FASCISMO. Sabe o que é?
Recebi hoje um e-mail, lindíssimo, de uma senhora que me contava a forma como, ao procurar na net a expressão “manga de alpaca” para mostrar ao filho o significado desta expressão hoje em desuso, foi tombar sobre um texto meu intitulado “Gravatas & Bravatas” publicado em Junho de 2006 no meu outro blogue “Escritos Outonais”, cuja leitura muito a impressionou. Ali, a propósito de vivências pessoais, tecia várias considerações sobre a essência dos fascismos, a forma como se instalam, se insinuam se reproduzem.
É desse texto, que nunca mais tinha lido, que transcrevo a passagem seguinte
"Moral da história: os fascismos não se alimentam apenas da repressão física, mas também, e à vezes principalmente, de medos irracionais, de suspeições , de reverências voluntárias, de submissões não solicitadas, de delações não pedidas. O espírito de big-brother paira sobre toda a sociedade, como um obsessão colectiva, sem precisar, por vezes de se impor, nem sequer pela presença dos seus guardiões. Em contrapartida, a resistência, pode ser feita através do que parecem ser pequenos detalhes sem importância: uma recusa, uma não aceitação, uma afirmação de personalidade contra a corrente do geralmente aceite e, sobretudo, contra normas impostas. Confesso até, que usar gravata nem é coisa que me incomode por aí além e tanto assim que, agora que estou reformado, que ninguém me obriga a usa-la e que até pouca gente a usa, de vez em quando, dá-me na mona e engravato-me. Porque quero."
Mal acabei de reler estas palavras e fui, de imediato assaltado por uma inquietante sensação de mal estar, um aperto no estômago, uma angústia para a qual não via razão. Mas depressa entendi. Meu Deus, como isto se parece com acontecimentos bem recentes passados na nossa terra! A denúncia feita contra o professor Charrua, por uma simples brincadeira que envolvia o Primeiro ministro e o seu pronto afastamento das funções que exercia! A delação contra o médico do Centro de Saúde que colocou, numa dependência do mesmo, um recorte de uma notícia sobre uma frase infeliz do senhor Ministro da Saúde (cujo único mal era mesmo a infelicidade da frase) e o rápido afastamento da respectiva Directora, substituída por um elemento do partido do Governo! Os vários casos de professores obrigados a trabalhar até à morte, por excesso de zelo dos membros da Juntas médicas. Nada disto acontece por acaso. O autoritarismo desenfreado que tem caracterizado a política deste governo, designadamente da ministra da cultura e do ministro da saúde, tinha fatalmente que resvalar para isto. É o fascismo que espreita. Ainda não é, mas para lá caminha. Esta é umas das suas características. Os subordinados entendem que devem ser mais papistas que o papa. O Chefe quer autoritarismo e eles ali estão, solícitos, para o aplicar para se excederem, para irem mais além.
Nós os mais velhos, sabemos bem o que isto significa. Sabemos como começa e sabemos aonde pode levar. Vocês não estão preocupados?
Eu estou. E Muito.
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