ENQUANTO E NAO

terça-feira, janeiro 10, 2006

Homenagens

Este meu Blogue ameaça transformar-se num verdadeiro obituário. Mas que culpa tenho eu, que sendo velho, tenha amigos velhos e que, pela ordem natural das coisas vai estando na hora de cumprirem uma das regras de todo o ser vivo que é a sua inexorável finitude? O que eu não posso é deixar partir estes velhos Amigos sem uma palavra, sem um, simples que seja, registo da sua passagem.

Quem desprevenido aceder a este blogue vai porventura pensar que os mortos de que tenho falado e que trato como Amigos serão porventura pessoas das minhas relações estreitas relações. São Amigos, porque ao logo de uma vida me admirei a admirá-los, a amá-los, pelo que escreveram pelo que pensaram, pelo que fizeram e, sobretudo, pelo seu carácter.

Até que a minha voz se cale também, falarei de todos os Amigos que se incluírem neste grupo de pessoas. De quem eu não gostar não darei notícia do seu passamento, a menos que fosse para dizer: já não era sem tempo – o que. Convenhamos. Não seria bonito

Vem isto a propósito do falecimento de dois Amigos ocorrido ontem:


Artur Ramos

2o-11-1926 / 9-1-2005

Artur Ramos, é uma personalidade artística que marcou profundamente a vida cultural portuguesa do século XX. Encenador, cineasta, realizador de televisão, ensaísta, tradutor, Artur Ramos, nos seus vários papéis, foi sempre um intelectual, um artista que procurou fazer avançar as coisas, que estudava e se informava, nas difíceis condições da época que lhe coube viver, e encontrou, ainda, tempo para uma actividade de divulgação que, nunca abandonou.

Foi, um pioneiro da televisão, em Portugal, o primeiro realizador efectivo da RTP, a partir logo das emissões experimentais a partir da Feira Popular em 1956. Em toda a sua carreira esteve sempre presente o interesse pela literatura portuguesa contemporânea, , por exemplo, nos seus filmes Pássaros de Asas Cortadas, de Luís Francisco Rebello, ou A Noite e a Madrugada, de Fernando Namora, de quem adaptou também Retalhos da Vida de um Médico, numa famosa série que dirigiu para a RTP, ou na divulgação, que empreendeu com entusiasmo, das obras de Jaime Salazar Sampaio, Teresa Rita Lopes, Augusto Sobral, Luís Francisco Rebello, Romeu Correia, Manuel da Fonseca ou Bernardo Santareno.

Foi, também, um divulgador da dramaturgia moderna, tendo dirigido textos de Beckett (estreia em português de Os Dias Felizes, com Glicínia Quartin), Peter Shaffer, Michael Franders, Alec Coppel, Harold Pinter, John Osborne, Frederic Knott, Kafka, Arthur Miller, Mitkiewicz, Tancred Dorst, Peter Weiss, Rolf Hochhuth, Heiner Kippartt, Jordi Texidor, Brecht, Egon Wolf, etc.
Na Companhia de Teatro de Almada dirigiu Os Retratos, de Julio Mauricio, e O Fim da Enfermeira João, de Franck Markus.

Na sua actividade de realizador de teleteatro, na RTP, dirigiu numerosas peças de autores como Tchecov, Carlos Selvagem, John Milligton Synge, João Pedro de Andrade, Marivaux, Molière, Gervásio Lobato, Gozzi, Garrett, Gil Vicente, Calderón, Thorton Wilder, Oscar Wilde, Lope de Vega, Eugene O’Neill, Cervantes, Bernard Shaw, Mrozeck, Ribeiro Chiado, D. Francisco Manuel de Melo, Eça de Queiroz, Luís de Sttau Monteiro, Alfredo Cortez, Marcel Pagnol, Miguel Rovisco, António Ferreira, entre muitos outros.
A um tempo artista criador e homem de Cultura, Artur Ramos fez sempre questão ide se inserir e de se envolver na sua época e na modernidade. E soube sempre, com exemplar coerência e convicção, assumir uma atitude cívica e política que determinou o seu despedimento da RTP em 1961, acusado pela PIDE de simpatia pelo PCP. Só depois do 25 de Abril voltaria a ser reintegrado

(extracto de um texto editado pela Companhia de Teatro de Almada)


Helena Sá e Costa
26-5-1913/9-1-2005

Com 92 anos faleceu ontem esta insigne pianista e pedagoga que era uma lenda viva na cidade do Porto e uma das mais brilhantes figuras portuguesas, sobretudo no campo da música, de todo o século XX.

Oriunda de uma família de músicos (a sua casa era uma tertúlia musical e cultural por onde passaram alguns dos mais insignes vultos da nossa cultura ao longo de várias, décadas) cedo demonstrou o seu pendor para seguir as pisadas dos seus maiores. Iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Lisboa, mas resolveu alargar os seus conhecimentos tendo ido estudar para Paris e Berlim. Quando regressou foi logo convidada para suceder a Viana da Mota, seu ex-mestre no Conservatório. Mudou-se posteriormente para o Conservatório do Porto, fundado por seu avô, onde foi, por sua vez, mestra de alguns dos pianistas mais conceituados actualmente no nosso país. Interpretou, no país e no estrangeiro, todos os grande nomes da música universal, com especial relevo para Bach, de que se tornou especialista de um nível excepcional

1 Comments:

  • Cantar ao Sol said...

    Sem querermos abusar da hospitalidade, estamos aqui para lhe dizer que voltámos. E, desta vez, dedicámo-nos a uma leitura mais atenta. Por isso, parafraseando a sua mensagem de Ano Novo, dedicada “à legião de assíduos (seis ou sete) leitores” do blogue informamo-lo que nos tornámos fiéis e tomámos a liberdade de incluir no nosso blogue um link do seu crítico, lúcido e humorado blogue.
    Outra coisa. Diz que é "um cidadão comum com muitos anos e pouco juízo", nós pensamos que, acima de tudo, é uma pessoa com um excelente humor e sentido crítico.
    A ousadia de lhe escrevermos é uma consequência directa do que publica e partilha com quem, como nós, teve “ganas” de lhe vasculhar a gaveta...
    Até breve.

    CANTAR AO SOL

    By Anonymous Anónimo, at 25 janeiro, 2006 00:32  

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