ENQUANTO E NAO

quarta-feira, dezembro 14, 2005

O debate Cavaco Silva/Jerónimo de Sousa


Mais um debate morno. Continuo a pensar que deste modelo muito dificilmente poderá sair um vencedor, quer de cada um deles, quer do seu conjunto. Cavaco continuou igual ao que já nos acostumou, só que, desta vez, menos hirto, mais à vontade, tendo mesmo deixado cair o tal sorriso artificial a que me tenho referido. Terá ele lido o meu blogue? (risos) De qualquer modo o discurso continua a ser o de antigo primeiro ministro e o de professor de economia.

É obvio que Jerónimo de Sousa não tem (nem precisa de ter) os mesmos conhecimentos que ele, nessa matéria, mas têm, como nenhum dos outros candidatos, conhecimento da realidade concreta em que vive o povo português, mormente das classes trabalhadoras a que pertence, nunca deixando de as confrontar com as teorias do Professor. Uma a uma, foi assim desmontando a bondade do discurso do seu oponente. À necessidade sacrifícios defendida por Cavaco para aumentar “o bolo”, Jerónimo contrapôs a exigência de que para isso ”o bolo” seja distribuído com maior equidade: à indispensabilidade da existência de concertação social defendida por Cavaco, Jerónimo denunciou a má qualidade dessa concertação e denunciou, um a um vários, prejuízos para os trabalhadores decorrentes de acordos forjados no tempo do seu Governo com a cumplicidade da UGT, e por aí fora...


Delicioso foi o momento em que, cortando o rol de promessas do seu oponente, Jerónimo opôs a frase do filósofo de que “a natureza atribuiu ao ser humano o dom único de, através do discurso, esconder o pensamento” no que foi interrompido por Cavaco com a celebre réplica de Álvaro Cunhal: 0lhe que não, olhe que não!. Teve graça, mas não anulou a verdade da oportuna citação de Jerónimo.

Curiosamente houve pelo menos dois assuntos em que as opiniões dos dois candidatos foram semelhantes. Um foi sobre as já anunciadas privatizações que Cavaco defende deverem ser feitas “com prudência” e Jerónimo diz que “privatizar sim, mas devagar. O outro foi a recusa por ambos da ideia de uma eventual legalização da prostituição. Diga-se de passagem que essa peregrina ideia de regresso à legalização de uma profissão que tem como objecto a venda do corpo da mulher, não lembrava ao diabo. Recordo, a tal propósito, a célebre frase de Litvinov, o representante soviético na Sociedade das Nações (antecessora da ONU) nos anos 30 do século passado, dirigindo-se ao representante português: “recuso-me a falar com o representante de um país que faz da prostituição uma das principais receitas do Estado E há alguém que, queira, quase um século depois, repor tal vergonha?

Enfim, e voltando ao princípio, foi um debate educado, mas como todos os antecedentes, praticamente inútil. Este tipo de debate só convence os já convencidos