CAPITALISMO SELVAGEM
Encerramento da Fabrica Opel na Azambuja
Mais um benesse do liberalismo económico
Por falta de tempo e de disposição (esta quadra do natal sempre me deprime) não tenho estado muito activo na escrita deste blogue. Também hoje tencionava escrever o quer que fosse, mas não posso deixar de referir o facto que, pelo menos para mim, e porque ocorreu precisamente nestes supostamente festivos dias,foi o que mais marcou nesta data.
A partir de hoje, mais de 1400 trabalhadores portugueses foram postos no olho da rua. Não interessa se ficam sem emprego, nem como se vão sustentar a eles e às suas famílias. Os interesses do deus Milhão e o sacrossanto direito à livre concorrência falam mais alto. Quem manda é o lucro. Fácil e imediato. E viva a democracia liberal. O papão da União soviética acabou e agora é fartar vilanagem, Despedimentos acontecem no momento e na hora em que tal convém ao capital triunfante. Quando, em alguns países uma Constituição aprovada em bom tempo, como acontece em Portugal, lhe dificulta ainda um pouco esse facilitismo, o patronato exige mais maleabilidade na política de despedimentos. E mais, e mais e sempre mais facilidades para o patronato. Assiste-se a isso diariamente no nosso país. E os “democratas” aplaudem. Foi em nome dessa democracia económica, com a bênção do guardião do Templo mundial da Democracia, o Big Brother sediado em Washington, que Pinochet, estabeleceu o seu peculiaríssimo regime democrático.
Todos assistimos hoje à indignada e espontânea manifestação dos trabalhadores despedidos, em que um deles fez ouvir a sua voz para lamentar a frieza , e a desumanidade de um patronato que, para além de privar do seu ganha-pão pessoas que durante anos os ajudaram a encher os bolsos - maneira antiga de dizer engrossar a conta bancária – nem uma palavra de despedida, um agradecimento, um aperto de mão, àqueles homens, no seu último dia de trabalho.
È a liberalização dos despedimentos, é a contenção e abaixamento de salários, é a crescente ofensiva tendente à destruição do Estado Social, que a contragosto, e enquanto a União Soviética existiu, se viram forçados a aceitar, é o capitalismo selvagem em todo o seu esplendor
E a malta amocha. E os “democratas” aplaudem ou pactuam. Amanhã já ninguém se lembrará dos trabalhadores hoje postos na rua. Que importa? Vem aí o Natal, vamos às filhós, às rabanadas, muita luzinhas nas ruas, montras enfeitadas, que o tempo é de Paz e Amor...Paz e amor? Onde, para quem?
Que grandes filhos...!!!!!
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Veja também o poema
OS TEUS OLHOS
no meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com
Pode também ouvi-lo na voz de Luís Gaspar
4 Comments:
Não sei já como vim parar hoje ao teu (permite-me que te fale assim, camarada)blog. Digo que não sei, porque não recordo mesmo como foi. Sei apenas que fiquei presa à tua idade (entenderás porquê) e à tua fantástica forma de escrita no Escritos Outonais. Como não me foi possível ler tudo de uma só vez, guardei o link e voltei quando me foi mais oportuno. Digo simplesmente que adorei as tuas histórias e a maneira excepcional como as contas, qual filme de Manuel de Oliveira, passando na frente dos meus olhos. Despertado o interesse, foi obrigatório conhecer este teu outro blog, onde comento. E a minha admiração aumentou! Todos os teus posts revelam uma força interior que seria a inveja de muitos dos jovens que eu conheço. E confirmam que estás atento ao que se passa à tua volta, como dizes aqui ao lado em "About", estás atento hoje, como pelo que me foi dado ler, estiveste atento em toda a tua vida. E este blog não deveria ser Enquanto e Não, porque nunca é tarde para ensinar e dar um exemplo de vida.
Gostei imenso de te conhecer e voltarei todos os dias.
By Lovely Toys, at 21 dezembro, 2006 22:30
Caro António: passei para desejar Boas Festas, Santo Natal e Próspero Ano Novo, são os meus sinceros votos.
By Anónimo, at 22 dezembro, 2006 04:43
António
Àcerca deste assunto do encerramento da fábrica da Azambuja e consequentes despedimentos, deixa-me dizer-te que admira-me não ter aparecido ninguém a apelar aos portugueses para não comprarem carros daquela marca. Seria uma boa forma de protesto, pelo menos com possibilidade de causar alguma mossa.
Com certeza pensa-se, e com razão, que quem estiver comprador de carro novo dirá que o problema dos despedidos é lá com êles...
Um abraço.
Xico
By Anónimo, at 22 dezembro, 2006 14:04
È, Xico, assim devia ser. Infelizmente porém, o conceito de cidadania e o espírito de solidariedade dos portugueses é muito baixo. As pessoas acostumaram-se a aceitar como normal o que deria ser uma rara fundamentada excepção. è pena, mas esta é a realidade.
abr.
António
By António Melenas, at 22 dezembro, 2006 15:29
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