos e queremos impor aos outros

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A história desenvolve-se no final dos anos setenta, na fronteira do Texas com o México, onde ladrões de gado deram lugar a traficantes de droga e pequenas cidades são agora zonas abertas de combate.

Llewelyn Moss encontra uma carrinha cheia de cadáveres, um carregamento de heroína e dois milhões de dólares no banco traseiro. Ao apoderar--se do dinheiro, dá início a uma cadeia de reacções de violência catastrófica que nem a lei pode controlar.

Com temas tão antigos como a Bíblia e tão sangrentos como os títulos dos jornais actuais, No Countryfor Old Men é uma obra de enorme originalidade.

«Profundamente perturbadora... A mais acessível de todas as suas obras.»
The Washington Post

«Fascinante... Um drama pungente e intenso, rompendo cada cenário assustador e violento com uma economia e precisão cinematográficas.»
The New York Times

«Cormac McCarthy consegue resultados monumentais a partir de um processo lento de simplicidade implacável. Este livro deixá-lo-á sem fôlego e aterrado.»
Sam Shepard

«Nenhum resumo lhe fará justiça e o mistério é o suficiente para deixar o leitor ofegante... Cormac McCarthy explora temas como a culpa e a responsabilidade, o amor e a ambiguidade moral, e o modo como a memória nos constrói.»
Si. Petersburg Times

«Tão forte e violento como toda a sua obra... É um génio na construção do enredo e somos levados pelo puro domínio da forma.»
The Denver Post


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Cada capítulo é antecedido de um preâmbulo, em itálico, que não tem a ver directamente com o desenvolvimento da trama, onde um xerife de um remoto condado dos EUA, à beira da reforma tece considerações sobre a sua vida, a sua profissão e o mundo que o cerca
Ofereço-vos um desses solilóquios, que abre o capítulo XII. Dá uma ideia do espírito da obra.
Vale a pena ler.


XII

Acordo a Loretta só por estar acordado na cama. Estou ali deitado e ela diz o meu nome em voz alta. Como que a perguntar-me se estou mesmo ali. As vezes vou à cozinha e trago-lhe um ginger ale e ficamos os dois sentados no escuro. Quem me dera ser capaz de encarar as coisas com a descontracção dela. O que vi do mundo não fez de mim uma pessoa cheia de espiritualidade. Ao contrário dela. Ela aflige-se comigo, além do mais. Eu bem vejo. Sendo mais velho e o homem do casal, achei que ela é que ia aprender comigo, e foi isso que aconteceu, em muitos aspectos. Mas sei perfeitamente qual de nós está em dívida para com o outro.

Acho que sei para onde é que estamos a caminhar. Estamos a ser comprados com o nosso próprio dinheiro. E não são só as drogas. Há gente a acumular fortunas de cuja existência ninguém sonha sequer. O que é que as pessoas julgam que vai resultar de todo este dinheiro? Dinheiro capaz de comprar países inteiros. Já aconteceu. E este país? Alguém conseguirá comprá-lo? Não me parece. Mas o dinheiro vai fazer com que tenhamos dares e tomares com pessoas muito pouco recomendáveis. Nem sequer é um problema de ordem pública. Duvido que alguma vez tenha sido. Sempre houve drogas. Mas as pessoas não acordam de manhã e decidem drogar-se sem motivo. Aos milhões. Não tenho resposta para isto. Sobretudo, não tenho uma resposta que me dê ânimo. Aqui há uns tempos, disse a uma jornalista — uma rapariga nova, parecia bastante simpática. Ela estava só a tentar fazer o seu papel de jornalista. Perguntou-me assim: Xerife, como é possível ter permitido que a criminalidade atingisse estas proporções no seu condado? Cá a mim pareceu--me uma pergunta pertinente. Se calhar era mesmo uma pergunta pertinente. Seja como for, respondi-lhe assim: Tudo começa quando deixamos de ligar importância às boas maneiras. Quando deixamos de ouvir as pessoas a tratar-se por Meu senhor e Minha senhora, é porque o fim já está bem próximo. E depois disse-lhe assim: Isto afecta todas as classes sociais. Já ouviu dizer isto, ou não? Todas as classes sociais? Acaba por se cair no género de degradação da ética mercantil em que começam a aparecer pessoas mortas no meio do deserto, sentadas dentro dos carros, e nessa altura já é tarde de mais.

Ela olhou para mim com uma cara assim a modos que esquisita. E então eu disse-lhe uma última coisa, e se calhar tinha feito melhor em estar calado, disse-lhe que ninguém consegue fazer negócios de droga sem haver drogados. E muitos drogados andam bem vestidos e têm empregos com grandes salários. E disse-lhe: Você é bem capaz de até conhecer alguns.

A outra coisa são os velhos, e eu não consigo deixar de pensar neles. Olham para mim e vejo-lhes sempre uma pergunta estampada no rosto. Não me recordo de as coisas serem assim há uns anos. Não me lembro de ser assim quando eu era xerife nos anos cinquenta. Olhamos para eles e nem sequer têm um ar confuso. Parecem enlouquecidos, nem mais. Isto incomoda-me. Ficamos com a impressão de que eles acordaram e não sabem como é que vieram parar ao lugar onde estão. Bom, num certo sentido não sabem.

Esta noite, ao jantar, ela disse-me que esteve a ler São João. O Apocalipse. Sempre que eu me ponho a falar do estado do mundo ela desencanta qualquer coisa na Bíblia, por isso perguntei-lhe se o Apocalipse dizia alguma coisa sobre o rumo que o mundo está a tomar e ela disse que depois me dizia. Perguntei-lhe se lá falava em cabelos verdes e ossos no nariz e ela disse que não, pelo menos assim de maneira tão explícita. Não sei se isto é bom sinal ou não. Então ela veio por trás da minha cadeira e abraçou-me o pescoço e mordeu-me a orelha. Ainda é uma rapariguinha, em muitos aspectos. Se eu não a tivesse junto de mim, não sei o que teria de meu. Bom, até sei. E não era precisa uma caixa para o guardar, garanto-vos.

terça-feira, janeiro 08, 2008

PNEUNONIA

A TODOS OS AMIGOS/AS QUE ME VISITARAM NOS ÚLTIMOS DIAS,
PELO MENOS DESDE 26 DE DEZEMBRO,E ME EXPRESSARAM VOTOS DE BOM ANO NOVO,PEÇO ME SEJA RELEVADO O MEU SILÊNCIO,
POIS O MESMO SE DEVE A, DESDE ESSA DATA, ESTAR SOFRENDO DE SEVERA PNEUMONIA , CUJOS EFEITOS NÃO ME TÊM PERMITIDO ACEDER AO COMPUTADOR.
A TODOS OS MEUS AGRADECIMENTOS

quarta-feira, dezembro 26, 2007

A ESCADA DE JACOB (mais bordoadas de B.Bastos)


Para quem não compra ou não lê o DN, aqui deixo mais uma desassombrada crónica de Baptista- Bastos,que, com a devida vénia, transcrevo da edição de hoje daquele jornal.
Os sublinhados são da minha responsabilidade.

A ESCADA DE JACOB


Baptista-Bastos

O ano que fecha portas foi muito mau. Graves economistas declaram a pés juntos que o próximo será pior. Os adventistas de Sócrates pregam que vivemos no melhor dos mundos. E a maioria de nós esforça-se por amarinhar pela escada de Jacob, na melancólica fé de que chegará lá acima - local incerto e abstracto. O varar do tempo amarrota toda a gente; mas há gente muito mais amarrotada do que outra. E o pior é a alma que se dissolve, a esperança agredida, o sonho desfeito. A televisão formou a ideia de que tudo o que é importante é imediato. Num roldão, deixámos de nos reconhecer e, numa bizarra mistura de serenidade e de impaciência, aceitamos as imposições de uma casta difícil de definir - a não ser por uma notória mediocridade.

"O triste povo, de rosto taciturno e alma acabrunhada", designado por Unamuno, desfez a fatalidade predominante, quando se insurgiu contra o opressor. Veio para a rua e ergueu 1383, 1640, 1820, 1910, 1974. O festim durou pouco. A liberdade não tem consequências simples. Exige respostas práticas e decisões amplas. E assistiu-se à desintegração da coesão social, em nome de uma Europa, cujos propagandistas proclamavam o contrário. Um pouco por todo o lado, a democracia é seriamente abalada. Em Portugal, já apenas se manifestam resquícios dela. O que se sobreleva são o medo, a precariedade no trabalho, o desemprego, e a imposição de que o nexo entre o social e o político pertence a dois blocos de interesses: ao PS e ao PSD. Desvalorizada a ideia de bem comum, exacerbou-se os interesses particulares e inculcou-se sorrateiramente o pensamento de que nada há a fazer. Claro que há!

"Mostra-me o teu talento; não me mostres o cartão do partido", disse Brecht, a um actor que lhe apareceu no Berliner Ensemble, resguardado com o facto de ser militante comunista. E correu com o apadrinhado. A lição não perdura. Estabelecida a vocação da "cunha" partidária, o instinto de independência moral provoca indiferença e, até, hostilidade. A inteligência, o mérito, a integridade e a habilitação são castigados como delitos. O que se observa, nos tristes casos da BCP e da Caixa Geral de Depósitos, com a disputa da pertença circunscrita aos assim chamados "partidos de poder", reflecte o mais atroz impudor. As exclusões permitem-nos concluir que o PS e o PSD perderam o respeito pelos portugueses e a dimensão colectiva que se lhes exige. Aliás, o projecto inscrito na exigência de um mínimo de cinco mil militantes por partido e a revelação dos seus nomes é desprezível, por equivaler a uma estratégia de poder absoluto do "centrão". É preciso conciliar os vínculos morais com os traços distintivos das nossas indignações.

escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt
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Na verdade estes dois partidos perderam de todo a vergonha. Já era um escândalo a sub-reptícia repartição de prebendas e tachos entre si, mas agora vão ao ponto de, descaradamente, os reclamarem na praça pública. Pataca a ti, pataca a mim...
Assim se tratam os assuntos das res pública!!!! Por favor, chamem a polícia!
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Vejam também o meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com


domingo, dezembro 16, 2007

OS NOVOS SENHORES DO MUNDO - livro que recomendo

QUEM É JEAN ZIEGLER!
Jean Ziegler, é Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação. É também professor de Sociologia na Universidade de Genebra. Por diversas vezes, foi deputado do Parlamento da Confederação Helvética (Suíça). Autor de alguns livros muito polémicos - em especial acerca da própria Suíça -, tem sido largamente publicado em Portugal: A Suíça Acima de Qualquer Suspeita (1976), A Suiça Lava Mais Branco (1990), Os Senhores do Crime (1999) e A Suíça, o Ouro e os Mortos (1997) - estes dois últimos também publicados pela Terramar.

Neste mundo dos nossos dias, em cada sete segundos, morre de fome uma criança de menos de 10 anos. E, na maior parte dos casos, isto acontece por ter sido vitima de um imperativo e de um só, o dos senhores do mundo: o lucro sem limites.

E quem são os novos senhores do mundo? São os senhores do capital financeiro globalizado. Mas, concretamente, quem são eles? No coração do mercado globalizado, há um predador: um banqueiro, um alto responsável de uma empresa transnacional, um operador do comércio mundial - que acumula dinheiro, que destrói o Estado, que desvasta a natureza e os seres humanos.
Este livro revela o seu rosto, analisa o seu discurso e denuncia os seus métodos. E há autênticos mercenários, tão fiéis quanto empenhados, ao serviço de tais predadores, até no seio da Organização Mundial do Comércio, do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Neste livro, Jean Ziegler segue a pista dos déspotas de tais instituições acima de qualquer dúvida, desmonta a ideologia que as inspira e lança uma luz implacável sobre o papel desempenhado, nos bastidores, pelo império americano. Todavia, um tanto por todo o lado, surge um movimento generalizado de resistência, para o qual convergem as esperanças de uma imensidão de contestatários espalhados pelo mundo. Estamos perante uma nova sociedade civil instituída à escala planetária. É de tudo isto que nos fala Jean Ziegler, nesta sua obra «empenhada politicamente», com a riqueza de informação a que nos habituou, oferecendo-nos um vasto painel em que surge toda uma diversidade de pessoas e de instituições que conhece de perto e de forma aprofundada.
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Aqui vai um passagem do prefácio para vos dar uma ideia do seu conteúdo

Neste início de milénio, as oligarquias capitalistas transcontinentais reinam no universo. A sua prática quotidiana e o seu discurso de legitimação são radicalmente contrários aos interesses da imensa maioria dos habitantes da Terra.

A globalização efectua a fusão progressiva e forçada das economias nacionais num mercado capitalista mundial e num ciberespaço unificado. Este processo provoca um formidável crescimento das forças produtivas. Riquezas imensas são criadas a todo o instante. O modo de produção e de acumulação capitalista dá provas de uma criatividade, de uma vitalidade e de um poder absolutamente espantosos e, certamente, admiráveis.

Em pouco menos que uma década, o produto mundial bruto duplicou, e o volume do comércio mundial foi multiplicado por três. Quanto ao consumo de energia, este duplica em média todos os quatro anos.

Pela primeira vez na história, a humanidade goza de uma abundância de bens. O Planeta desmorona se sob as riquezas. Os bens disponíveis ultrapassam em vários milhares de vezes as necessidades compreensíveis dos seres humanos.
Mas as valas comuns ganham também terreno.

Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse do subdesenvolvimento são a fome, a sede, as epidemias e a guerra. Elas destroem todos os anos mais homens, mulheres e crianças do que a carnificina da Segunda Guerra Mundial durante seis anos. Para os povos do Terceiro Mundo, a «Terceira Guerra Mundial» está em curso.

Todos os dias, no Planeta, cerca de 100 000 pessoas morrem de fome e das consequências imediatas da fome2. 826 milhões de pessoas estão, hoje em dia, crónica e gravemente sub alimentadas; 34 milhões delas vivem nos países economicamente desenvolvidos do Norte; o maior número, 515 milhões, vive na Ásia, onde representa 24 por cento da população total. Mas se considerarmos a proporção das vítimas, é a África Subsariana que paga o tributo mais pesado: 186 milhões de seres humanos vivem aí permanentemente mal alimentados, ou seja, 34 por cento da população total da região. A maior parte deles sofre daquilo a que a FAO chama «fome extrema», situando-se em média a ração diária nas 300 calorias abaixo do regime de sobrevivência em condições suportáveis. Os países mais gravemente atingidos pela fome extrema estão situados na África Subsariana (dezoito países), nas Caraíbas (Haiti) e na Ásia (Afeganistão, Bangladesh, Coreia do Norte e Mongólia).

Todos os sete segundos, na Terra, uma criança abaixo dos 10 anos morre de fome.
Uma criança com carência de alimentos adequados em quantidade suficiente, desde o nascimento até aos 5 anos, sofrerá as sequelas do facto para o resto da vida. Por meio de terapias delicadas praticadas sob vigilância médica, consegue-se fazer recuperar uma existência normal a um adulto que tenha estado temporariamente subalimentado. Mas a uma criança de menos de 5 anos, é impossível. Privadas de alimentação, as células cerebrais sofreram danos irreparáveis. Régis Debray chama a estas crianças «os crucificados à nascença3».

A fome e a má nutrição crónica constituem uma maldição hereditária: todos os anos, dezenas de milhões gravemente subalimentados dão à luz dezenas de milhões de crianças irremediavelmente atingidas. Todas essas mães subalimentadas, e que, no entanto, dão à luz, lembram as mulheres malditas de Samuel Beckett, que «parem a cavalo num túmulo... O dia brilha um instante, depois, novamente a noite4».

Há uma dimensão do sofrimento humano que está ausente desta descrição: a da angústia lancinante e intolerável que tortura todo o ser esfomeado, assim que acorda. De que modo, ao longo do dia que começa, vai ele poder assegurar a subsistência dos seus, alimentar-se ele próprio?

Viver nesta angústia é provavelmente mais terrível ainda do que sofrer das múltiplas doenças e dores físicas que afectam o corpo subalimentado.

A destruição de milhões de seres humanos pela fome efectua-se numa espécie de normalidade gelada, todos os dias, e num planeta a transbordar de riquezas.

No estádio alcançado pelos meios de produção agrícolas, a Terra poderia alimentar normalmente 12 mil milhões de seres humanos, ou seja, fornecer a cada indivíduo uma ração equivalente a 2700 calorias por dia5. Ora nós somos pouco mais do que uns 6 mil milhões de indivíduos sobre a Terra, e todos os anos 826 milhões sofrem de subali-mentação crónica e mutilante.

A equação é simples: quem tem dinheiro, come e vive. Quem não tem, sofre, torna-se inválido e morre.

A fome persistente e a subalimentação crónica são criadas pela mão do homem. São devidas à ordem assassina do mundo. Todo aquele que morre de fome é vítima de um assassínio.

Mas de 2 mil milhões de seres humanos vivem no que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) chama a «miséria absoluta», sem rendimento fixo, sem trabalho regular, sem alojamento adequado, sem cuidados médicos, sem alimentos suficientes, sem acesso a água potável, sem escola.

Sobre estes biliões de pessoas, os senhores do capital mundializado exercem um direito de vida e de morte. Por meio das suas estratégias de investimento, das suas especulações monetárias, das alianças políticas que efectuam, decidem todos os dias quem tem direito a viver neste planeta e quem está condenado a morrer.
O aparelho de dominação e de exploração mundiais erigido pelas oligarquias desde o início dos anos 90 é marcado por um pragmatismo extremo. É fortemente segmentado e tem pouca coerência estrutural. E, consequentemente, é de uma complexidade extraordinária e contém inúmeras contradições internas. No seu interior, facções opostas lutam entre si. A concorrência mais feroz atravessa todo o sistema. Entre si, os senhores travam constantemente batalhas homéricas.

As suas armas são as fusões forçadas, as ofertas públicas de compra hostis, o estabelecimento de oligopólios, a destruição do adversáriopor meio do dumping ou das campanhas de calúnias ad hominem.

O assassínio é mais raro, mas os senhores não hesitam em recorrer a ele, se for necessário.

Mas assim que o sistema no seu todo, ou num dos seus segmentos essenciais, é ameaçado ou simplesmente contestado - como no caso da Cimeira do G-8 em Génova em Junho de 20001 ou do Fórum Social Mundial de Janeiro de 2002 em Porto Alegre -, os oligarcas e os seus mercenários constituem um bloco coeso. Movidos por uma vontade de poder, uma cupidez e uma embriaguez de comando sem limites, defendem então com unhas e dentes a privatização do mundo. Esta confere-lhes extravagantes privilégios, um sem-número de prebendas e de fortunas pessoais astronómicas.

Às destruições e aos sofrimentos infligidos aos povos pelas oligarquias do capital mundializado, do seu império militar e das suas organizações comerciais e financeiras mercenárias, vêm juntar-se as que provocam a corrupção e a prevaricação correntes em grande escala em muitos governos, nomeadamente do Terceiro Mundo. Porque a ordem mundial do capital financeiro não pode funcionar sem a activa cumplicidade e a corrupção dos governos instalados. Walter Hollenweg, teólogo famoso da Universidade de Zurique, resume perfeitamente a situação: «A cupidez obsessiva e sem limites dos nossos ricos, aliada à corrupção praticada pelas elites dos países ditos em vias de desenvolvimento, constitui uma gigantesca conspiração criminosa... No mundo inteiro e todos os dias se reproduz o massacre dos inocentes de Belém6».
Como definir o poder dos oligarcas? Qual é a sua estrutura? O alvo histórico? Quais são as suas estratégias? As suas tácticas?

Como é que os senhores do universo conseguem manter-se, quando a imortalidade que os guia e o cinismo que os inspira não deixam dúvidas a ninguém? Onde está o segredo da sua sedução e do seu poder?

Como é possível que num planeta abundantemente provido de riquezas, todos os anos, centenas de milhões de seres humanos sejam atirados para a miséria extrema, para a morte violenta, para o desespero?

A todas estas interrogações, o presente livro tenta dar resposta.
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São estes senhores do mundo, - o capitalismo sem rosto - que de uma forma que o mundo nunca antes conhecera, exigem a subserviência dos governos, a submissão dos sindicatos, a inoperância dos tribunais, a privatização de todas os serviços e de todos os bens da terra, a inexistência ou menorização dos serviços sociais, a precaridade de emprego, o aumento das horas de trabalho, a redução dos salários, a mobilidade das empresas para os locais do mundo onde a mão de obra seja mais barata, a liberdade de despedir os trabalhadores quando tal lhes convier, tudo em nome do lucro e do aumento incomensurável dos seus dividendos.

É isto também que o enigmático tratado da União Europeia de que Sócrates tanto se ufana de ter ajudado a cozinhar, visa nas suas entrelinhas.

Não podemos aderir a um cozinhado de que só os iluminados conhecem os ingredientes. Os seus defensores, se acham que é tão bom, têm de no-lo explicar tim-por-tintim. Se é que são capazes de o fazer.

O tratado tem de ser referendado. Tem de ser dicutido amplamente pelo povo português e pelos povos envolvidos antas de ser aprovado.

quarta-feira, novembro 21, 2007

ESTA È A QUALIDADE DE VIDA que nos oferecem

Em mais uma brilhante crónica que o DN hoje publica e com a devida vénia para o jornal e para o autor, aqui transcrevo, Baptista-Bastos traça um retrato mordaz mas muito realista do dia a dia dos portugueses. Da maioria dos portugueses. aqueles que vivem apenas do seu trabalho e não têm tempo para mais nada. Com pequenas diferenças para melhor ou para bem pior esta é a saga de quem tem de trabalhar para se sustentar a si e aos seus. Não há tempo para mais nada. Nem amor, nem afectos de qualquer ordem. Mas eu vou mais longe. Infelizmente este retrato não se aplica só aos portugueses. Esta é a "qualidade de vida " que o sistema, em qualquer parte do mundo e com pequenas nuances, proporciona àqueles que o ajudam a manter e a egordar, mercê do aluguer dos seus braços ou do seu intelecto. Que dizer então dos que nem trabalho têm e são milhões ?!
Qual o remédio?
Mudar o sistema. Não vejo outro.


PEQUENA CRÓNICA DO BANAL
Baptista-Bastos


"A vida pede pouco mais que vida."
RUY BELO - Meditação Anciã

Os pais portugueses são os menos brincalhões da Europa: apenas 6% divertem--se com os filhos. Nenhuma interpretação semântica escapa a esta evidência. O sentimento de "pertença", corolário de um conceito de relação, e este como vector da ideia de cidadania, está a mirrar. O sistema aniquilou as redes de comunicação que permitiam a troca de valores e a difusão dos afectos. E está a dissolver o amor.

As dificuldades dos portugueses são crescentes, os direitos diminuem, os deveres e as obrigações aumentam. Os jovens casais são empurrados para as periferias. As rendas de casa são altíssimas; a compra de apartamentos insuportável pela subida inclemente dos juros; os salários não suportam as oscilações dos preços das coisas elementares. Na impossibilidade de possuírem dois automóveis, ou mesmo nenhum, um casal, habitando (habitar não é viver) no subúrbio é coagido a servir-se de transportes públicos desconfortáveis, cheios de fedores, de tristeza, de pobreza e de passado.

O cenário é aquela fronteira densa e excessiva, sem enigma nem segredo, que todos conhecemos. A mulher sai do emprego, corre às compras no supermercado, coloca-se, desanimada e democrática, na bicha do autocarro. O autocarro está pontualmente atrasado. As pessoas consultam os relógios de pulso. Começam as conversas, desencadeiam-se as lamúrias, cruzam-se os queixumes. As mulheres entram carregadas. Observam-se, formais e cristãs; atentas ao penteado, aos sapatos, às roupas da outra. O autocarro, já muito cheiroso, fica invadido de bafos.

Os homens enfiam-se no carro. Antes, haviam comprado o jornal "desportivo" de sua preferência. Cada um dos jornais "desportivos" cultiva, com discrição e reserva, uma tendência clubística, por todos conhecida. Os homens estão desejosos de chegar a casa. Até lá, hora, hora e meia de caminho: as bichas, os pequenos e grandes acidentes diários, as chuvas, os calores, o dia que escureceu mais cedo, o dia que se prolonga até mais tarde. Os homens consultam os relógios de pulso. Almejam chegar a tempo de assistir a um dos 122 programas sobre futebol que todas as televisões transmitem, com pedagógica alegria. Chegam, ligam os aparelhos, sentam-se.

A mulher apareceu finalmente. O homem ouve-a: está concentrado no que afirma um comentador. Nem olha para a mulher, a mulher dá-lhe um beijo rápido, rotineiro e indiferente. "Que é o jantar?", pergunta ele. Pergunta por perguntar. Os seus plurais interesses resumem-se a ouvir a palavra culta e eloquente daqueles sábios acerca do jogo que ainda se não realizou. Intervalo. "O menino?", pergunta o pai. "Ficou em casa da avó", diz a mãe.

"Ah!", responde ele.

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Escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt



segunda-feira, novembro 19, 2007

LÀCRIMAS DE CROCODILO

Nós não sabíamos
Do Diário de Notícias de hoje, com a devida vénia
Tadinhos, não sabiam!... Como se o inspector Hans Blix, mandatato pela ONU e, portanto, mandatado também pelos respectivos governos dos países a que estes mânfios pertencem, para - chefiando uma vasta equipa de colaboradores apetrechada com meios altamente sofisticados de pesquisa - detectar armas de destruição maciça no Iraque, não tivesse repetidas vezes afirmado não ter encontrado qaisquer provas da sua existência!
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Claro que o senhor Bush sabia perfeitamente que essas armas não existiam. Claro que o que sr. Bush pretendia era dominar uma zona de interese vital para a economia americana e sobretudo para a família Bush com conhecidos intereeses no negócio do petróleo.
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Diz o senhor Durão, agora tardiamente arrependido - foi o último a reconhecer que os relatórios da CIA não eram verdadeiros - que apenas se limitou a enprestar o local para o encontro dos outros três. Não é verdade. ele voltou a particiar noutra reunião onde a guerra foi decidida e levada àvante contra a vontade eas decisões das Naçoes Unidas.
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Dessa guerra, resultou a destruição de um país, perda de centenas de milhar de vidas inocentes, destruição e saque de monumentos com valor histórico único e insubstituívele e criação de condições propícias ao recrudesciento de actividades terroristas que encontra, agora, no Iraque , condições ideais de recrutamento.
E os culpados entre outros foram estes quatro homens.
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Pergunto: Se por matar um homem - por raiva, por cobiça, por ciúmes - a generalidade dos paises aplica a pena máxima de prisão ao seu seu autor, (que em alguns Estados vai mesmo até à pena de morte) qual seria a pena a aplicar a quem, sem motivos sequer, tira a vida a milhares de pessoas e destroi um país que foi berço da nossa civilização, originando um recrudescimento imparável de terrorismo e criando com isso condições de instabilidade para todo o mundo ,sabe lá durante quanto tempo?
E no entanto eles andam por aí.... Ricos, opulentos e felizes da vida....
Onde está a Justiça?

terça-feira, novembro 13, 2007

A DESILUSÃO DE DEUS

MAIS UM LIVRO QUE RECOMENDO


Se acredita, sem sombra de dúvida, que Deus existe e ponto final, não vale a pena ler este livro. Você precisa de acreditar e não vai mudar de opinião.
Agora, se você gosta de se interrogar seriamente sobre o facto de Deus existir ou não existir, então vai apreciar a sua leitura É séria e ao mesmo tempo bem humorada


OPINIÔES

A Desilusão de Deus é um livro inteligente, compassivo e verdadeiro como o gelo, como o fogo. Se este livro não mudar o mundo, estamos todos lixados.»

Penn & Teller – apresentadores de TV


«Oh, depois de toda a vida nos dizerem que é uma virtude sermos cheios de fé, espírito e superstição, é tão reconfortante ler em vez disso um sonoro toque de trombeta da verdade. Dá a impressão de virmos à superfície para recuperar o fôlego.

»Matt Ridley - autor de Genoma e Francis Crick


«Dawkins dá às compaixões e emoções humanas o seu devido valor, que é uma das coisas que confere força às suas críticas da religião. Hoje em dia, muitos líderes religiosos são homens que, o que é óbvio para qualquer pessoa, excepto para os seus perturbados seguidores, estão dispostos a sancionar a crueldade perversa ao serviço da sua fé. Dawkins atinge-os com todo o poder que a razão pode exercer, destruindo as suas absurdas tentativas de provar a existência de Deus ou as suas presunçosas reivindicações de que a religião é a única base da moralidade, ou que os seus livros sagrados são literalmente verdadeiros.»

Phillip Pulmman - autor da trilogia “Mundos Paralelos”


«Richard Dawkins é o principal profeta dos nossos tempos. Através da sua exploração da evolução da vida baseada nos genes, o seu trabalho teve um profundo efeito em muito do nosso pensamento colectivo, c A Desilusão de Deus continua a sua tradição provocadora do pensamento.»

. Craig Venter – decifrador do genoma humano


«Esta é uma leitura excepcional - chega a ser divertida... Nem é preciso comprar toda a colecção de Dawkins para se orgulharem da sua coragem de expor o mal que as religiões podem fazer. Os zelosos fundamentalistas da Bíblia vão, sem dúvida, afirmar que encontraram Satanás
encarnado.

»Kirkus Reviews

Aqui deixo uma passagem do livro, para dar uma ideia do seu conteúdo


Consolo
E tempo de abordar a questão do importante papel que Deus desempenha em consolar-nos, bem como, no caso de ele não existir, do desafio humanitário que será pôr alguma coisa no seu lugar. Muitas das pessoas que admitem que provavelmente Deus não existe nem é necessário para a moralidade, ainda voltam à carga com aquilo que geralmente consideram um trunfo: a alegada necessidade psicológica ou emocional de um deus. Se se tira a religião, perguntam com truculência, o que se coloca no seu lugar? 0 que se oferece aos doentes terminais, aos enlutados que choram, às Eleanor Rigbys solitárias que têm em Deus o seu único amigo?


A primeira coisa a dizer em resposta a isto é algo que não deveria precisar de ser dito. O poder que a religião tem de consolar não a torna verdade. Façamos, inclusivamente, uma enorme concessão: mesmo que se demonstrasse de forma concludente que a crença na existência de Deus é absolutamente essencial ao bem-estar psicológico e emocional do ser humano; mesmo que os ateus não passassem todos de neuróticos desesperados, dados ao suicídio por uma inexorável angústia cósmica - nada disto constituiria o mais ínfimo grão de prova de que há verdade na crença religiosa. Poderia ser uma prova de que é desejável as pessoas convencerem-se a si próprias de que Deus existe, mesmo não existindo.

Como já referi, Dan Dennett, no livro Breaking the Spell, faz a distinção entre crença em Deus e crença na crença, ou seja, a crença de que é desejável acreditar, mesmo que a crença
seja, ela própria, falsa: «Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade» (Marcos 9: 24). Os crentes são incentivados a professar a crença, quer dela estejam convencidos, quer não. É provável que, repetindo uma coisa vezes suficientes, nos consigamos convencer da sua veracidade.

Julgo que todos conhecemos pessoas que têm apego à ideia da fé religiosa e que se ofendem quando ela é atacada, ainda que admitam, com relutância, que elas próprias não a possuem. Fiquei ligeiramente chocado ao descobrir um esplêndido exemplo no livro do meu herói Peter Medawar The Limits oj Science (Oxford University Press, 1984, p. 96): «Eu lamento a minha descrença em Deus e nas respostas religiosas em geral, pois acredito que, se descobríssemos boas razões científicas e filosóficas para acreditar em Deus, isso proporcionaria satisfação e conforto a muitas pessoas deles necessitadas.»

Desde que li a distinção de Dennett, tenho tido oportunidade de a utilizar vezes sem conta. Não será exagero afirmar que a maioria dos ateus que conheço disfarça o seu ateísmo por trás de uma fachada virtuosa. Não crêem em nada de sobrenatural, no entanto conservam uma vaga susceptibilidade à crença irracional. Acreditam na crença. É espantoso o número de pessoas que parece não conseguirem distinguir a diferença entre «X é verdade» e «é desejável as pessoas acreditarem que X é verdade». Ou talvez não se deixem cair, propriamente, neste erro lógico, mas considerem tão-somente que a verdade é insignificante quando comparada com os sentimentos humanos. Não pretendo desvalorizar os sentimentos humanos, mas quando conversamos, sejamos claros quanto àquilo de que estamos a falar: sentimentos, ou verdade. Ambos podem ser importantes, mas não são a mesma coisa.
Seja como for, a minha concessão hipotética foi um gesto descabido e incorrecto. Não conheço provas de que os ateus revelem qualquer tendência genérica para o abatimento e a angústia. Alguns ateus são felizes, outros são extremamente infelizes. Do mesmo modo que alguns cristãos, judeus, muçulmanos, hindus e budistas serão extremamente infelizes, outros serão felizes. Pode ser que haja evidência estatística sobre a relação entre a felicidade e a crença (ou descrença), mas duvido de que o eventual efeito seja forte, quer num sentido, quer no outro. Acho mais interessante perguntar se existe alguma boa razão para nos sentirmos deprimidos se vivermos sem Deus. Pelo contrário, terminarei este livro defendendo que dizer que se pode ter uma vida feliz e plena sem a religião sobrenatural ainda é pouco. Antes disso, no entanto, tenho de analisar as pretensões da religião quanto a proporcionar consolo. Segundo o Shorter Oxford Dictionary, consolo é o alívio da dor ou do sofrimento mental. Vou dividi-lo em dois tipos.


1. Consolo físico imediato.
Umhomem isolado num monte descampado, à noite, pode achar conforto num são-bernardo grande e aconchegante, sem esquecer, claro, o barril de aguardente à volta do pescoço. Uma criança que chora pode ser consolada pelos braços fortes que a envolvem e por palavras tranquilizadoras sussurradas ao ouvido.

2. Consolo pela descoberta de um facto antes descurado, ou uma forma antes desconhecida de encarar factos ocorridos.
Uma mulher cujo marido tenha sido morto na guerra pode ser consolada pela descoberta de que está grávida dele ou de que ele morreu como um herói.

Também podemos retirar consolo da descoberta de uma nova forma de encarar uma dada situação. Um filósofo faz notar que não há nada de especial no momento em que um velho morre. A criança que em tempos ele foi «morreu» há muito, não por ter deixado subitamente de viver, mas por ter crescido.

Cada uma das sete idades do homem, de que nos fala Shakespeare, «morre» lentamente ao transformar-se na seguinte. Deste ponto de vista, o momento em que o velho finalmente dá o último suspiro não é diferente das «mortes» lentas que teve ao longo da vida. Um homem que não se compraz com a perspectiva da própria morte poderá achar consoladora esta visão alternativa. Ou talvez não ache, mas em todo o caso este não deixa de ser um exemplo potencial de consolo através da reflexão.

Outro exemplo é a rejeição do medo da morte tal como foi formulada por Mark Twain: «Não tenho medo da morte. Estive morto durante milhões de milhões de anos antes de nascer, e não senti o mais pequeno incómodo por isso.» Esta tomada de consciência em nada altera o facto de que a nossa morte é inevitável. Mas foi-nos oferecida uma maneira diferente de olhar essa inevitabilidade que podemos achar consoladora. Thomas Jefferson também não tinha medo da morte e não parece que acreditasse em nenhuma espécie de vida após a morte. Segundo Christopher Hitchens, «quando os seus dias começaram a aproximar -se do fim, por mais de uma vez Jefferson escreveu a amigos dizendo que era sem esperança nem medo que encarava o final. O que era o mesmo que dizer, nos termos mais inequívocos, que não era cristão.»


Os intelectos mais resistentes estarão já, nesta altura em condições de digerir a pesada declaração de Bertrand Russell no seu ensaio de 1925 intitulado «What I Believe» («Aquilo em que acredito»):
Acredito que quando morrer vou apodrecer e nada do meu ego irá sobreviver. Não sou jovem e amo a vida. Mas desdenharia de tremer de medo ante a perspectiva da aniquilação. Apesar de tudo, a felicidade só é verdadeiramente felicidade porque tem de ter um fim, do mesmo modo que o pensamento ou o amor não valem menos por não serem eternos. Muitos foram aqueles que pisaram o cadafalso com orgulho; esse mesmo orgulho deveria, por certo, ensinar-nos a pensar verdadeiramente no lugar que o homem ocupa no mundo. Mesmo que a princípio as janelas franqueadas da ciência nos façam arrepiar, após o calor caseiro e acolhedor dos tradicionais mitos humanizantes, ao fim e ao cabo o ar fresco revigora, e os grandes espaços possuem um esplendor único.

terça-feira, novembro 06, 2007

CONFISSÔES DE UM MERCENÁRIO ECONÓMICO



AQUI ESTÁ MAIS UM LIVRO QUE VALE A PENA LER
E que vivamente aconselho


Os fãs de John Grisham ou John Le Carré estão bem familiarizados com a figura do mercenário, um assassino a soldo de um governo ou de uma organização criminosa e que tem por missão «apagar» figuras política ou ideologicamente incómodas.

Mas quem já ouviu falar de um mercenário económico? Muito pouca gente,

certamente Porque, ao contrário dos assassinos contratados saídos das paginas de thrillers, os mercenários económicos são reais - e mantidos no mais completo sigilo. São profissionais altamente treinados - formados nas melhores escolas de Gestão e Economia e recrutados das principais empresas de consultoria - que trabalham para a CIA ou para multinacionais, influenciando ou ameaçando governos de países em vias de desenvolvimento para favorecer a politica económica dos EUA e atribuir lucrativos contratos governamentais a empresas americanas.

John Perkins sabe tudo acerca deles porque foi um deles - durante mais de uma década. A sua missão consistia em levar os governos de países em vias de desenvolvimento a pedir empréstimos ao Banco Mundial ou ao FMI - empréstimos que não podiam pagar - para desenvolver infra-estruturas essenciais. Esse dinheiro era posteriormente investido em contratos com empresas americanas e os empréstimos tinham de ser pagos pelos contribuintes do país devedor. Quando o país não conseguia pagar o empréstimo, ficava à mercê das regulamentações do Banco Mundial - e dos seus agentes americanos. Esta era, segundo Perkins, uma maneira de os EUA expandirem o seu «império» e enriquecerem à custa de países do Terceiro Mundo.

Só para adoçar a boca, aqui fica uma pequena capassagem de um dos capítulos. Lê-se como um romance. Negro, bem negro.

RASPAR O VERNIZ

Em 2003, pouco depois de ter regressado do Equador, os Estados Unidos invadiram o Iraque pela segunda vez em pouco mais de uma década. Os ME tinham falhado. Os chacais tinham falhado. Por isso, acabaram por ser enviados para o Iraque homens mulheres jovens para matar e morrer nas areias do deserto. Uma questão importante que a invasão levantou, e que me parecia que a maioria dos cidadãos norte-americanos não estava em posição de considerar, era o possível significado desta invasão para a Casa Real de Saud. Se os Estados Unidos tomassem o Iraque, país que, de acordo com muitas estimativas, possui mais petróleo do que a Arábia Saudita, deixaria aparentemente de haver necessidade de continuarmos a honrar o pacto feito com a família real saudita na década de 70, o tal negócio que dera origem ao caso da lavagem de dinheiro da Arábia Saudita.

O fim de Saddam tal como o fim de Noriega no Panamá, alteraria a equação. No caso do Panamá, depois determos reinstalado os nossos fantoches, retomámos o controlo do Canal independentemente de isso contrariar o tratado que Torrijos e Cárter tinham negociado. Quando controlássemos o Iraque, poderíamos dividir a OPEP? Tornar-se-ia a família real saudita irrelevante na arena da política do petróleo? Alguns analistas estavam já a questionar-se sobre a razão que levara Bush a atacar o Iraque, em vez de canalizar todos os nossos recursos para a perseguição da Al-Qaeda no Afeganistão.

Seria possível que do ponto de vista desta Administração - desta família do petróleo - garantir fornecimentos de petróleo e justificações para a realização de contratos de construção era mais importante do que combater terroristas?

Havia porém outra opção plausível: a OPEP poderia tentar reafirmar-se. Se os Estados Unidos tomassem o controlo do Iraque, os outros países ricos em petróleo poderiam ter pouco a perder se subissem os preços do crude e/ou se reduzissem os seus fornecimentos. Esta possibilidade condizia ainda com outro cenário, um cenário com implicações que provavelmente ocorreriam a poucas pessoas que não fizessem parte do mundo da alta finança internacional, mas que poderiam afectar o equilíbrio geopolítico e, em última instância, destruir o sistema que a dolarcracia tinha trabalhado tão afincadamente para construir. Poderia, na verdade, revelar-se o único factor capaz de provocar a autodestruição do primeiro império verdadeiramente global.

No fim de contas, o império global depende em grande medida de o dólar funcionar como _divjsa-padrão do mundo, e de a Casa da Moeda norte-americana ter o direito de imprimir dólares. É assim que fazemos empréstimos a países como o Equador, sabendo perfeitamente de antemão que nunca nos poderão pagar; na verdade, não queremos que eles honrem as mas suas dívidas, uma vez que é a falta de pagamento que nos concede a nossa força e poderio. Em condições normais, correríamos o risco de dizimar os nossos próprios fundos; afinal, nenhum credor pode dar-se ao luxo de ter demasiados empréstimos por cobrar. No entanto, nós não nos encontramos em circunstâncias normais. Os Estados Unidos imprimem dinheiro que não é suportado pelo ouro. Na realidade, é suportado apenas pela confiança que o Mundo tem na nossa economia e na nossa capacidade de manobrar as forças nos recursos do império que criámos.

A possibilidade de imprimir dinheiro dá-nos imenso poder. Significa, entre outras coisas, que podemos continuar a conceder empréstimos que nunca serão pagos, e que nós próprios também podemos continuar a acumular dívidas gigantescas. No início de 2003, a dívida nacional dos Estados Unidos excedia o extraordinário valor de 6 biliões de dólares e projectava-se que atingisse os 7 biliões de dólares antes do final do ano, correspondendo a cerca de 24 000 dólares por cada cidadão norte-americano. A maior parte desta dívida está circunscrita aos países asiáticos, especialmente ao Japão e à China, que adquirem obrigações do Tesouro dos EUA (essencialmente, notas de dívida) com fundos acumulados na venda de bens de consumo - incluindo aparelhos electrónicos, computadores, automóveis, electrodomésticos e vestuário - aos Estados Unidos e ao mercado mundial.

Enquanto o mundo aceitar o dólar como divisa-padrão , esta dívida excessiva não levanta obstáculos sérios à dólarcracia e no entanto, se surgisse outra divisa para substituir o dólar,,e se alguns dos credores dos Estados Unidos (o Japão ou a China, por exemplo) decidissem solicitar o pagamento das suas dívidas, a situação poderia alterar-se drasticamente. Subitamente, os Estados Unidos encontrar-se-iam numa situação muito precária.

Actualmente, a existência dessa divisa já não é hipotética; o euro entrou na cena financeira internacional a 1 de Janeiro de 2002 e está a crescer em prestígio e poder a cada mês que passa. A nova moeda oferece uma oportunidade pouco habitual à OPEP, caso a organização opte por retaliar devido à invasão do Iraque, ou se por qualquer outra razão escolher usar a sua força contra os Estados Unidos.

Se a OPEP decidisse substituir o dólar pelo euro como divisa-padrão, império sofreria alguns abalos em muitos dos seus alicerces. Se isso acontecesse, e se um ou dois grandes credores exigissem que pagássemos as nossas dívidas em euros, impacto seria enorme.

Eram questões como estas que andavam às voltas na minha cabeça na manhã de Sexta-Feira Santa de 18 de Abril de 2003, ao fazer a pé a curta distância entre a minha casa e a garagem, onde tenho o meu escritório, ao sentar-me à secretária, ligar o computador e, como habitualmente, entrar no sítio da Internet do New York Times. A manchete prendeu-me logo a atenção e levou-me imediatamente para longe dos meus pensamentos sobre as novas realidades da finança internacional, da dívida nacional e do euro, fazendo-me regressar à minha antiga profissão: «EUA Atribuem à Bechtel Grande Contrato para a Reconstrução do Iraque».

O artigo afirmava: «A Administração Bush atribuiu hoje ao Grupo Bechtel, sediado em São Francisco, o primeiro grande contrato de um vasto plano de reconstrução do Iraque.» Mais abaixo, na mesma página, o autor informava os leitores de que «os Iraquianos trabalharão com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, instituições estas sobre as quais os Estados Unidos exercem uma influência abrangente, para estruturar o país»