ENQUANTO E NAO

quarta-feira, novembro 22, 2006

CULTURA e seus desamores

Acabaram com a Festa da Música

Por falta de subsídio do Ministério da Cultura este ano não vai haver Festa da Música no Centro Cultural de Belém. Era um dos eventos culturais que mais prestigiava o nosso país e a cidade de Lisboa. Poucas vezes a palavra Festa terá sido empregue com mais propriedade do que nesta magnífica iniciativa, que nos últimos anos proporcionava, de forma acessível, o contacto com a grande música mundial, especialmente por parte das camadas jovens que ali acorriam, ávidas de poderem aceder - por preços ao alcance das suas bolsas - a um tipo de música diferente do que lhes é oferecido nos variados eventos comerciais de verão que ocorrem por esse país fora.

Que mais resta na cidade de Lisboa, no que se refere a música clássica, além de um ou outro espectáculo para elites, no São Carlos?

É mais uma das “poupanças”deste Governo, neste caso da Ministra da Cultura, que ignorou a luta dos que defendiamo Teatro Rivoli de uma privatização anunciada, que de forma precipitada, leviana, direi mesmo, pretende acabar com o Museu de arte Popular em Belém e que , no entanto, não se preocupou com poupanças quando concedeu ao milionário Berardo a exploração do seu Museu em instalações do Estado em condições de que este nada ganha e ele desfruta de vantagens leoninas.

E que faz o Mega Ferreira no meio de tudo isto?

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Ainda o TLEBS

Lembram-se, os mais antigos, da aversão que os alunos do Ensino Secundário sentiam pelos Lusíadas, devido à forma como os programas escolares do Estado Novo, os obrigavam a estudá-los, reduzindo as suas magníficas estrofes a uma sistemática e enfadonha tarefa de divisão de orações? Pois agora, com o famigerado TLEBS mai´la a sua estapafúrdia terminologia, é que o imortal poema épico (eu diria mesmo qualquer obra literária) vai ficar como um objecto profundamente odiado, os professores vão ficar todos xonés, os alunos, que já sabem pouco, vão ficar a saber nada. E acabados os anos de escolaridade, nunca mais vão querer ver uma obra literária à sua frente.

Será que o saber ler, por parte dos poruguese incomoda assim tanto os autores deste deste intragável cozinhado linguístic0? Pois, o Goebles também se incomodava muito. Esse puxava logo da pistola.

Vem isto a propósito do novo artigo de Vasco da Graça Moura no DN de hoje
intitulado
A autópsia do Tioneu” ainda acerca do TLEBS.

Os disparates a que a nova terminologia obriga na análise sintáctica de um texto são de tal ordem que - por culpa deles, que não do autor do artigo – a sua leitura se torna difícil de acompanhar por parte de quem não esteja tão por dentro destas análises.

Permito-me, pois, pegar num exemplo, retirado do texto de VGM, e à minha maneira, de forma simplificada tentar torná-lo mais compreensivo:
Fixemos então estes versos de uma das estrofes dos Lusíadas:

Põem em terra os giolhos, e os sentidos/ Naquele Deus que o mundo governava.

Na análise que há dezenas de anos aprendemos, “Põem” é o predicado, o sujeito, conhecemo-lo pelo sentido do que vem detrás ”, “os giolhos e os sentidos” são complementos directos, e “em terra” é um complemento circunstancial de lugar. Simples não é?

Vejamos então o que diz que dizem, de acordo com o texto de Vasco Graça Mours o preclaros inventores do TLEBS:

Basta ver como os complementos "...em terra" e "... os giolhos" são descritos. Para o primeiro, temos: "núcleo de um complemento preposicional em posição pós-verbal, constituindo uma unidade sintáctica que serve de locativo à forma verbal põem" e, para o segundo: "núcleo de um grupo nominal que constitui o complemento directo da expressão predicativa anterior". Por sua vez, "... e os sentidos naquele Deus que..." é explicado como "núcleo de um grupo nominal equivalente ao anterior, regido pela conjunção copulativa e que o transforma em complemento directo da expressão predicativa formada pela forma verbal põem".

Perceberam alguma coisa. Eu também não

E assim termina VGM o seu artigo

O ódio à Literatura atinge o seu paroxismo nestes modelos de autópsia.
Acuso deste crime o Ministério de Educação.

E eu também. E ofereço-me para testemunha de acusação.

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