ENQUANTO E NAO

quinta-feira, janeiro 26, 2006

LEALDADE/AMIZADE

De entre os bons sentimentos susceptíveis de habitar o ser humano, um dos mais nobres – talvez aquele que eu mais aprecie – é a Lealdade. Também a Amizade se conta entre as grandes qualidades minhas preferidas, mas esta não fará qualquer sentido sem o suporte da primeira. Amizade e lealdade fazem parte de um binómio indissociável tanto mais valioso quanto raro, raríssimo mesmo de encontrar na adulterada escala de valores da sociedade em que vivemos.

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Vem isto a propósito do belíssimo artigo que Mário Bettencourt Resendes assina hoje no Diário de Notícias, sob o título “Senhor Presidente, meu Amigo”.

Mário Bettencourt Resendes não concordava com a apresentação de Mário Soares como candidato à Presidência da República e antes de ele o fazer, disse-lho sem reservas.

Porém, sendo amigo e admirador de Mário Soares e pressentindo que ele não ria resistir ao que considerava um dever cívico, garantiu-lhe "Se for candidato, mesmo discordando, terá, obviamente, o meu voto..."

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Mário Soares (vá lá saber-se porquê) avançou apesar da avisada opinião do seu amigos experiente jornalista e, estou certo de muitas outras avisadas opiniões.

Mário Bettencourt Resendes cumpriu integralmente o que prometera: “conformado”,deu-lhe o seu apoio, “nos limites compatíveis com a independência de espírito que se exige ao jornalista que exerce, com regularidade, a análise política”, ofereceu ao Amigo o voto que, além do mais, provavelmente tinha por inútil.

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No artigo de hoje, enunciando todos os erros cometidos por Mário Soares durante a campanha (que ele preferia não tivesse existido) e independentemente do fraco resultado obtido, remata com esta frase magnífica:

“Daqui a cinco anos, se tiver um impulso semelhante, avançará, uma vez mais, contra a minha opinião, mas terá, obviamente, o meu voto.”

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Bonito! São atitudes como estas que conseguem, às vezes, reconciliar-me com o tempo de abjecção em que vivo e me induzem a pensar que nem tudo está perdido.

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Tinha outros temas para abordar hoje, mas prefiro que a beleza deste gesto não seja contaminada por outras coisas menos belas com que, a cada instante, nos deparamos