ENQUANTO E NAO

quinta-feira, janeiro 25, 2007

PROFESSORES, ódio de estimação Sousa Tavares

É fatal, como o destino. Sempre que tem de comentar assuntos relacionados com o diferendo que opõe os professores à senhora Ministra da Educação na luta pela dignidade da sua carreira profissional , o Sr. Miguel Sousa Tavares, com cátedra às Terças-feiras na TVI, sem direito contraditório é contra que, invariavelmente e de forma acintosa, se posiciona.

Recebi hoje extractos do Jornal de Notícias, onde se fala dessa estranha e contumaz animosidade contra uma classe que nos merece (e lhe devia merecer) todo o respeito. Não resisto a inclui-los neste blogue, em benefício daqueles que porventura ainda os não tenham lido

Carta duma professora

Autor: R. Mateus <ribeiromateus@hotmail.com> Data: 14-01-2007

No número 1784 do Jornal Expresso, publicado no passado dia 6 de Janeiro, o colunista Miguel Sousa Tavares desferiu um violentíssimo ataque contra os professores (que não queriam fazer horas de substituição), assim como contra os médicos (que passavam atestados falsos) e contra os juízes (que, na relação laboral, pendiam para os mais fracos e até tinham condenado o Ministério da Educação a pagar horas extraordinárias pelas aulas de substituição). Em qualquer país civilizado, quem é atacado tem o direito de se defender. De modo que a professora Dalila Cabrita Mateus, sentindo-se atingida, enviou ao Director do Expresso, uma carta aberta ao jornalista Miguel Sousa Tavares. Contudo, como é timbre dum jornal de referência que aprecia o contraditório, de modo a poder esclarecer devidamente os seus leitores, o Expresso não publicou a carta enviada.

Aqui vai, pois, a tal Carta Aberta, que circula pela Net. Para que seja divulgada mais amplamente, pois, felizmente, ainda existe em Portugal liberdade de expressão.

«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta. O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência. O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido. O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas. O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país. O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição. O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação.


Dalila Cabrita Mateus, professora, doutora em História Moderna e Contemporânea»

------------------------------------------------

Resposta a Carta duma professora - R. Mateus - 14-01-2007

Autor: josé Maria Ribeiro da Silva Lessa <joselessa@sapo.pt>

Data: 14-01-2007
Senhora Doutora Dalila Cabrita Mateus. Não li o artigo de Miguel Sousa Tavares, mas a acreditar(e não tenho razões para o não fazer)no texto que escreveu, tenho que lhe prestar a minha homenagem pela forma sincera mas educada como reage a noticia. Não e com berros e palavrões que defendemos os nossos direitos. Fui nos anos 50 e 60 aluno dos vários degraus de ensino vigentes na altura, tive que trabalhar de dia e estudar á noite para conseguir fazer o 12º ano. Para a minha geração os Professores eram os nossos ídolos, cabe aqui referir o nome da minha Professora Primária D. Iolanda, que nunca esqueci e que em 1976 reencontrei e pasme-se...reconhecia-a pela voz. Passava eu na Rua Fernandes Tomás e entre muito ruído passei ombro a ombro por duas Senhoras que conversavam, uma das vozes foi-me familiar e olhei para trás, na incerteza de cometer uma gafe tive o cuidado de perguntar a uma delas se o seu nome éra Iolanda,respondeu sim muito admirada tanto mais que não me reconhecendo e perante o brilho nos meus olhos me perguntou, Não Me Digas Que Foste Meu Aluno,a resposta foi afirmativa e contagiante que acabamos os três a chorar, abraçados. Foi assim que eduquei os meus filhos, dizia-lhes inclusive que nunca os castigaria por perder um ano mas que seria severo com eles se um dia um Professor me chama-se a informar do seu mau comportamento. Outros tempos infelizmente para todos nós. A minha total solidariedade para todos os Professores pelos tempos que vivem e para a Senhora os meus cumprimentos e a gratidão pela forma elevada com reage a uma noticia que a ofende e ofende a classe a que pertence e como quem não se sente não é filho de boa gente... Cumprimentos e muitos anos de vida para a Senhora e toda a família e sempre que tiver que reagir a noticias de que não reconheça idoneidade jornalística ao autor, não se cale. José Lessa

Do Jornal de Notícias, data venia

_____________________________________

Leia um novo "post"
"EM BUSCA DE MIM"
no meu outro blogue

http://escritosoutonais.blogspot.com

1 Comments:

  • António: Aqui fica o obrigada de uma professora pela consideração mostrada para com os professores.Já conhecia os escritos mas foi bom divulgá-los tb aqui.
    Um abraço

    By Blogger MEHC, at 08 fevereiro, 2007 22:04  

Enviar um comentário

<< Home