ENQUANTO E NAO

terça-feira, abril 24, 2007

OS CRAVOS DE ABRIL


Os cravos que Abril abriu

Ninguém os pode fechar

A terra que os produziu

Muitos outros pode dar


Os cravos que Abril abriu

Não servem só pra’ enfeitar

Requerem rega constante

Anda aí muito tratante

Que conspira p’rós secar


Cabe nós que Abril seja

Acção e não liturgia

E que nele o povo veja

Aquilo que mais deseja

Na prática do dia-a-dia


Muito que foi conseguido

Nos dias da Revolução

Já nos foi surripiado

Porque nós temos deixado

Por manifesta inacção


Isto está a andar p’ra trás

E nós, parvos, a olhar p'rà lua…

Torna-se urgente acordar

E a Revolução retomar,

Se for preciso, na rua!

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VINTE E CINCO DE ABRIL, SEMPRE
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Foto gentimente cedida por
" Bom dia Isabel "


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Veja também
PERDOAI-ME SENHORA
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quinta-feira, abril 12, 2007

FIM DO MITO SEBASTIANISTA ?

A notícia aparece pelo menos em quatro jornais de hoje, que tive oportunidade de consultar:

Jornal de Notícias, Correio da Manhã, Jornal Digital e Jornal A Guarda

dois investigadores o português Carlos d'Abreu,
juntamente com outro investigador espanhol, Emilio Rivas Calvo, pretendem provar, com base em documentos a que tiveram acesso, que o Rei Don Sebastião, o tal que deveria voltar numa manhã de nevoeiro está morto e muito bem enterrado no Mosteiro dos Jerónimos, sendo por isso uma farsa a historia do seu desaparecimento

Porque o assunto é importante e porque o Dr. Carlos d'Abreu é meu conterrâneo e amigo, não resisto a colocar aqui o texto de um dos Jornais citados, o Jornal "A Guarda"

Transcrevo o texto sobre tal assunto no Jornal " A Guarda"de 12-4.2007

Dois historiadores desvendam mito da morte do Rei D. Sebastião

Os investigadores Carlos d‘Abreu, residente na Guarda e Emilio Rivas Calvo, de Salamanca, Espanha), tiveram acesso a documentos que provam que o Rei D. Sebastião tombou no campo da batalha de Alcácer Quibir (Marrocos), em 1578, e que o seu corpo foi resgatado e transferido para Ceuta, onde permaneceu até ser trasladado para Portugal.

O resultado da investigação, que será publicado no próximo número da Revista Cultural Praça Velha, editada pela Câmara Municipal da Guarda, leva os historiadores a defenderem, no seguimento da posição assumida por outros estudiosos, a abertura do túmulo de D. Sebastião e à análise das suas ossadas pelo método do ADN.

A batalha de Alcácer Quibir foi travada no dia 4 de Agosto de 1578 em Marrocos, tendo o exército português sofrido uma grande derrota frente aos mouros, que culminou com a morte do Rei D. Sebastião.

De acordo com o investigador Carlos d‘Abreu, a História refere, pelos relatos de Jerónimo de Mendonça, cronista de “A Jornada de África”, que “ninguém viu morrer o rei”, daí que tenha sido criado em Portugal um mito em torno do monarca. “A historiografia criou o mito sebastiânico, em como ele, não terá morrido no campo de batalha, que antes, desonrado pela derrota, terá partido e andado a vaguear por aí”, afirmou ao Jornal A Guarda.

Com a investigação iniciada em 2003, quando estava casualmente de férias em Ceuta, o historiador garante que D. Sebastião “morreu e o seu corpo foi resgatado do local da batalha”. Conta que durante o processo de investigação, realizada em colaboração com o investigador espanhol de Salamanca, encontrou documentos relacionados com a entrega do corpo do monarca português, no Archivo General de Simancas (Espanha). “A primeira reacção que tive foi que, eventualmente, os documentos não fossem verdadeiros”, conta, mas a sua autenticidade foi garantida pelos serviços do Arquivo.

Os historiadores tiveram acesso a vária documentação relacionada com o processo pós-morte do monarca que tombou na Batalha de Alcácer Quibir, sendo de destacar três deles: a acta da entrega do seu corpo em Ceuta (datada de 10 de Dezembro de 1578, que relata a recepção do corpo e a sua depositação na igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade); uma comunicação (emitida no dia seguinte) do embaixador do Rei Filipe II, a confirmar a chegada do cadáver a Ceuta; e um terceiro documento, uma carta do cardeal-rei D. Henrique a Filipe II onde “agradece tudo o que Filipe II fez em relação à recuperação do corpo”.

Carlos d´Abreu refere ainda que o corpo do monarca esteve em Ceuta até 1582, quando o rei Filipe I de Portugal “fez trasladar o corpo de D. Sebastião para Portugal e tumulou-o, bem como à sua família, no Mosteiro dos Jerónimos”.

Investigadores defendem abertura do túmulo e estudo das ossadas de D. Sebastião

Os dois investigadores defendem agora, à semelhança de outros, que o túmulo de D. Sebastião “seja aberto e se realizem análises de ADN do corpo do Rei e dos seus antepassados que também ali se encontram sepultados”. “Comungamos desta opinião porque achamos que a ciência deve ser posta ao serviço da verdade. Sendo eu um visitante do Mosteiro dos Jerónimos, sabia que existia lá um túmulo de D. Sebastião, mas não lhe dava importância porque a ideia que a historiografia transmitia era que o túmulo estava vazio, que era simbólico”, refere Carlos d`Abreu.

“Acho que isso deve ser feito. Se hoje a ciência nos dá essa possibilidade, por que razão, havemos de continuar a alimentar o mito? A quem serve hoje o mito?”, questiona.

No entender de Carlos d´Abreu, os historiadores que se têm debruçado sobre o estudo de D. Sebastião “foram negligentes, porque não se esforçaram por dissipar essas dúvidas que ainda hoje persistem”. “Dá a sensação que houve uma estratégia, montada por parte não sei de quem, no sentido de sonegar a informação contida nestes documentos que, por serem conhecidos por alguns historiadores, mesmo que poucos, não são por isso inéditos”, afirma ao Jornal A Guarda.

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segunda-feira, abril 02, 2007

PADRE MAX: - um crime que aguarda justiça


A direita e muitos que se dizem de esquerda, impigem-nos-nos a toda a hora a cassete sobre as turbulências do chamado "verão quente" e de todo o periodo do PREC, provocadas, claro está, pela esquerda e sobretudo (poderia lá ser de outro modo?) pelos comunistas.
Tantas vezes o repetem que alguns até já acreditam que foi isso que aconteceu.
Ora a verdade é bem diversa. O verão quente quem o aqueceu, foi a direita reaccionária, revanchista e caceteira. Quem não se lembra do regime de terror imposto por tais arruaceiros (sobretudo em localidades fora dos grandes centros) aos militantes e simpatizantes comunistas, com assaltos, incêndios e depredações aos centros de Trabalho do PCP? Quem não se lembra das mocas de Rio Maior? Quem não se lembra dos mortos junto à sede da PIDE, no último estertor daquela famigerada corporação? Quem não se lembra dos atentados bombistas e do clima de intimidação por parte dos sinistros ELP e MDLP? É caso para se dizer "num lado se vende o vinho e noutro se põe o ramo ", ou como dizia minha Mãe, "chama-lhe, filho, antes que te chamem a ti".
A gente sabe como é.

Passam hoje precisamente 30 anos sobre o assassinato do Padre Maximino e da estudante Maria de Lurdes, num cobarde atentado à bomba, perpetrado por gente que nunca se conformou com as alterações que o 25 de Abril introduziu nas suas mordomias (estúpidos!, bastava ter calma que elas voltaria, como veio a acontecer) e, - da fama não se livra. - com a conivência de pessoas afectas à Igreja de Braga
Até hoje, ninguém pagou por esse crime. Aqueles que tanto prezam a vida e se esganiçam a bramir contra a interrupção voluntária da gravidez, nunca se preocuparam com a supressão da vida a estes dois membros da sua igreja, como encolhem os ombros aos milhares de mortos em que, ao longo de séculos foram assassinados em nome da religião que praticam e defendem.

Eu por mim, nada mais posso fazer, senão recordar aqui este crime, para que a memória não se perca e que, pelo menos, não julguem que nos comem por parvos.

Mas quem disso sabe melhor do que eu é o Padre Mário Oliveira
a quem passo a palavra

1. Foi já há 30 anos que os mataram à bomba, ao Pe. Maximino e à estudante Maria de Lurdes que vinha com ele das aulas que ambos davam à noite a trabalhadores na Cumieira, nas proximidades de Vila Real. Mas o crime continua aí em carne viva. E a clamar por justiça.

2. Não escutar semelhante clamor que se levanta do chão de Portugal e daqueles dois corpos jovens destroçados pela bomba é um outro crime não menos hediondo que o de há 30 anos. Ora, um país cuja História seja tecida de crimes e de sangue de vítimas inocentes que clamam, em vão, por justiça será sempre um país sem remissão, sem dignidade, sem humanidade, mais pesadelo do que comunhão. E tal tem sido o nosso país, apesar de Abril, um Portugal de pequeninos e de chico­espertos a caminho da cauda da Europa, um país de consumidores compulsivos de novelas e de futebol e de Religiões, cada qual a mais esotérica e exploradora, um país de apostadores compulsivos nos jogos da santa casa (quando a casa mãe de todos os jogos a dinheiro é santa, porque não há-de ser santo, e santo subito, o fatimista papa João Paulo II, cujo longo pontificado não deixou pedra sobre pedra do promissor e revolucionário Concílio Vaticano II?)

3. O pior é que quando não nos atrevemos a ser e a viver como seres humanos, depressa ultrapassamos as bestas em inumanidade e em crueldade. Por mais que nos enfeitemos de beatos e de santos, e de outros títulos secularizados cheios de pompa e de circunstância. Aliás, os títulos só assentam bem em quem tem montes de inumanidade a esconder e mãos cheias de sangue a disfarçar. Aos seres humanos com espinha dorsal e frontalidade, os títulos só atrapalham e depressa ficam pelo caminho, com os seus portadores a ser excomungados e votados ao ostracismo. É assim: Ou somos irmãos e companheiros e comportamo-nos como tal todos os dias, ou constituímo-nos em inimigos dos demais. Quem não se faz próximo dos que sofrem e estão para aí votados ao ostracismo torna-se um aborto humano. Pode não matar, não roubar, nem destruir, mas dele não se poderá dizer que é um ser humano integral. Ser mulher, ser homem a valer é comprometer-se com os demais, até que todos sejamos gente. Não se trata de subir, de fazer carreira dentro do Sistema e desta Ordem Mundial intrinsecamente perversos. Trata-se de descer para se chegar a ser. Quando nos promovem e, assim, nos distanciam dos últimos e das vítimas, despromovem­nos em humanidade. A melhor receita para fazer um canalha é promovê-lo a chefe do bando e atafulhá-lo de privilégios e outras benesses. Na Igreja, é fazer de um cristão bispo. Na Sociedade é fazer de um político ministro. Na empresa, é fazer de um trabalhador patrão. Com o passar dos dias, veremos diminuir o ser humano e desenvolver-se um monstro, cada vez mais distante e arrogante na sua relação com os da base e todo mesuras e salamaleque na sua relação com os do vértice da pirâmide que são também os donos de D. Dinheiro.

4. A menos que sejamos como o nosso querido Maximino mártir. Padre, mas com uma salutar prática quotidiana de anti-padre. Padre, mas com coração e braços e cabeça e mãos e pés e corpo de irmão e de companheiro. Escandalosamente próximo das pessoas da base e longe dos templos e dos altares. Sobretudo, longe dos privilégios que a batina e a estola sempre dão a quem se apresenta vestido/disfarçado com uma e com outra. Com ele, aprendemos que podemos assumir serviços, nunca privilégios. Os privilégios corrompem e acabam por fazer desaparecer o ser humano. Ou recusamos os privilégios que o Poder faz questão de conferir a quem exerce determinada função, ou tornamo­nos progressivamente menos humanos. Por isso, quando não nos deixam recusar os privilégios inerentes à função, só nos resta recusar a função. Se a aceitamos, assinamos nesse instante, o nosso próprio processo de despromoção de ser humano, para nos tornarmos progressivamente um funcionário do Sistema e do Dinheiro mais ou menos subserviente.

5. Na sua rebeldia e juventude, o Padre Maximino nunca se deixou enrolar. O seu jeito de ser padre era o seu jeito de ser homem. Como um menino. Atrevido. Indomável. Alegre. Gaiato. Solidário. Desprendido. Pobre. Comprometido. Insubornável. Dissidente. No Sistema, mas sem ser do Sistema. No Sistema, mas para o fazer implodir, nunca para se aproveitar dele. Um padre­para­os­demais. Para que os demais crescessem como pessoas, como seres humanos, em toda a sua originalidade e em toda a sua graça e verdade.

6. Não lhe perdoaram semelhante ser e viver. Tentaram domesticá-lo. Funcionalizá­lo. Clericalizá­lo. Em vão. Onde ele estivesse, estava o Sopro, o Vento, o Espírito. Ainda hoje, trinta anos depois, o seu nome continua a ser maldito. Como Jesus, o de Nazaré (não se iludam. O que hoje é por aí o mais bendito de todos os nomes não é Jesus o de Nazaré crucificado pelo Império e pelo Templo do seu país; é um Jesus light, habilmente reciclado pelo Império de Roma e pela Igreja católica romana que lhe sucedeu). Aliás, a morte violenta com que executaram o Pe. Maximino deixou bem claro urbi et orbi que padres assim nunca mais. A sua curta mas intensa vida histórica deveria ser bênção, exemplo a seguir, alfobre. E é maldição, vergonha, terreno maninho. Os bispos e a Igreja institucional tiveram e têm nojo dele. Nenhum deles apareceu a dar a cara no seu funeral. E hoje, trinta anos depois, continuam aí todos a ter vergonha de pronunciar o seu nome. É como se ele nunca tivesse existido.

7. E, no entanto, é de homens e de mulheres como o pe. Maximino que o nosso mundo precisa. Padres (e homens/mulheres) misseiros e funcionários do religioso, sempre tivemos que bastasse, séculos e séculos. E bispos também. E papas. Hoje, são menos em número, pelo menos os padres (ainda não há crise de vocações para bispo nem para papa!...), mas ainda são demais. Um só que seja e já é demais. Do que precisamos é de padres/presbíteros (homens/mulheres) que sejam seres humanos, irmãos e companheiros dos da base, pais com entranhas de mãe, com cabeça e mãos de parteira, que na relação com os demais ajudem a vir à luz o ser humano que anda em gestação em cada mulher, em cada homem que veio a este mundo. E que corre o risco de abortar e nunca chegar a vir à luz. Porque o Sistema da Alienação e da Mentira trabalha dia e noite, sem fins de semana e sem férias, para fazer abortar todos os que um dia nasceram neste mundo. O Sistema sabe que lá onde houver seres humanos a valer não há lugar para ele. Nem futuro! Por isso tudo faz para que nunca cheguem a ser seres humanos. Fiquem abortos, sempre.

8. Trinta anos depois do assassinato de Maria de Lurdes e do Pe. Maximino, a Igreja a que pertenço e a que eles pertenceram continua aí gritantemente calada. Envergonhada. Sem audácia para se rever no Pe. Maximino. Sem audácia para fazer dele o paradigma de padre/presbítero para o século XXI. Ainda em vida, atirou-o cruelmente para a valeta, quando foi por ele informada que iria fazer da Política (não do Poder!) a sua Intervenção e a sua Eucaristia. Em lugar de o apoiar e reforçar a comunhão fraterna com ele, abandonou-o às feras. Foi como dizer aos seus inimigos: podeis fazer com ele o que quiserdes, que nós não diremos uma palavra, nem esboçaremos um gesto. Ou, pior ainda: podeis cometer o hediondo crime de o matar pelas costas, à falsa fé, que nós jamais condenaremos esse crime. Pelo contrário, esse crime constituirá até um alívio. Para o país. E também para a Igreja institucional que nós, bispos católicos, somos.

9. O terreno ficou livre e a descoberto. E os inimigos do Pe. Maximino puderam avançar e matá-lo à vontade. Provavelmente, terão celebrado festivamente a sua morte. Pela calada. Numa liturgia inumana como eles. E com a bênção de algum cónego de nomeada e de algum bispo residencial. Não é verdade que também os sumos sacerdotes Anãs e Caifás, em Jerusalém, no tempo de Jesus, celebraram festivamente a sua morte violenta na cruz?

10. E agora? Trinta anos depois, tudo está consumado. Está? Não, não está! Tudo está apodrecido. Trinta anos depois, ele é corrupção por toda a banda. Ele é hipocrisia e mentira a jorros. Ele é Idolatria sem limites. O senhor D. Dinheiro não tem mãos a medir para atender tanta clientela. Como país, vamos a pique para o abismo, agora com Cavaco e Sócrates ao leme. Silenciaram os poetas e os profetas. Mataram o Debate. Nos seus medos da Liberdade e da Responsabilidade e na mais completa subserviência ao grande Capital (“Às suas ordens, meu Capital”, diz a manchete do último Fraternizar!), esta dupla de dirigentes sem entranhas de humanidade tem o condão de tornar as almas das portuguesas, dos portugueses ainda mais pequenas. Até quando? Até quando nós consentirmos. Soprasse todos os dias em nós o Vento/Espírito que um dia fez acontecer e viver o Pe. Maximino e este país seria outro. Mas o que hoje sopra forte por aí é o Vento/Sopro de D. Dinheiro. Quem se atreve a resistir-lhe e a ser e a viver pobre até ao fim dos seus dias? Quem se atreve a ser ateu deste deus cruel que se alimenta de gente? Por mim, aqui estou, pobre, longe dos templos e dos altares, amigo, irmão e companheiro, no jeito do Pe. Maximino. Contem comigo para as novas clandestinidades que urge voltar a viver e para as novas conspirações que urge voltar a iniciar. Na companhia de Jesus e de ateus. E do Pe. Maximino e de Maria de Lurdes e de todos os outros mortos ressuscitados. Cuidem­se, porque os dias que vivemos são de chumbo. E é Inverno.

Pe. Mário Oliveira