ENQUANTO E NAO

sexta-feira, dezembro 16, 2005

O Debate Jerónimo de Sousa/Francisco Louçã



Foi o tipo de debate que se esperava. Jerónimo de Sousa é de esquerda, o Professor Dr. Francisco Louça também (ainda) é de esquerda e as divergências seriam sobretudo de forma mais do que de fundo. Na verdade as divergências entre os dois candidatos manifestaram-se apenas no diferente entendimento em relação à forma de participação de Portugal na União Europeia e no que se refere à Nato. Louçã acha que deve ser extinta pura simplesmente, enquanto Jerónimo, mais realista, é de opinião que, uma vez que existe a sua extinção deve ser objecto de um estudo prévio da situação.
Claro que em flores de estilo, nenhum dos actuais candidatos se compara a Louçã e as suas intervenções tem sempre um brilho que nenhum deles pode acompanhar, mas nem sempre quem fala melhor é quem tem mais razão, como aconteceu no debate de ontem

Mal, mal, indecentemente mal , estiveram os moderadores que à viva força queriam que os dois candidatos discriminassem as diferenças que os separam. Queriam sangue, numa palavra, que é o que as televisões gostam. Habilidosamente os candidatos se foram esquivando à agressiva pressão a que foram sucessivamente sujeitos. Quanto a mim, cada deputado tinha apenas que dar a sua opinião sobre cada um das questões que lhe eram colocadas. Cabia aos moderadores e ao público avaliar quais a diferenças.

Unânime, entre outros aspectos foi a recusa em aceder ao apelo de Jorge Coelho para que, a fim de derrotar Cavaco Silva, os outros candidatos de esquerda abdiquem das suas candidaturas em favor de Mário Soares. Qualquer deles se mostrou firmemente determinado em ir até ao fim.

Na verdade, o que aflige Coelho não é a tanto a hipótese de Cavaco ganhar à primeira volta – o que, a acontecer, não é por haver vários candidatos à esquerda. O que lhe dói é a hipótese de Manuel Alegre ficar à frente de Mário Soares

José Alberto de Carvalho foi mesmo ofensivo (o que muito me surpreendeu) ao perguntar se o empenho de cada um ter melhor resultado do que o outro não seria motivado pelo avultado subsídio que recebem os candidatos que obtêm mais de 5% do resultado dos votos. Então não é óbvio que para qualquer candidato os motivos políticos são, só por si, incentivo suficiente por obter melhor resultado que os restantes concorrentes?
Teve a indignada resposta que merecia.

Deselegante também foi, no apelo final ao voto por parte de Louça., a oportunista invocação do nome de militantes do Partido Comunista não inteiramente alinhados com a respectiva direcção e já falecidos, como modelos e inspiradores da esquerda moderna, que o Bloco de esquerda diz representar