ENQUANTO E NAO

quinta-feira, dezembro 28, 2006

OS GASTOS DOS PORTUGUESES

In DN de 27-12-2006, data venia

Parece que assim foi. Os portugueses gastaram, só através do multibanco e cartões de crédito, mil euros por segundo, não contando com o que ainda vão gastar até ao fim do ano. Quer dizer então que a crise não é tão grande como parece e que os portugueses não estão tão mal como gostam de apregoar? Nada mais enganador. Estas despesas exorbitantes são um assustador indício da grave crise económica e moral porque passam os portugueses.

Com efeito, Há na economia doméstica (e na economia em geral) uma fasquia de contenção possível. Para além da qual não há mais possibilidade de resistir. Essa fasquia é como um dique a meio de um rio impetuoso. A gente vai pondo remendos, tapa, um buraco aqui, tapa outro ali, até que um dia o caudal (das despesas, neste caso) ultrapassa a capacidade de resistência do dique e as águas (as dívidas, neste caso, também) irrompem por tudo quanto é sítio, levando a economia familiar de vencida.

Nessa altura não vale a pena resistir. È então que se instala a indiferença a apatia moral que leva as pessoas a pensarem “que se lixe, perdido por cem, perdido por mil. E então toca a gastar. O que conta é o momento que passa e quem vier atrás que feche a porta.

Quanto a mim é isso que está acontecendo com os portugueses. E isso é uma constatação dramática. Faz-me reportar aos tempos de Salazar em que metade das famílias se encontravam endividadas e viviam numa dívida permanente, uma espécie de escravidão não muito diferente da dos trabalhadores descritos no livro A SELVA, de Ferreira de Castro, que não chegavam a receber qualquer salário pois a dívida ao armazém onde se abasteciam, explorado pelo patrão, era sempre superior ao do salário que esperavam receber.

Aliás não é preciso ir tão longe. Na CP, onde trabalhei, havia um armazém de víveres, onde os empregados, de qualquer categoria, podiam adquirir bens até ao limite do seu vencimento mensal, o qual só era várias descontado em prestações a partir do mês seguinte ao acto da compra.. Acontecia então – eu que trabalhava no processamento das folhas de vencimentos, apercebia-me disso - que havia trabalhadores que nunca, por nunca ser recebiam um tostão que fosse ao fim do mês e que, além disso passavam a vida a contas com vencimentos penhorados por decisões judiciais, que se acumulavam sem que pudesse m ser cumpridas.

E no entanto, não sei com que artes, esses fulanos obtinham créditos noutros lugares, compravam carros e levavam uma vida de ostentação que me deixavam de boca aberta, a ponto de comentar com os meus amigos Eh pá já cheguei à conclusão que dever muito é tão bom ou melhor do que possuir muito. Gozam de prestígio como os que muito têm, usufruem de todos os prazeres de que eles desfrutam e ninguém os vai fazer pagar porque eles não têm com quê.

Ora , a desenfreada orgia consumista a que assistimos durante os últimos dias faz nascer em mim a assustadora convicção de que, rompida a barreira de capacidade de resistência dos portugueses à crescente carestia de vida que a política dos últimos governos lhes têm vindo a impor, resolveram mandar a contenção às malvas e, assim como assim, de endividados já não passam, resolveram entrar numa de quem cá ficar que se lixe, fazendo-me lembrar tempos de muito má e tenebrosa memória.

Estou seriamente preocupado, meus Amigos

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O MEU "AVÔ" GUERRA JUNQUEIRO

1 Comments:

  • Como bem diz, uma orgia consumista, deveras preocupante. Passei para desejar Boas Festas e próspero Ano Novo, com 2007 cheio de paz, saúde e felicidade.

    By Anonymous Anónimo, at 29 dezembro, 2006 17:14  

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