ENQUANTO E NAO

terça-feira, janeiro 24, 2006

RESCALDOS

Antes de mais, devo dizer que achei óptimo que o Manuel Alegre tenha batido o candidato escolhido por Sócrates. Foi uma boa lição para ambos.

E contudo, aqui muito à puridade (pese embora o apreço que tenho pelo empenhamento, generosidade e excelência de intenções de muitos dos que se envolveram na campanha eleitoral de Alegre) não consigo pensar nele sem o achar muito menos aggiornato do que o velhoMário Soares.

É assim que penso. E contra isso, batatas. (é a vantagem de escrever num blogue pessoal, que me permite usar este estilo coloquial, que tanto me apraz). Com efeito, apesar da idade mais avançada, vejo Mário Soares, muito mais atento ao que se passa no mundo, aos problemas da globalização, do ambiente, da guerra e da paz, dos direitos humanos, do terrorismo, etc, enquanto Alegre, o vejo mais popularucho, mais virado para o passado, mais marialva, mais tipo republicano de 1910 e mais afastado dos grandes temas da actualidade.

De qualquer modo, Manuel Alegre perfilou-se para avançar como candidato e muito me espanta que Mário Soares com a sua experiência se tenha deixado cair na esparrela que o Sócrates resolveu armar-lhe. Foi o que se viu.

Estou certo que se o PS tivesse apresentado apenas um candidato (que podia muito bem ser o Manuel Alegre, que para tal se disponibilzara) com o apoio activo e organizado de todas as suas estruturas, Cavaco não teria, pelo menos, passado à primeira volta. O que são 60 mil votos comparados com as centenas de milhar de votos perdidos na abstenção - a maior de todas, em eleições presidenciais. Foi por acaso que isto aconteceu?

Agora há que tirar ilações. O resultado de Alegre em confronto com o do candidato de Sócrates vai ser objecto de grandes polémicas no seio do PS. È bom que assim seja. Mas será muito mau se Manuel Alegre, tomando a nuvem por Juno, se entusiasme, por a formar outro partido ou movimento à margem do seu Partido. Seria a pior coisa que poderia acontecer à já fragmentada esquerda. Seria bom que este resultado fosse aproveitado como uma mais valia para estabelecimento de um reequilíbrio de forças dentro do PS, de forma a que a ala mais à esquerda estivesse em condições de moderar o ímpeto direitista que Sócrates lhe tem vindo a imprimir.

E não me venham com a treta da bondade, agora descoberta, dos movimentos de cidadania. É certo que a democracia não se esgota nos Partidos, mas eles são a espinha dorsal do seu funcionamento. È preciso é vigilância interna, para que não se tornem propriedade de caíques.

Tenho muito receio de que esta nova/velha descoberta resulte (embora possa não ser essa a intenção dos seus defensores) em mais uma achega para a insidiosa campanha a que vimos assistindo de desprestígio dos políticos, da política e dos partidos, curiosamente alimentada por partidos de direita. Porque será?
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Estejamos atentos. Get smart, como dizia o outro