AÍ ESTÃO OS PREDADORES, Diz Baptista-Bastos
Porque hoje é quarta-feira e Baptista-Bastos escreve no Diário de Notícias às quartas feiras, cá estou eu, como prometi, a transcrever a sua crónica de hoje. Alguns de vós já a terão lido no DN, outros talvez não. Em todo caso sempre serão mais umas centenas de pessoas que têm a oportunidade de ler aqui o que lhes terá passado despercebido no volumoso magazine que é hoje aquele jornal e as palavras de BB são preciosas de mais para podermos dar-nos ao luxo de as desperdiçar. Pelo estilo, pelo conteúdo, pela oportunidade, pela coragem.
Mas “ouçamos” Baptista-Bastos. Mas ouçamo-lo com os olhos bem abertos (a gafe, é intencional)
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AÍ ESTÃO OS PREDADORES
"Falemos de política, discutamos de política, escrevamos de política, vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um, essa coisa de cada um era tratada como propriedade do paizinho."
Jorge de Sena
O inconcebível aconteceu, três décadas depois de Abril: as quatro confederações patronais reclamaram a mudança de artigo da Constituição: um, o 53.º, acaso o mais significativo, proíbe o "despedimento sem justa causa por motivos políticos ou ideológicos". Querem, também, limitar o direito à greve, e modificar as prerrogativas das associações sindicais e a contratação colectiva.
Mas o projecto restritivo é muito mais amplo e por igual sombrio. O documento do patronato fornece, com nitidez, a imagem de quem o subscreve. Além do que fundamenta um profundo desrespeito pela democracia. É a ressurreição dos predadores.
Há duas semanas tive oportunidade de ler o discurso de Francisco Balsemão, no jantar da Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social, em que apostrofou o ministro Santos Silva. É um documento discutível. Menos num dos princípios: o da liberdade de expressão. Aí, o velho capitão de jornais permanece devotadamente fiel aos ânimos da juventude. Tudo o que agrida a livre enunciação das ideias encontra nele um tenaz adversário. Sei do que falo: trabalhámos juntos, durante anos, dando corpo a um projecto grandioso: o Diário Popular. A esmagadora maioria da Redacção era de Esquerda ou, pelo menos, desafecta ao regime. Trinta e cinco jornalistas, 150 mil exemplares diários de venda. A tese era a seguinte: "Neste jornal ninguém corta nada a ninguém." O estrondoso êxito do vespertino é devido, acima de tudo, a essa caução de liberdade.
Em 1969, no período eleitoral marcelista, dois redactores do Popular participaram, activamente, como candidatos da Oposição: Mário Ventura Henriques e o autor desta crónica. Balsemão, pela Acção Nacional Popular. Nenhum dos patrões, nenhum deles obstou à nossa actividade. Tanto eu quanto o Mário Ventura assumimos as consequências imprevisíveis dos nossos actos, e não traímos os testamentos éticos que resguardavam a grandeza da nossa profissão. Quando regressámos, as nossas bancas de trabalho esperavam-nos.
Relembro o episódio como paradigma. Francisco Balsemão interpreta a reafirmação de uma luta que nunca está definitivamente ganha, e que vale sempre a pena recomeçar. Aqueles senhoritos, confederados no lucro a qualquer preço, pertencem ao ranço da História, à parte mais reaccionária da sociedade portuguesa, que dificulta o progresso social e põe em causa valores e modelos que deveriam ser intocáveis.
Saibamos expulsá-los do futuro. |
Escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt
nota: o sublinhado é meu
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“ACORDAI, ALMAS QUE DORMIS”, o apelo do poeta mantém-se actual, tal como no tempo do outro fascismo, Acordemos, irmãos, que eles, “os predadores” estão afiando as facas. O tempo é-lhes propício… e se nós não nos defender-mos ninguém nos defenderá. Que raio, a história algo nos há-de ter ensinado! Ou não?
1 Comments:
Que dizer, senão que estou muito triste por ver de novo o eriçar dos reaccionários, avalizados e estimulados por governo de tics autoritários?!...
Um abraço e boa saúde
By zé lérias (?), at 27 julho, 2007 01:18
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