SALAZAR E AS ELEIÇÕES
O texto que a seguir transcrevo, de autoria do professor António recebi-o por e-mail de um amigo. Julgo que foi publicado no Diário de Notícias, mas isso também não é importante. A apesar desta votação não ser nada representativa (parece que o Manholas reúne os votos de uns sessenta e tal mil telefonantes, que podiam caber todos no estádio do Benfica) deixo-o texto à atenção dos meus visitantes
SALAZAR E AS ELEIÇÕES
Agora que Salazar parece em vias de ganhar pela primeira vez uma "eleição", e logo contra o Afonso Henriques, convém lembrar como eram as votações quando ele era vivo.
No que diz respeito à aprovação da Constituição de 1933, foi simples. As abstenções contaram a favor. A maioria foi esmagadora. Os portugueses nem precisaram de sair de suas casas para exprimir a sua "vontade".
Nas eleições legislativas o método também era infalivel. Nas eleições de 1957, por exemplo, em Lisboa, na véspera da eleição, os responsáveis pelas mesas eleitorais foram chamados ao Governo Civil onde receberam a indicação do resultado da votação do dia seguinte com uma margem de erro de 2 %. Assim, na freguesia de São João da Pedreira o resultado devia ser 56 ou 57 %.
No dia seguinte houve guarda republicanos que andaram pelas mesas de voto a levar pacotes de votos de "guardas que estavam de piquete", que foram metidos nas urnas pelos presidentes das mesas. Mas isto teve uma relativa pouca importância.
Perto do fim, depois de assegurada a ausência de testemunhas inconvenientes, os elementos das mesas multiplicaram o número total de eleitores por 0,57 e dividiram o resultado pelo número de páginas dos cadernos eleitorais. Tiveram, assim, o número de eleitores de cada página que "deviam votar".
Procederam, então, sem se preocupar em lançar votos nas urnas, à operação de "compor os cadernos eleitorais", descarregando conscenciosamente nos dois cadernos o conveniente número de eleitores que "tinham" votado. A operação foi acompanhada de comentários do tipo: " Este é comunista, mas desta vez vai votar no governo".
Depois, enviaram para o Governo Civil um documento a dizer: "Percentagem de eleitores: 57 %." Mas não se ficaram por aqui: abriram as urnas, contaram os votos, e enviaram para o Governo Civil um outro documento a dizer. " Percentagem real de eleitores, tantos por cento" .
No caso concreto de uma mesa, a percentagem real de eleitores, incluindo os votos dos "guardas de piquete" e 50 votos riscados foi de 28 %, mas os elementos da mesa enviaram um documento a dizer que a "percentagem real", era de 30 %. É provavel que, quando chegasse ao Salazar, esta percentagem já fosse um bocadito mais alta.
Fui testemunha parcial destes factos em 1957. Uma outra testemunha foi o escritor Luis Pacheco a quem envio, 50 anos depois, as minhas saudações e que devia ser agora ouvido. Como comentador da "eleição de Salazar" e porque pode confirmar factos importantes para esclarecer um país que, 30 anos depois do 25 de Abril, ainda está muito mal informado.
Que, ao falar nas eleições do "antigamente", ainda fala em chapeladas, como se a fraude "dos guardas que estavam de piquete" e de uns tantos legionários fosse a mais importante. Salazar era muito mais subtil. Quarenta anos depois de morto, ainda engana o país.
E não só. Quando em Novembro de 1957 cheguei a França vi que os jornais franceses analisavam a situação portuguesa a partir do resultado de 57% de votos obtidos pelo governo nas últimas eleições legislativas.
António Brotas
E, já agora, acrescento o meu testemunho pessoal:
Nas eleições de 1958 estive, com mais dois amigos, presente, (não autorizado e olhado de soslaio por dois pides com as pistolas intimidatoriamente visíveis nos coldres por debaixo dos casacos) numa das secções de voto da freguesia de Moscavide. Quando chegou a altura da contagem dos votos, fomos intimados a abandonar a sala. Aí o presidente da mesa, um comerciante de nome Virgílio Leitão, que nos conhecia de garotos e que, apesar de ser da União Nacional, demonstrou ser uma pessoa de carácter, impôs-se aos pides e ameaçou abandonar também a sala se fôssemos obrigados a sair. Contrariados os pides se aquietaram e pudemos, de longe, assistir à contagem.
Resultado imediato:
Das várias Mesas de voto de Moscavide só aquela em que eu estava o General foi proclamado vencedor, ganhando a União Nacional, por esmagadora maioria em toas as restantes mesas, onde não tinha sido consentida a presença de qualquer opositor aio regime. Claro que no pais inteiro a fraude foi generalizada.
Resultado diferido:
Seis meses depois, Pide veio buscar-me, no âmbito de uma onda de prisões, que logo a segui à eleições começou a dar-se em todo país
Para mim bastou. SALAZARES, NUNCA MAIS!
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Veja também
AMO-TE TANTO...
(mais um soneto)
no meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com
4 Comments:
como dizem nossos amigos no méxico, ya basta!
By Buda Verde, at 21 março, 2007 18:37
A História em directo por quem viu, quem sabe e quem assistiu, agora que vemos uma descarada lavagem e branqueamento da personagem e personalidade facínora do déspota de Santa Comba, “o Botas”. Lembrar é resistir. Este Brotas deve ser o antigo médico e antigo dirigente do MDP/CDE, penso eu. Um abraço resistente nesta maré cinzenta e amorfa.
By Anónimo, at 25 março, 2007 18:30
Belo testemunho ainda que corra o risco de ser olhado como uma cassete, forma subliminar de auto intitulados genuínos democratas tentarem desvalorizar, vá lá desmagnetizar, registos incómodos.
Mas eles sabem que nós sabemos o que eles muito bem sabem, né?
By Erecteu, at 26 março, 2007 15:57
Apesar de tudo e felizmente,a resistência está atenta a estes pequenos fenómenos para não ser novamente surpreendida.
Como dizia um amigo meu, não tarda que tenhamos que estar de novo preparados para fazer um 25 de Abril a sério. De preferência através de eleições!
As utopias são aliadas dos que pensam...
Um abraço meu caro amigo.
By zé lérias (?), at 30 março, 2007 00:41
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