ENQUANTO E NAO

sábado, janeiro 07, 2006

Curtas


As atribuições do Presidente da República

Entrevistado hoje pela TSF, Garcia Pereira produziu afirmações que sem constituírem novidade, são contudo um bom motivo de reflexão: Há anos que o país anda embalado nesta alternância PS/PSD (ora agora viras tu, ora agora viro eu, como se de um corridinho algarvio se tratasse) e a nossa vida vai piorando de cada vez que os parceiros mudam. Está um deles no Governo (não interessa qual porque pouca diferença fazem) o povo está descontente, vem o outro capitaliza esse descontentamento, apregoa que irá fazer o contrário e é eleito; uma vez no poleiro faz exactamente o mesmo ou pior que o seu antecessor; o partido derrotado promete mudar tudo se voltar a ser eleito, promete aumento de vencimentos, redução dos impostos, criação de postos de trabalho, melhorias na educação, na saúde, na justiça, e o povo embarca; chegado ao poder, não há aumentos para ninguém, agrava os impostos, aumenta o custo de vida, e o povo continua alegremente a participar no bailinho, sem reparar que está a ficar sem sapatos para a dança. E não saímos disto.
Claro que o Garcia Pereira só aflorou o tema, pois o estilo da prosa é meu como já devem ter reparado.

Isto é uma coisa que todos sabemos mas a verdade é continuamos distraídos como se não fosse nada connosco. O que o Garcia Pereira introduz de novo nesta história é a seguinte questão: Será que e constitucional mentir ao povo. Isto é constituir um governo na base de uma mentira pública? Não será das atribuições do Presidente da República chamar à pedra um governo que, grosseira e despudoradamente desrespeita as promessas com que aliciou os eleitores e poder mesmo demiti-lo? Garcia Pereira acha que sim.
Eu também.

Política e moral

A questão da participação da empresa espanhola Iberdola na EDP, mais do que preocupante pelo perigo de que, paulatinamente, os centros de decisão sobre os nossos recursos energéticos passem para as mãos do poderoso vizinho (mas essas são as regras do sacrossanto princípio da liberalização económica que quem nos governa tanto aprecia) é, sobretudo, resultado de um acto sumamente imoral. Como é possível que tenha sido pela mão de um ministro português, o sr. Pina Moura que essa empresa tenha entrado na EDP e agora esse mesmo senhor, que é deputado do PS apareça como um dos seus representantes? Isto não brada aos céus?!! Não há vergonha neste País.


A morte de Ilse Losa

Com 92 anos faleceu hoje a escritora Ilse Losa
Muita gente não saberá quem foi. Mas foi uma grande escritora da nossa língua, que a mim me marcou bastante na minha juventude e a de muita gente do meu tempo.
Ilse Lieblich Losa, escritora portuguesa de origem alemã e de ascendência judaica, nasceu a 20 de Março de 1913, em Bauer, uma cidade perto de Hanover.

Em 1930 está em Londres onde toma conta de crianças durante um ano. De regresso à Alemanha e devido à sua condição de judia é perseguida pela Gestapo e tem de abandonar o seu país, refugiando-se em Portugal onde chega em 1934, radicando-se no Porto. Casa com o arquitecto Arménio Losa e adquire a nacionalidade portuguesa.

A sua obra inclui romances, contos, crónicas, trabalhos pedagógicos e literatura para crianças.

Paralelamente à sua actividade de desenvolveu outras ocupações quer no domínio da tradução, quer como colaboradora em jornais e revistas, alemães e portugueses, entre os quais se destacam o Jornal de Notícias, o Comércio do Porto, o Diário de Notícias, Neue Deutsche Literatur, entre outros.

Ilse Losa está também representada em várias antologias de autores portugueses, tendo ela própria colaborado na organização e tradução de antologias de obras portuguesas publicadas na Alemanha. Traduziu do alemão alguns dos mais consagrados autores.

A sua obra
As experiências da nazificação do seu país natal e as dificuldades de adaptação à sua pátria de exílio constituem alguns dos motivos das suas obras, entre as quais se contam:
O Mundo em Que Vivi (1949, volume de estreia), Histórias Quase Esquecidas (1950), Rio Sem Ponte (1952), Aqui Havia Uma Casa (1955), Sob Céus Estranhos (1962), Encontro no Outono (1965), Estas Searas (1984), Caminhos sem Destino (1991) e À Flor do Tempo (1997, Grande Prémio da Crónica de 1998).
Distinguiu-se também como autora de literatura infantil, com os livros A Flor Azul (1955), Na Quinta das Cerejeiras (1984, Prémio Calouste Gulbenkian), A Visita do Padrinho (1989) e Faísca Conta a Sua História (1994).
Escreveu ainda uma obra de crónicas de viagem, Ida e Volta — À Procura de Babbitt (1959).

Aqui lhe presto a minha homenagem