A MÁ SAÚDE QUE TEMOS
O Editorial do Diário de Notícias aborda hoje, de uma forma notável os prejuizos que podem decorrer (e decorrem, opino eu) para a saúde publica da privatização ou gestão empresarial dos hospitais públicos. È tão claro e tão explícito e tão digno de ser lido o artigo, que julgo da maior utilidade transcreve-lo na íntegra. Afinal os blogues são hoje mais lidos que os jornais.
A saúde doente
Helena Garrido
Na série televisiva Dr. House há uns episódios em que a clínica recebe uma generosa injecção de capital de um empresário que obviamente se impõe como presidente da administração. O hospital passa a ser gerido com critérios puramente financeiros. Depois de várias peripécias, o empresário vai-se embora e leva o dinheiro consigo. Tudo regressa à normalidade, gastando-se o que for preciso para salvar uma vida. Não se explica como se passa a pagar as facturas.
Na realidade é preciso ter quem pague as facturas. Mas quando se impõem critérios apenas financeiros nos hospitais o resultado é, obviamente, a degradação dos serviços de saúde.
Quando, em 2002, o então ministro da Saúde
No papel existia um modelo com vários tipos de hospitais. Uns tinham objectivos financeiros apertados. E quando se alertava para o efeito perverso que a ausência de objectivos de qualidade poderia causar, a resposta estava nos hospitais de retaguarda, que iriam aparecer e que garantiriam o tratamento aos doentes prolongados e mais caros. Como se esperava, só se concretizou a parte financeira do modelo. E aconteceu exactamente o que se previa: hospitais a recusarem doentes que lhes podem "estragar" os objectivos... financeiros.
A afirmação de ontem do presidente da Autoridade Reguladora da Saúde, Álvaro Almeida, revelando existir a "suspeita" de que há hospitais públicos a recusarem acompanhar portadores de esclerose múltipla não é nada que não se esperasse. É de elogiar a coragem de dizer o que já se esperava, mas deve igualmente criticar-se a forma como o fez. Um responsável pela regulação da saúde não pode falar em "suspeitas". Se existem casos deve actuar de imediato.
O modelo que está em vigor reúne condições para os hospitais recusarem não apenas acompanhar portadores de esclerose como muitos outros casos.
Os sublinhados são de minha responsabilidade
Nem faço comentários ao artigo. Está cá tudo o que precisamos saber acerca da bondade da gestão privada da saúde. lagarto, lagarto, lagarto!
Porém este editorial faz-me lembrar um assunto que andava há tempos para abordar e sucessivamente me tenho esquecido.
Lembram-se certamente que o Lula da Silva partiu para a segunda volta das eleições presidenciais numa situação algo periclitante, com as sondagens a aproximar Ackerman perigosamente do primeiro lugar. Pois bem, a vitória de Lula ficou logo assegurada a seguir ao primeiro debate com o seu opositor - debate que, curiosamente, foi dado pelos media como tendo sido ganho por este. A verdade é que o povo teve uma visão diferente dos lideres de opinião e foi a parti daí que a balança começou a pender decididamente para o lado de Lula.
E isto porquê? Muito simplesmente, porque Ackerman, julgando que estava afazer uma grande coisa, prometeu incrementar a privatização da saúde e de outros serviços públicos.
Pois bem, apesar de os serviços públicos do Brasil deixarem muito a desejar (são bem piores do que os nossos) o povo brasileiro ficou apreensivo com tal perspectiva e o seu voto ficou decido logo nesse dia a favor de Lula, que é pela manutenção e melhoramento dos serviços públicos. É que, dizem os brasileiros, em Serviços públicos, como os telefones, que foram privatizados e em que a oferta até melhorou, eles sentiram que o relacionamento com essas empresas passou a ser mais impessoal, mais desumanizado, mais perigosamente exposto à ganância do lucro.
Os jornais por cá deram esta notícia, no meio das muitas referentes à campanha eleitoral brasileira, mas não lhe deram o destaque que a mesma requeria. Pudera! Os Jornais são propriedade de capitalistas ávidos de, com a colaboração dos sucessivos governos que nos têm desgovernando, colocar as mãos nos serviços públicos do Estado, que ainda vão restando.
Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça. Enquanto é tempo.
A vampiragem espreita na sombra
Ah Zeca Afonso, que falta nos fazes!
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O CICLONE
no meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com
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