ENQUANTO E NAO

sábado, dezembro 31, 2005

Ano Novo


À imensa legião
de
assíduos (seis ou sete?) leitores do meu blogue

Uma alegre Passagem do ano
e
um ano 2006
do caraças!!!

domingo, dezembro 25, 2005

Dia de Natal


Flowers at least

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Bom Natal ( Como? Para quem?)





"Muita paz e muito amor"
Todos dizem no Natal
Mas ninguém cala o horror
De tanta guerra brutal




“Bom Natal!” diz toda a gente
Ostentando um ar feliz
Mas será que alguém sente
Aquilo que a boca diz?


Muito a gente se compraz
Com este natal cristão!
Mas o mundo não não tem paz
E há tanta boca sem pão

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Curtas


Bocage

No dia em que se assinala o bicentenário da morte de Bocage, poeta injustamente lembrado por muitos pelas anedotas e chocarrices a seu respeito e que poucos se lembram da sua grandeza como poeta insigne, homem de cultura, e espírito progressista, quero aqui homenageá-lo com a inclusao de um soneto que não é dos seus melhores, mas onde trata o seu
próprio retrato.


Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

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O Debate Soares/Cavaco

A montanha pariu um rato.Afinal o debate dos debates, foi apenas mais um debate inútil a juntar à inutilidade dos precedentes. Soares a atacar, por vezes de forma soez, diga-se, e a “múmia paralítica” pensando com os seus botões "está-bem, mói-te", se limitava a passar o estafado disco da sua competência em assuntos económicos e da utilidade de tais conhecimentos na presidência da República (Tá-se mesmo a ver não tá-se?) E Soares a lembrar-lhe os malefícios da sua governação para os trabalhadores e para a economia nacional (como se não tivesse sido o governo dele a dar a primeira machadada para o desmantelamento da capacidade produtiva da cintura industrial de Lisboa) … e o outro, moita-carrasco. Alguém ganhou com este história ? Não dei por isso.
Algum deles disse (ou alguém lhe perguntou, sequer) o que ganharia o povo português com eleição de um em relação à eleição de outro? Isso é que era importante, mas ninguém o disse ainda em qualquer dos debates. Como vão os eleitores poder escolher, em consciência?!

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A América Latina
Parece que a América latina está finalmente a conseguir deixar de ser o “pátio das traseiras” do prepotente vizinho do norte. A vitória do índio Evo Morales na Bolívia, que já declarou que vai “terminar com o estado colonial da sua pátria”, parece vir juntar o seu País ao clube de outros da América latina (Cuba, Venezuela, Brasil, Argentina, Paraguai) que lutam para que a sua sobrevivência económica não dependa dos favores dos Estados Unidos e para que a sua política não lhes seja imposta pelos seus marines. É que, agora, os habituais golpes de estado para impor ditaduras, estão um pouco mais difíceis para os senhores do Império

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Os Santos que o Papa faz

O papa Ratzinguer acaba de fazer mais 19 santos e beatos. a juntar às centenas de outros feitos pelo seu antecessor imediato. Será que o São Pedro é previamente consultado destas vagas de nomeações de santos no Paraíso de que ele é fiel guardião? Será que o seu staff comporta um tão elevado contingente de colaboradores? Lá terão alguns de passar à reforma compulsiva!. Que isto da crise chega a todos.

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segunda-feira, dezembro 19, 2005

Comentário a “To have and not to have”

Comentario do meu Amigo e "rapaz do meu tempo" Francisco Xavier
Toino,

Espero ser o primeiro a felicitar-te pelo teu texto de ontem. E espero sê-lo porque são quatro e meia da manhã e não é de esperar que algum maduro se tenha antecipado!

Está óptimo. Gostei, até porque também me revi em muitas das situações que contas. Não me caiu ninguém no colo, tá visto, mas o resto, todo aquele retrato da nossa vida na escola, incluindo a parte que diz respeito á Mocidade Portuguesa, os desfiles com as fardas que nos eram distribuídas e que eram guardadas numas malas de vime, camisa, calções , cinto, meias, bivaque, só sapatos é que não e daí o problema que mencionas: só alinhava quem os tivesse, o resto, dizia eu, foi praticamente igual. Bem, igual no que diz respeito á escola, porque quanto ás outras situações divergia um bocado, como por exemplo nessa de comer o contrapeso!

Mas até parece que estava a "viver" outra vez aquele tempo! A tua prodigiosa memória!

Vou ver se consigo dormir um bocado.
Um abraço.

Xico

PS. Foi fardado à MP que assisti á inauguração do Estádio Nacional! Ainda me lembro de nos distribuirem umas carcassas que havia naquele tempo e que agora já não há, enquanto a gente esperava pelo início da cerimónia que culminou com um jogo de futebol, um Benfica-Sporting, se não estou em êrro!

sábado, dezembro 17, 2005

Verdade/Bom senso


Na sua coluna do domingo passado (11-12-2005) no Diário de Noticias, Jorge Vicente Silva referia-se a uma afirmação sua, publicada em coluna anterior, a qual tinha provocado controversos comentários mesmo da parte de amigos seus. Dizia JVS ( e cito de cor) que iria votar Alegre, mas se lhe perguntassem quem iria ganhar a as eleições responderia: Cavaco Silva.

Face às críticas que os seus amigos lhe fizeram por estas afirmações, e ao desrazoável comentário de determinado cavaquista, que entendeu as suas palavras como valiosa achega à campanha do seu candidato, JVS verberou este pelo seu oportunista aproveitamento, e desculpou-se perante os primeiros, dizendo que não existia contradição no que afirmara, pois como pessoa tinha o direito de manifestar a sua preferência por um
candidato e como jornalista, com os dados de que dispunha, não via outro vencedor senão Cavaco Silva.

É verdade: Ele está no seu pleno direito de manifestar a preferência por um e opinar sobre a vitória do outro. Só que, essas duas posições simultâneas, por parte de um opinion maker, enfermam de alguma contradição Mais do que isso, uma anula a outra.

Com efeito, se alguém proclama publicamente, num órgão da informação, que vai votar num determinado candidato à Presidência da Republica, é porque gostaria de ter esse candidato como Presidente. Mas, se diz a seguir que quem vai ganhar é um outro candidato, esse alguém, sobretudo se for um líder de opinião, como é Jorge Vicente Silva, perfeito conhecedor do efeito condicionante que dá, sobretudo aos indecisos, o impulso de entrar numa “onda ganhadora”, está objectivamente, a ajudar a pessoa que ele não queria a ocupar o lugar que ele gostaria fosse ocupado pelo candidato da sua preferência. Isto tem alguma lógica?

A meu ver, um colunista de prestígio e influência ou bem que manifesta as suas preferências (ninguém tem a obrigação de ser neutro) e omite as conclusões resultantes dos dados que julga possuir, ou bem que explicita estas e silencia as primeiras. É uma questão de bom senso.

Jorge Vicente Silva não tem que dar contas do que escreve nas suas colunas, que aliás leio sempre com muito prazer, mas já que ele próprio levantou a questão, aqui deixo o meu parecer que ninguém me pediu mas que, como seu leitor, faço questão de expender.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

O Debate Jerónimo de Sousa/Francisco Louçã



Foi o tipo de debate que se esperava. Jerónimo de Sousa é de esquerda, o Professor Dr. Francisco Louça também (ainda) é de esquerda e as divergências seriam sobretudo de forma mais do que de fundo. Na verdade as divergências entre os dois candidatos manifestaram-se apenas no diferente entendimento em relação à forma de participação de Portugal na União Europeia e no que se refere à Nato. Louçã acha que deve ser extinta pura simplesmente, enquanto Jerónimo, mais realista, é de opinião que, uma vez que existe a sua extinção deve ser objecto de um estudo prévio da situação.
Claro que em flores de estilo, nenhum dos actuais candidatos se compara a Louçã e as suas intervenções tem sempre um brilho que nenhum deles pode acompanhar, mas nem sempre quem fala melhor é quem tem mais razão, como aconteceu no debate de ontem

Mal, mal, indecentemente mal , estiveram os moderadores que à viva força queriam que os dois candidatos discriminassem as diferenças que os separam. Queriam sangue, numa palavra, que é o que as televisões gostam. Habilidosamente os candidatos se foram esquivando à agressiva pressão a que foram sucessivamente sujeitos. Quanto a mim, cada deputado tinha apenas que dar a sua opinião sobre cada um das questões que lhe eram colocadas. Cabia aos moderadores e ao público avaliar quais a diferenças.

Unânime, entre outros aspectos foi a recusa em aceder ao apelo de Jorge Coelho para que, a fim de derrotar Cavaco Silva, os outros candidatos de esquerda abdiquem das suas candidaturas em favor de Mário Soares. Qualquer deles se mostrou firmemente determinado em ir até ao fim.

Na verdade, o que aflige Coelho não é a tanto a hipótese de Cavaco ganhar à primeira volta – o que, a acontecer, não é por haver vários candidatos à esquerda. O que lhe dói é a hipótese de Manuel Alegre ficar à frente de Mário Soares

José Alberto de Carvalho foi mesmo ofensivo (o que muito me surpreendeu) ao perguntar se o empenho de cada um ter melhor resultado do que o outro não seria motivado pelo avultado subsídio que recebem os candidatos que obtêm mais de 5% do resultado dos votos. Então não é óbvio que para qualquer candidato os motivos políticos são, só por si, incentivo suficiente por obter melhor resultado que os restantes concorrentes?
Teve a indignada resposta que merecia.

Deselegante também foi, no apelo final ao voto por parte de Louça., a oportunista invocação do nome de militantes do Partido Comunista não inteiramente alinhados com a respectiva direcção e já falecidos, como modelos e inspiradores da esquerda moderna, que o Bloco de esquerda diz representar

quinta-feira, dezembro 15, 2005

O Debate Mário Soares/Manuel Alegre

O Debate Mário Soares/Manuel Alegre

Tentei ver, mas não aguentei.
Era um espectáculo deprimente ver aqueles homens, do mesmo Partido, que ainda há pouco se diziam indefectíveis amigos, a abocanharem-se, de uma forma confrangedora perante milhões de portugueses a quem pedem o voto.
São estes os senadores, as reservas morais da República?
Disgusting!

quarta-feira, dezembro 14, 2005

O debate Cavaco Silva/Jerónimo de Sousa


Mais um debate morno. Continuo a pensar que deste modelo muito dificilmente poderá sair um vencedor, quer de cada um deles, quer do seu conjunto. Cavaco continuou igual ao que já nos acostumou, só que, desta vez, menos hirto, mais à vontade, tendo mesmo deixado cair o tal sorriso artificial a que me tenho referido. Terá ele lido o meu blogue? (risos) De qualquer modo o discurso continua a ser o de antigo primeiro ministro e o de professor de economia.

É obvio que Jerónimo de Sousa não tem (nem precisa de ter) os mesmos conhecimentos que ele, nessa matéria, mas têm, como nenhum dos outros candidatos, conhecimento da realidade concreta em que vive o povo português, mormente das classes trabalhadoras a que pertence, nunca deixando de as confrontar com as teorias do Professor. Uma a uma, foi assim desmontando a bondade do discurso do seu oponente. À necessidade sacrifícios defendida por Cavaco para aumentar “o bolo”, Jerónimo contrapôs a exigência de que para isso ”o bolo” seja distribuído com maior equidade: à indispensabilidade da existência de concertação social defendida por Cavaco, Jerónimo denunciou a má qualidade dessa concertação e denunciou, um a um vários, prejuízos para os trabalhadores decorrentes de acordos forjados no tempo do seu Governo com a cumplicidade da UGT, e por aí fora...


Delicioso foi o momento em que, cortando o rol de promessas do seu oponente, Jerónimo opôs a frase do filósofo de que “a natureza atribuiu ao ser humano o dom único de, através do discurso, esconder o pensamento” no que foi interrompido por Cavaco com a celebre réplica de Álvaro Cunhal: 0lhe que não, olhe que não!. Teve graça, mas não anulou a verdade da oportuna citação de Jerónimo.

Curiosamente houve pelo menos dois assuntos em que as opiniões dos dois candidatos foram semelhantes. Um foi sobre as já anunciadas privatizações que Cavaco defende deverem ser feitas “com prudência” e Jerónimo diz que “privatizar sim, mas devagar. O outro foi a recusa por ambos da ideia de uma eventual legalização da prostituição. Diga-se de passagem que essa peregrina ideia de regresso à legalização de uma profissão que tem como objecto a venda do corpo da mulher, não lembrava ao diabo. Recordo, a tal propósito, a célebre frase de Litvinov, o representante soviético na Sociedade das Nações (antecessora da ONU) nos anos 30 do século passado, dirigindo-se ao representante português: “recuso-me a falar com o representante de um país que faz da prostituição uma das principais receitas do Estado E há alguém que, queira, quase um século depois, repor tal vergonha?

Enfim, e voltando ao princípio, foi um debate educado, mas como todos os antecedentes, praticamente inútil. Este tipo de debate só convence os já convencidos

terça-feira, dezembro 13, 2005

O debate Alegre/Louçã

Manuel Alegre esteve ontem bastante melhor do que no debate com Cavaco Silva. Menos hirto, menos “senhor bem comportado” a piscar olhos ao centro – coisa que não se coaduna muito bem com o seu perfil e o seu passado. Ontem defrontava um oponente dito de esquerda e com tal não teve necessidade de usar de ambiguidades, tendo-se apresentado como é, como sempre se reclamou. Esteve bem. Só no seu apelo final exagerou no tom populista que já não convence ninguém.

Francisco Louça, pelo contrário, teve o cuidado de moderar os seus conhecidos tiques de esquerda caviar. Foi brilhante, claro, persuasivo como ele sabe ser e fez questão de ostentar todos os seus dotes de professor de economia, num tom que parecia situá-lo mais à direita do que Alegre. Parecia mesmo o Cavaco. Só que mais ágil, mais charmoso, mais newlook – o que não é difícil, dada a consabida falta de predicados, neste aspecto, do outro termo de comparação.

Dei comigo a pensar no fim do debate: macacos me mordam se este rapaz não vai ainda chegar a primeiro ministro. Lábia não lhe falta. Mas se isso vier a acontecer (e eu, a sério, acredito que sim) aposto que não vai ser como militante do bloco de esquerda, ou de qualquer outra esquerda. Vai sim, como elemento do PS ou do PSD. É o costume. E viverá bem pouco quem não vir isto acontecer.
Vão por mim.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Curtas

As más companhias

Mário Soares anda muito entusiasmado com a nova fase da sua campanha, agora que o PS passou a participar, de forma mais visível, na sua campanha eleitoral. Apoiado na sabedoria popular expressa no ditado"antes só que mal acompanhado", duvido que ganhe alguma coisa em ver o seu nome associado a companhias neste momento pouco recomendáveis para o fim que se propõe: a eleição.

É que este Governo d PS teve a deshabilidade rara de, em escassos meses de governação, concitar (não discuto se justa, se injustamente) o desamor de tão vasto espectro da sociedade portuguesa, como não me lembro de ter presenciado. É caso para dizer, parafraseando Churchil, que nunca tão poucos desagradaram a tantos em tão pouco tempo.

Bem andaria, pois, o candidato Mário Soares em evitar quanto pudesse, que o seu nome aparecesse tão ligado a um governo em relação ao qual existe tão amplo ressentimento. Ele até nem morre de amor por Sócrates, toda a gente o sabe!

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Os Crucifixos

Portugal não tem um regime confessional.
Determina a Constituição que haja inteira separação entre a Igreja e o Estado.
A Constituição não permite, portanto, a ostentação de símbolos religiosos nas escolas públicas.
O crucifixo é um símbolo religioso.
Logo, o crucifixo não pode estar afixado nas escolas públicas.
Ponto final, parágrafo.

Qual a razão então do ruído à volta dos crucifixos?
Ele só existe porque este Governo, subtil que nem um elefante em loja de porcelanas, se lhe meteu na cabeça travar batalhas em todas as frentes, ao mesmo tempo e sem qualquer sentido de oportunidade como se toda a gente não soubesse que só se parte para uma batalha depois de consolidadas as posições ganhas na batalha anterior.

Era sangria desatada a questão dos crucifixos nas escolas? Era o ambiente de campanha eleitoral a altura mais indicada para a levantar? Ora abóbora!

A este propósito, um episódio elucidativo:
Há dias, estávamos discutindo este assunto em famílai, quando o meu neto, de 16 anos interveio: - Mas que história é essa dos crucifixos nas escolas? Nunca vi nada disso nas escolas por onde andei. E um sobrinho, de nove anos, com ar mais intrigado deste mundo : Crucifixos? O que é isso?Volto, pois, a perguntar.
Para quê tanta pressa em levantar um problema que não existe?

domingo, dezembro 11, 2005

Harold Pinter acusa...

"NOBEL DA LITERATURA
Pinter acusou Bush e Blair de crimes de guerra

George W.Bush e Tony Blair deveriam ser julgados no Tribunal Pe¬nal Internacional por crimes de guerra na invasão do Iraque, "um acto de terrorismo de Estado", defendeu o dramaturgo britânico Harold Pinter, no seu discurso do Prémio Nobel da Literatura 2005.

O autor de Birthday Party ou O Encarregado - que por se encontrar hospitalizado devido a um cancro gravou a sua palestra (a que chamou "Arte, Verdade e Política"), emitida quarta-feira em Estocolmo - atacou a política externa dos EU A desde a II Guerra Mundial, bem como o seu "patético cordeirinho", a Grã-Bretanha.

Durante uma hora, Pinter, de 75 anos, denunciou as centenas de milhares de mortos provocados pela actuação norte-americana (directamente ou através do apoio dado a ditadores) em países como a Nicarágua, Guatemala, Indonésia, Grécia, Uruguai, Brasil, Paraguai, Haiti, Turquia, Filipinas, El Salvador ou Chile. "Este criminoso ultraje é cometido por um país que se declara líder do mundo livre", atacou ainda o dramaturgo, sobre as detenções em Guantánamo.

Considerando que a linguagem é muitas vezes usada para "encurralar o pensamento", Harold Pinter leu um poema de Páblo Neruda (Explico Algunas Cosas) e outro de sua autoria (Death).

O prémio, no valor de 1,1 milhões de euros, será entregue amanhã, em seu nome, ao editor StephenPage, durante a habitual gala em Estocolmo."

In Diário de Notícias de 9-12-2005, pg 35

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Meu Comentário:
Pois é, estas coisas nunca vêm em grandes parangonas nas primeiras páginas nem na abertura dos noticiários da TV ou rádio, quando são noticiadas é envergonhadamente, para que conste que são pluralistas. São colocados de forma que só aqueles que já sabem, fiquem a fazer.

A alguns jornalistas interessa muito mais, por exemplo a ”sensacional” notícia de que um “ex-comunista apoia Cavaco Silva”, esquecendo-se dizer que esse ex-comunista já o deixou de ser há mais de uma dúzia de anos e é, desde 1999, militante do PS.
Ignorância,má fé ou ambas as virtudes?

O debate Cavaco/Louçã

Não tive oportunidade de ver este debate.
Não devo ter perdido grande coisa. Primeiro, porque os oponentes eram ambos economistas e eu, em questões de economia, sinto-me como uma rã fora do charco; depois, se um me deixa gelado quando fala, o outro, canta bem mas não me alegra.
Bom proveito a quem viu.

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Comentário do meu Amigo Xico

Ò Toino !

Até custa a crer que tenhas deixado passar um dos embates que trazia mais expectativas!

Podias ter dado um lamiré a dizer que não podias assistir e eu teria feito a gravação.

Eu também não vi, nem tenciono ver nenhum. Não compreendo como é que numa campanha para uma Presidência com poderes tão reduzidos se anda a discutir economia dizendo-se que vão fazer assim ou assado. Para arranjar umas presidências abertas sem
utilidade prática porque não adeanta prometer coisas que competem ao Governo, para mandar para trás um ou outro decreto-lei, para chatear quem está na governação é preciso andar a discutir economia ?

O que me parece é que embarcaram todos na estratégia montada pelo staff do de Boliqueime e está-se mesmo a ver que aí quem marca pontos é êle.

Quero ver se o Bochechas também se deixa embrulhar, com lacinhos e tudo porque estamos na época de Natal. Nos debates parece que estão todos com medo de fazer ondas, tudo num ambiente muito civilizado, ninguém põe ninguém em cheque, coisa bonita ...

E no fim o homem acaba por levar a taça!
Um abraço.

Xico

sexta-feira, dezembro 09, 2005

O debate Mário Soares/ Jerónimo de Sousa

Sem grandes surpresas - o modelo, como já referi, não me parece o mais adequado aos nossos usos e temperamento - o debate de ontem foi bastante mais agradável de ver e de ouvir do que o primeiro, entre Cavaco e Alegre. Muito por mérito de Jerónimo, a discussão, como lhe competia, centrou-se sobretudo na avaliação das atribuições do Presidente da República, entendendo o dirigente comunista que, o respeito pelo cumprimento da Constituição, deve ir muito além da defesa dos direitos e liberdades fundamentais dos portugueses mas também do seu bem estar e do igual direito de acesso à educação e à justiça - aspectos que todos os anteriores Presidentes têm descurado.

Em todos os temas propostos pelos moderadores Jerónimo se mostrou perfeitamente à vontade e em relação a todos se mostrou construtivo mas acutilante. Saliento a magnífica tirada de que "com a privatização da ANA para construir o Aeroporto da Ota, os grupos económicos vão comer a dois carrinhos".

Soares foi igual a si mesmo. Afável, tranquilo, conhecedor de todos os meandros da política portuguesa, procurou, sem se comprometer, justificar a dureza das reformas do actual governo, e mostrou-se, como era natural, mais informado sobre a União Europeia, embora Jerónimo o tenha embatucado com a pergunta: então se a integração na União Europeia é tão benéfica para o nosso país, porque razão está o povo português em condições piores do que antes da adesão? . Pois… fundos mal geridos, foi a balbuciante resposta de Soares.

Uma coisa ficou clara: Jerónimo vai mesmo até ao voto e Soares, que aqui meteu um pouco os pés pelas mãos, acabou por, preto no, branco lhe desejar que tivesse uma boa votação.
E assim mesmo: os votos da esquerda para os candidatos de esquerda. Na segunda volta se verá!

De qualquer modo, este foi um debate entre pessoas e não entre múmias (um, porque é isso mesmo e o outro porque não quis destoar do primeiro) do debate anterior. Aqui, os oponentes usaram um tom mais coloquial, olharam-se nos olhos, sempre que podiam, e algumas vezes se interromperam mutuamente para, de forma cordial, se corrigirem ou contraporem opiniões.

Acho que não houve ganhador mas se tivesse de escolher um escolheria Jerónimo de Sousa, que jogou mais na linha de ataque.

Nota positiva dou aos moderadores José Alberto de Carvalho e Judite de Sousa. Fizeram a diferença e estiveram muito bem - o que prova que, mesmo com este modelo, os debates não têm necessariamente de ter a chateza do primeiro. Basta que os candidatos se apresentem sem máscara e frontalmente nos digam de sua justiça.

9-12-2005

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Publicidade em causa própria

Truquista nº 1. Entrada transcrita do site http://www.truca.pt
de Luis Gaspar. Veja que merece a pena

Este senhor da fotografia, como ele diz, "armado em malandro" é o truquista nº 1. Foi, para além de tertemunha da minha primeira ligação à Internet (Maio de 1995), o primeiro visitante da Truca. Não é novo na idade mas já não se pode dizer o mesmo no que diz respeito às novas tecnologias. Nessa área é um autêntico puto! Tem dois sites, um sobre Moscavide (um trabalho único sobre a história e as histórias daquela localidade) e outro sobre Maçores, a aldeia transmontana onde nasceu. Apresentá-lo, com estas referências na Truca, não faço mais do que a minha obrigação mas acontece que o António Gouveia descontente com o "pouco trabalho" que estes dois sites lhe dão, decidiu criar um blogue onde, diariamente, ou quando lhe dá na gana (que é todos os dias) escreve crónicas, preferencialmnte de índole política que, na minha modesta opinião são um achado de frontalidade, clareza e de bom português. Não me admira nada que um dia destes esteja a trabalhar como "botador de opinião" num do jornais da praça. Mas enquanto esse dia chega e não chega vá-se divertindio com as crónicas do António Gouveia aqui.
E faça um bookmark, não se esqueça.

Ainda o debate Cavaco Silva/Manuel Alegre

Escrupuloso como sou, cheguei a recear que a análise negativa que ontem teci em relação aos monólogos que alternadamente (nem nos olhos se olhavam) debitaram ontem na TV os candidatos Cavaco Silva e Manuel Alegre, cheguei a recear que o meu pessimismo fosse resultante da sonolência que os mesmos me provocaram.


A leitura do DN de hoje, deixa-me porém mais tranquilo quanto à justeza dos meus comentários. Não foi o sono, foi a fórmula “americana” usada na apresentação dos oponentes e a chateza real das suas reverenciais e inócuas intervenções. Um debate inútil, disse eu e outros, muito melhor apetrechados do que eu, partilham da minha opinião como se vê no recorte que junto.

O mesmo pensa também o insuspeito Luís Delgado (pelo menos no que toca ao elogio sistemático da direita) que assim começa a sua crónica de hoje: O primeiro debate presidencial redundou num verdadeiro empate técnico ou um perdedor visível, mas que termina com esta evidência: Questão final: porque é que um empate significa uma vitória de Cavaco na sondagem imediata. É o efeito da dinâmica da vitória. As eleições já estão encerradas na cabeça dos portugueses.

Aqui, estou eu de acordo. A dinâmica da vitória é uma condicionante poderosa e por isso foi cuidadosamente preparada. A comunicação social já o elegeu. Mas nós sabemos quem são os donos da comunicação social.

E o povo português o que pensa disto?

A ver vamos, como dizia o cego.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Eleições Presidenciais – o primeiro debate

Começo por dizer que, por muitas virtudes que lhe atribuam, este modelo, dito “americano”, de debates televisivos, “não faz meus género”, como dizem, na sua doce maneira de falar os nosso irmãos brasileiros. De qualquer modo, nos debates a que me lembro de ter assistido na TV americana, os oponentes estão de pé, virados um para o outro, o que lhes permite uma maior vivacidade de gestos, evitando a monotonia e a chateza do ontem nos foi impingido.

Foi um debate perfeitamente inútil. Cavaco, entrou com a pose e a aura de ganhador antecipado que a comunicação social, (esquecida desta vez de que ele é um péssimo consumidor do produto que vende) resolveu atribuir-lhe, e tal como entrou assim saiu.
Limitou-se a afivelar a sua máscara de múmia paralítica (estou sempre à espera que lhe caia um parafuso do maxilar que lhe faça cair a permanente espécie de sorriso que deve ter mandado implantar no dia em que pôs na cabeça chegar a Presidente da República) e a repetir a mesma lenga-lenga de que só se representa a si mesmo nesta corrida. Pois. A ele e a uma entidade abstracta mas muito poderosa, que esconde muitos rostos, e dá pelo nome de Banca; Alegre, manteve-se fiel à conversa da pátria, de Camões, da língua portuguesa (o que não é mau, mas é pouco), mantendo a mesma atitude dúbia de quem não é nem deixa de ser que assumiu na fuga à responsabilidade de ir manifestar na Assembleia da República a sua opinião sobre o próximo Orçamento de Estado… Enfim um debate, jogado à defesa, morno, chato, sonolento... numa palavra:
inútil.

Ai que saudades dos bons velhos debates à portuguesa, olhe que não, senhor doutor, olhe que não. Cassete, diziam. Eu diria antes, empenho, determinação, coragem. Cassete é a enjoativa e monocórdica conversa do Cavaco. Parece ter engolido um disco falhado, o raio do homem! E não há quem lhe acuda a substituir a agulha.

Venham debates à séria. Vivos, participativos, contundentes, esclarecedores, de onde saia sumo e não aguadilha. Nós não somos americanos, Nós somos como somos. Não vale a pena inventar.

Em vez de andarem a perder tempo, que bom seria que o professor Cavaco Silva continuasse a ministrar aos seus alunos os conhecimento de economia em que se especializou e que o Poeta Manuel Alegre se dedicasse a escrever os belíssimos e inspirados poemas que tão bem sabe fazer! É que, por muito que (sobretudo por parte da direita) se tente sistematicamente denegrir a imagem dos políticos, é aos políticos (embora haja alguns nada recomendáveis) e não a amadores ou diletantes, que compete governar e administrar a Polys.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

O Julgamento de Sadam

Detido há meses pelas forças de ocupação americanas e ainda às suas ordens, começou há dias 0 julgamento do deposto presidente do Iraque, Sadam Hussein. Terá sido um ditador e confesso que adoro ver ditadores sentados no banco dos réus. Infelizmente tenho visto tão poucos que, de momento, não consigo lembrar-me de nenhum. Em boa verdade os ditadores constituem uma espécie muito sui-generis. Não há mal que lhes chegue, reproduzem-se com muita facilidade, gozam sempre de excelente saúde (pudera, rodeiam-se dos melhores médicos e dos melhores cuidados) e quase sempre morrem de velhos e de morte natural. E, caso curioso, há sempre uma infinidade de boas almas que só descobre (com muita indignação, diga-se em abono da verdade) a categoria de ditador do extinto alguns dias após o seu passamento.

O caso de Sadam é uma das poucas excepções à regra que cinicamente acabo de referir. É que este ditador, ao contrário dos da maioria de tal espécie, ousou desafiar o Império (os Estados Unidos da América, leia-se). Só por isso. É que os Estados Unidos adoram ditadores, quando eles servem (e quase sempre servem) os seus imperiais interesses. Quando os têm à mão, apoiam-nos; quando não têm, inventam-nos.
Ditadores têm sido às dúzias , desde que me conheço, nos países da América latina com a complacência, cumplicidade, apoio e até imposição dos americanos. Estou a lembrar-me, por exemplo, de um caso, em meados da década de 50 do século passado, em que nem foi preciso a administração americana sujar as mãos. Bastaram os mercenários da United Fruit C.º para destituir o Presidente democrata da Guatemala, Jacob Arbenz, colocar lá o fantoche e seu homem de mão, o coronel Castillo Armas e tudo ficou por isso mesmo. Ninguém piou, ninguém se indignou. E a Guatemala lá continua até aos dias de hoje mergulhada em extrema miséria, para gozo e proveito de umas quantas firmas americanas. Felizmente que eu tenho boa memória!

Do caso do ditador Pinochet todos se lembram. Foi com o seu apoio e inspiração que ele, traiçoeiramente, golpeou a democracia chilena e o seu governo legalmente constituído. Foi ainda com o seu silêncio cúmplice que ele cometeu os piores crimes durante toda a vigência do sanguinário regime que implantou. Há documentos que provam que ainda antes de o governo de Salvador Allende tomar posse, já os americanos (numa antecipação do que o sr. Bush haveria de chamar mais tarde “guerra de prevenção) tinham planos para o derrubar. A traição foi tão ignóbil, tão inesperada, durante as primeiras horas do golpe, o honrado dr. Allende várias vezes perguntou por Pinochet, a quem ele, confiadamente nomeara, dias antes, Chefe do Estado Maior da Forças Armadas, receoso de que tivesse sido abatido pelos golpistas, nem lhe passando pela cabeça que fosse ele, precisamente, o vendido cabecilha do golpe que o havia de vitimar pouco depois.

Ditadores foram também Salazar e Franco e morreram tranquilamente nos seus leitos sem que aos americanos incomodasse os danos que, durante décadas infligiram aos respectivos povos. Ditador foi Noriega, do Panamá, sem que isso lhes fizesse mossa, até ao momento em que ele decidiu deixar de ser seu lacaio e parceiro em suspeitos negócios. Aí eles não hesitaram e permitiram-se mesmo (apenas para capturar o seu arredio ex-parceiro) bombardear a cidade do Panamá, ocasionando a morte de cerca de duas mil pessoas.

Demos então de barato que Sadam era um ditador. Pois era. Aliás os grandes passos da história têm sido sempre, infelizmente, dados por ditadores: Alexandre, Júlio César, Octávio, Gengis Khan, Napoleão, Mao-Tsé-Tung, Estaline, não esquecendo o nosso grande estadista mas cruel governante Marquês de Pombal do sanguinário processo dos Távoras e outras malfeitorias até ao criminoso incêndio do bairro de pescadores na Trafaria…mas adiante.

Então, e para destituir o ditador Sadam, os EU precisavam de destruir uma nação - por sinal o berço da civilização em que vivemos - e de matar centenas de milhar de pessoas? Então a CIA, tão exímia em eliminar adversários não tinha meios de raptar, eliminar ou neutralizar este ditador? Ou melhor ainda (isso sim, seria o ideal) não tinha meios para financiar a oposição e organizar um movimento insurreccional que o depusesse?!!! Não, o império precisava absolutamente de se instalar e controlar, in loco, a rica região petrolífera e estratégica onde o Iraque se situa. Inventou então o “problema” da posse de armas de destruição massiva e das armas químicas que nunca existiram. Inventou a ameaça poderio militar do Iraque (coitados, ao fim de uma dezena de anos de bloqueio que poder militar poderiam eles ter, como aliás ficou provado ao fim de poucos dias quase sem oferecer resistencia), e inventou um Iraque, motor de terrorismo – o que à época era uma consabida mentira. Bush e a direita radical dos Estados Unidos engendraram assim um dos maiores embustes da história, cujas consequências estamos todos a pagar, sabe-se lá até quando!

Agora, sim. Agora o Iraque é motor e santuário do terrorismo a uma escala mundial. Que ganhou a humanidade, ou mesmo os Estados Unidos, com esta criminosa e idiota aventura?

- Recrudescimento do terrorismo onde ele já existia; alargamento a zonas onde não o havia e a indivíduos que nunca lhes passou pela cabeça pratica-lo (veja-se o caso hoje noticiado nos jornais de uma cidadã belga que se fez explodir no Iraque, matando 5 ou 6 pessoas); transformação de um estado reconhecidamente laico e tolerante num estado confessional e extremista; perseguição aos judeus e cristãos que, sob o regime de Sadam, gozavam de inteira liberdade de culto, bem como destruição das suas igrejas e sinagogas; regresso ao uso do véu por parte das mulheres; transformação da fervilhante e moderna Paris do médio oriente num monte de entulho e destroços, onde é perigoso sair à rua, e onde diariamente há gente assassinada. Atentados, mortes, destruições, constituem o dia a dia de todas as cidades do vasto Iraque. Que bela vitória! Que bela libertação de um país!

Que bonito seria ver Sadam apeado e destituído de poderes por acção do seu próprio povo (ainda que com a ajuda dos americanos e/ou de outras nações) e julgado agora por um tribunal livre (não esquecer que dois dos seus advogados já foram assassinados) constituído por cidadãos livres, sem a interferência de invasores estrangeiros!

É caso para dizer que falta um réu ao lado de Sadam - Bush e toda a sua administração radical. Porquê não editar um baralho com o nome de todos estes senhores, cabendo a Bush o privilégio de o encabeçar como “ás de espadas”, o mesmo trunfo que, julgo, coube ao ditador iraquiano.

PS: Tenho consciência de que não digo aqui nada que não tenha sido dito por muitas outras pessoas e pensado por muitos milhares de outras. Mas faço questão de o deixar escrito. Não quero que os meus descendentes possam dizer mais tarde: que raio é que este nosso ancestral parente andou por cá a fazer que, tendo escrito tanta coisa, não levantou a voz sobre este assunto?

Quero que se saiba que sempre o disse e o pensei, mesmo quando o governo português de então, com Durão Barroso à frente e uns escribas sem vergonha, tipo Luís Delgado e quejandos, lambiam as botas da administração Bush e insultavam mesmo quem tinha um leitura diferente da deles na questão da invasão do Iraque.
1-12-2005