SÓCRATES a NU
A ROSA MURCHA DE SÓCRATES
Baptista-Bastos
No emocionado êxtase de si próprio, José Sócrates anda pelo País a distribuir computadores. Faz discursos repletos de adjectivos e de nenhumas reticências. Como ninguém dá nada de graça, os recebedores das máquinas têm de as pagar, mais tarde ou mais cedo, acaso com leves descontos. Tudo em nome da ciência, da tecnologia e do conhecimento. E ponha lá, também, da "esquerda moderna", instrutiva expressão inventada nos melancólicos vagares de José Sócrates. Os portugueses estão cada vez mais aflitos, andam cheios de Prozac, enchem os consultórios de psicólogos e de psiquiatras, e o querido primeiro-ministro entrega-lhes computadores, na presunção de que vai erguer o moral da pátria.
Portugal existe numa litografia graciosa e colorida, segundo no-lo é apresentado pelo Governo. Mas os números do desespero são assustadores. Admito que as evidências da realidade sejam extremamente maçadoras para a desenvolta modernidade do Executivo: meio milhão de desempregados; dois milhões de compatriotas em risco de pobreza; três milhões de famílias endividadas em cerca de 1,2 vezes o seu rendimento anual; 48 mil professores sem colocação; milhares de enfermeiros em estado de susto; e as dez maiores fortunas do País cresceram quase 14%.
Possuo enorme rol de malformações sociais, criadas, aumentadas ou não resolvidas por este Governo que somente serve para nos dar desgostos, enquanto acusa os objectantes de intrigas rasteiras e manobras sórdidas. A verdade é que começamos a assistir a pequeninas insurreições de militantes do PS, que apontam Sócrates à execração socialista e o acusam de ter murchado a rosa. Ainda há dias, Alfredo Barroso deu alguma luminosidade ao triste Sol do Saraiva, aproveitando o rodapé em que foi paginado o seu artigo para reduzir a subnitrato este PS, o Governo e adjacências. É um texto exemplar, pelo que nomeia de danos irreversíveis provocados pela vigência destes "socialistas modernos".
Porém, José Sócrates não só dissolveu as expectativas nele depositadas. Avariou, irremediavelmente, a grandeza de intenções contida na ideia de socialismo. Guterres causara amolgadelas graves no corpo cambaleante do infeliz partido, mas nada que se compare às cacetadas de Sócrates. Daqui para o futuro quem vai acreditar nos socialistas, no socialismo, no PS?, cuja história carrega um peso insuportável de derivas, desvios e traições.
José Sócrates pode ser um guloso de tecnologia, um amante desvairado de cibernética, um "animal feroz", como se definiu numa preguiçosa e insensata entrevista ao Expresso. O que José Sócrates não é, sabemo-lo todos - e todos os dias: nem socialista, nem grande político nem grande primeiro-ministro.
O sublinhado é de minha responsabilidade
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-escritor e jornalista
bbastos@netcabo.pt
posted by António Melenas at
20:25
3 Comments:
Senhor Melenas
Tenho constatado que o senhor transcreve para o seu blogue os artigos que o Baptista-Bastos escreve no Diário de Notícias.
Tudo bem, os escritos daquele senhor são muito bons e merecem o realce que lhes dá.
Quase sempre o assunto é arrasar o Governo e o primeiro Ministro, que a única coisa de jeito que faz é distribuir computadores que no fim até acabam por ser pagos por quem os recebe, segundo ele diz.
E aqui permito-me perguntar: então se o Governo só tem feito asneiras e o Sócrates é um mau primeiro ministro, como é que se justifica que nas sondagens o PS continue á frente ? Os portugueses são masoquistas ?
Neste tempo todo que decorreu desde a tomada de posse não foi tomada uma única medida positiva?
Ou foi coisa tão pouca que nem dá para o sr. Baptista-Bastos reparar ?
Não discordando de muitos dos assuntos que são abordados, acho que os textos ficariam mais equilibrados se mencionassem também alguma coisa de jeito que o Governo tem feito. Ou não há nada a mencionar ?
A crítica voltada só para um dos lados pode tornar-se suspeita quanto á sua finalidade e contribui muito pouco para esclarecimento do leitor menos atento.
Cumprimentos.
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Anónimo, at 06 setembro, 2007 11:40
Caro Amigo,
sendo o seu comentário anónimo, poderia nem o publicar e responder-l ainda menos, até porque não sei a quem nem para onde. Porém, como é feito educadamente, aqui neste mesmo local vou lhe dar uma resposta, também serena, na esperança de que por aqui volte a passar, mas que também servirá para esclarecimento de outros meus visitantes.
Quanto às opiniões de BB, você mesmo o pode confrontar através do seu correio electrónico que está no fim do respectivo Texto.
Mas porque também eu partilho das suas piniões, permita-me que sob o que penso diga alguma coisa.
E começo por dizer que encarei com grande esperança o governo de Sócrates. Fez um bom trabalho como secretário de estado do Ambiente, fez promessas eleitorais de criação de centenas de milhar de postos de trabalho e implementação de reformas que se impunham e que, com uma maioria confortável na AR, poderia, como ninguém antes dele, levar a cabo.
Afinal era e é tudo um bluf. Mistura verdades com mentiras (mais estas do que aquelas) e assim vai enganando os trouxas . Quer casos concretos? O Ministro da saúde veio Há dias, com ar impante, vangloriar-se de que só existem 200 e não sei quantos mil doentes em lista de espera para intervenções cirúrgicas (número astronómico que não é motivo de orgulho para ninguém) e referia numeros médios de tempo de espera em em várias especialidades. Fixei a oftalmologia que é a que me interessa e que segundo ele anda pelo 4,5 meses. MENTIRA Há cinco anos increvi-me no Hosp. Garcia de Orta para uma consulta, que só obtive ao fim de três anos; nessa consulta chegou-se à conclusão que devo ser operado às cataratas; já se passarm mais 26 meses e.. continuo. à espera. MENTIROSO.
A inefável ministra da educação veio há dias dizer que em Portugal a média de alunos por professor é de 8 ou 9. MENTIRA. Nas escolas que eu conheço cada professor tem cerca de 30 alunos por turma.
Repare quie não andei a fazer estudos. Apenas olho para o lado.
É uma política de embuste! E muito me doi que esta seja a política de um governo socialista (socialista?)
Quanto às sondagens favoráveis é Muito simples de explicar. A direita, não a direita egajada em actividades partidárias,é óbvio, mas os simples votantes de direita e a alta finança e as grandes empresas, andam encantadas com o Sócrates. Pudera! Cair-lhes do céu um Primeiro Ministro que se diz de esquerda e funciona como se de direita, e bem à direita, fosse, quem pode querer mais?
Elementar, meu caro Watson, como diria perspicaz Sherlock Holmes.
Um abraço e sempre ao dispôr
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António Melenas, at 06 setembro, 2007 14:27
apoiado. eu já digo isso há muito tempo.
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Anónimo, at 13 outubro, 2007 21:02
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