ENQUANTO E NAO

sábado, dezembro 30, 2006

SADDAM HUSSEIN ENFORCADO

Saddam Hussein foi enforcado esta madrugada. Ainda ontem na televisão aparecia um dos seus advogados a garantir que a execução não iria ocorrer nas próximas horas nem nos próximos dias, uma vez que o governo iraquiano lhe garantira a possibilidade de se encontrar com o seu constituinte no dia 4 de Janeiro próximo. Foi só mais um embuste na cadeia sem fim de embustes que têm sido todo o caso da invasão e ocupação do Iraque, a começar pela falsa invocação das razões da guerra.Na verdade esta execução, à pressa, e secreta, sem o testemunho de órgãos de informação, nacionais ou estrangeiros ou qualquer entidade independente, parece-se muito com um assassinato, à traição, no fundo de uma viela escura,

Sabendo nós que Saddam se encontrava detido em instalações das tropas americanas e sob sua custódia, não me admiraria nada que esta execução, à pressa, pela calada da noite e sem testemunhas, tivesse ocorrido por ordem expressa do senhor Bush, cioso de não deixar terminar o ano sem se dar ao prazer de ostentar no seu cinturão de cow-boy, como troféu de caça, a cabeça do homem que jurara matar.

Não vou chorar a morte de Saddam. Mas choro, isso sim, a pouca vergonha de um justiça selectiva que depende unicamente dos critérios ou caprichos dos donos do mundo. Saddam Hussein foi condenado por um tribunal não isento, condicionado pela pressão das tropas invasoras, predisposto a condená-lo desde o início, num processo eivados de irregularidades e vícios jurídicos, em que três dos seus advogados de defesa foram sucessivamente assassinados.

A sentença que, em tais condições o condenou à morte, baseou-se no seu eventual sancionamento, como Presidente da República, na sentença de morte proferida por um tribunal iraquiano, contra um grupo de 140 pessoas de uma localidade onde tinha ocorrido um atentado contra a sua vida. É uma acusação grave, que deveria ter sido julgada por um Tribunal independente. Mas e o Senhor Bush? Quem lhe pede contas pela centenas de milhares de civis mortos nos bombardeamentos às cidades iraquianas? Ou pela vida de 3 mil soldados do seu próprio país, sacrificados pela sua estulta e despropositada agressão? Ou pelas sevícias sem nome infligidas aos detidos em Abbu-Grahib? Ou pelas violações sistemáticas dos direitos humanos na base de Guantánamo, bem como em dezenas de cárceres privados que espalhou pelo mundo através dos ilegais, sinistros e provocatórios voos secretos da CIA?.

Sim, choro por esta fantochada de justiça com que diariamente nos confrontamos. Como é possível que Pinochet que mandou torturar e assassinar milhares de pessoas (gente que não tentou matá-lo, note-se) apenas porque não partilhavam dos seus pontos de vista, tenha morrido tranquilamente na sua cama, sem sequer ser julgado, e enterrado com honras militares? Choro por ver que a justiça a nível mundial dependa dos desígnios de um pais, como que os Estados Unidos convive tão bem com ditadores (sanguinário, mesmo) desde que favoreçam os seus interesses e cujo “amor” pela democracia só se manifesta em relação àqueles que nunca serviram ou, a partir de um dado momento, deixaram de servir esses mesmos interesses.

Sim, por isso choro. Mas ao mesmo tempo, sinto o maior orgulho por ter nascido num país que, num gesto pioneiro e generoso, aboliu a pena de morte em 1 de Julho de 1867.

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O MEU "AVÔ" GUERRA JUNQUEIRO"
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1 Comments:

  • Saddam foi enforcado... mas o mundo não ficará melhor por isso. Talvez que melhorasse sim, mas com o desparecimento da face da terra, de muitos daqueles que o enforcaram...

    By Blogger Lovely Toys, at 02 janeiro, 2007 00:53  

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