ENQUANTO E NAO

sexta-feira, dezembro 09, 2005

O debate Mário Soares/ Jerónimo de Sousa

Sem grandes surpresas - o modelo, como já referi, não me parece o mais adequado aos nossos usos e temperamento - o debate de ontem foi bastante mais agradável de ver e de ouvir do que o primeiro, entre Cavaco e Alegre. Muito por mérito de Jerónimo, a discussão, como lhe competia, centrou-se sobretudo na avaliação das atribuições do Presidente da República, entendendo o dirigente comunista que, o respeito pelo cumprimento da Constituição, deve ir muito além da defesa dos direitos e liberdades fundamentais dos portugueses mas também do seu bem estar e do igual direito de acesso à educação e à justiça - aspectos que todos os anteriores Presidentes têm descurado.

Em todos os temas propostos pelos moderadores Jerónimo se mostrou perfeitamente à vontade e em relação a todos se mostrou construtivo mas acutilante. Saliento a magnífica tirada de que "com a privatização da ANA para construir o Aeroporto da Ota, os grupos económicos vão comer a dois carrinhos".

Soares foi igual a si mesmo. Afável, tranquilo, conhecedor de todos os meandros da política portuguesa, procurou, sem se comprometer, justificar a dureza das reformas do actual governo, e mostrou-se, como era natural, mais informado sobre a União Europeia, embora Jerónimo o tenha embatucado com a pergunta: então se a integração na União Europeia é tão benéfica para o nosso país, porque razão está o povo português em condições piores do que antes da adesão? . Pois… fundos mal geridos, foi a balbuciante resposta de Soares.

Uma coisa ficou clara: Jerónimo vai mesmo até ao voto e Soares, que aqui meteu um pouco os pés pelas mãos, acabou por, preto no, branco lhe desejar que tivesse uma boa votação.
E assim mesmo: os votos da esquerda para os candidatos de esquerda. Na segunda volta se verá!

De qualquer modo, este foi um debate entre pessoas e não entre múmias (um, porque é isso mesmo e o outro porque não quis destoar do primeiro) do debate anterior. Aqui, os oponentes usaram um tom mais coloquial, olharam-se nos olhos, sempre que podiam, e algumas vezes se interromperam mutuamente para, de forma cordial, se corrigirem ou contraporem opiniões.

Acho que não houve ganhador mas se tivesse de escolher um escolheria Jerónimo de Sousa, que jogou mais na linha de ataque.

Nota positiva dou aos moderadores José Alberto de Carvalho e Judite de Sousa. Fizeram a diferença e estiveram muito bem - o que prova que, mesmo com este modelo, os debates não têm necessariamente de ter a chateza do primeiro. Basta que os candidatos se apresentem sem máscara e frontalmente nos digam de sua justiça.

9-12-2005