ENQUANTO E NAO

quinta-feira, agosto 31, 2006

"OS TARALHOES" na voz de Luis Gaspar

Gostou da minha estória "OS TARALHÕES"?
Então aprecie-a agora na bonita voz de Luís Gaspar,
em
http://www.estudioraposa.com/
no programa "Lugar aos Outros - 16"

Posso dizer-lhe (e este é melhor e mais raro elogio que um autor pode formular)
que o Luis Gaspar conseguiu ler o texto
exactamente na forma e no tom com que eu gostaria de o poder fazer!

sexta-feira, agosto 25, 2006

SOLIDARIEDADE BLOGUISTA


O bloguista Rui Diniz http://cortedelrei.blogspot.com
acaba de publicar um livro com alguns dos seus poemas, acompanhado de um audiobook interpretado pela voz inconfundível de Luís Gaspar e por ele produzido no seu "Estúdio Raposa"
http://www.estudioraposa.com

* * *

Por solidariedade bloguista eu faço
a apresentação, que se tiver a pachorra de escutar a minha "linda voz" de cana rachada, pode ouvir
AQUI

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Veja também no meu outro blogue
a nova crónica
"OS TARALHÕES - Uma estória de putos"

quarta-feira, agosto 23, 2006

TRAULITEIRICES

O trauliteiro-mor

Vasco Graça Moura já nos habituou ao se estilo caceteiro e vesgo tão pouco conforme às suas qualidades de poeta e intelectual de fina estirpe, que muito admiro quando nessas águas restritas se move. Contudo, na sua crónica de hoje no DN, intitulada “Cessar o quê?”, VGM consegue ultrapassar a sua própria fasquia de caceteirismo ultramontano. Não é uma crónica é um vómito. Nada escapa à seu mau feitio de sarrafeiro encartado:
”A ONU não presta para nada” ...(...) “É a instância mais empatativa e mais desprestigiada de toda a História internacional”
“O Hezbollah é uma canalha assassina que não pode ser tomada a sério nem é fiável como interlocutor.”

“Até se sentir em segurança, Israel dirá "sim, mas" ao cessar-fogo e fará o que entende que deve fazer. Felizmente para os judeus e para o mundo civilizado”

“Franceses, italianos e espanhóis, cuja participação nela (força militar da ONU) se anuncia, acabarão a contribuir submissamente para o falhanço da missão: é o que pode esperar-se da mediocridade congénita e irremissível dos srs. Chirac e Villepin, da periclitante salada de esquerda do sr. Prodi e do progressismo alvar do sr. Zapatero.

Os israelitas não terão outro remédio senão neutralizar o potencial nuclear do Irão. Mas a União Europeia continua a contentar-se com as patéticas deslocações do sr. Solana por esse mundo fora e a achar que tantas andanças tão exemplarmente sem sentido correspondem ao papel mais eficaz que a História lhe reservou.

Aí, valente! Nada se salva na opinião do ilustre cronista, excepto o Governo sionista de Israel, para o qual nem uma palavra de reprovação. Pelo contrário VGM acha que Israel deve dizer sim ao cessar-fogo, apenas para ganhar tempo para a desforra e fazer o que muito bem entender, Será que ainda o vamos ver de bazuca ao ombro ao lado dos seus amigos israelitas de que tanto gosta? Ele não morre de amores pela ONU. Os Estados Unidos também não. Comunhão mais perfeita de ideais não pode haver, O melhor seria então acabar com ela e entregar os destinos do mundo ao livre arbítrio do Império e seus aliados. Aí, sim, o Sr. VGM acalmaria os seus acessos biliosos.
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Duas Notícias
(no DN de hoje)

1ª: Teerão propõe “nova fórmula” para resolver crise sobre programa nuclear

2ª: Washington está pronta a entregar rapidamente uma proposta de resolução no Conselho de Segurança com vista a impor sanções ao Irão
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Pois, pois, o melhor é apressarem se não vá o diabo tece-la e as propostas do Irão sejam susceptíveis de merecer a aceitação da ONU. O costume aliás: Invadir o Iraque, antes que ficasse provado sem margem para dúvida de este não possuiu quaisquer armas nucleares, Israel a endurecer as suas posições contra o Governo da Pelestina sempre que este está disposto a negociar... enfim, a gente sabe...

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O PCP, o BE e a contribuição de Portugal para o contingente da ONU a enviar para o sul do Líbano.

Confesso que não percebo a oposição destes dois partidos à participação de militares portugueses neste contingente, uma vez que o Próprio Governo do Líbano e o Hezbollah aceitaram recebe-lo. Tirando a impossibilidade financeira para o país em assegurar tal participação não vejo ( a menos que alguém me explique muito bem) qualquer problema de ordem política.

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Günter Grass


De repente toda a gente faz questão em desancar este grande escritor e homem de esquerda que tem sido ao longo de várias década uma das consciências da sociedade em que vivemos. Aqui d’el rei que pertenceu às SS, que nunca confessou, que lhe devia ser retirado o prémio Nobel, enfim um chorrilho de disparates, só explicáveis por inveja, mediocridade e ódio às ideias que professa. Que espanto pode causar que um adolescente se tenha deixado entusiasmar por participar numa aventura de “brincar aos soldados” , que lhe permitia escapar da alçada da família e viver a sua vida à sua maneira. Só que ele arrependeu-se quando tomou consciência e isso o atormentou a vida inteira. E tanto quem como homem de vergonha que é, tinha vergonha de o confessar.
Outros há que aplaudem genocídios e disso se ufanam


A este propósito, e no sentido de calar a boca aos invejosos que gostariam de ver este grande escritor despojado do Prémio Nobel que muito justamente lhe foi atribuído, permito-me citar uma passagem do artigo do DN de ontem,
“Os juízes de Günter Grass” da autoria de Diogo Pires Aurélio, pessoa insuspeita de ser seu admirador no aspecto político:

(...) Pelo meio, há ainda o ressentimento e o mero cretinismo, que não lhe perdoam o sucesso e que reduzem o episódio a uma operação de promoção. Gente que dá erros de ortografia, mas que não se coíbe de cacarejar sentenças sobre o estilo de Grass.

As opiniões políticas do romancista interessam-me pouco. Julgo que teve algum papel na Alemanha dos anos 60 e 70, ao lado de Willy Brandt, mas que, a partir da chamada crise dos mísseis, se colocou sistematicamente do lado errado. A sua adolescência nazi é, obviamente, um pesadelo de que talvez já não consiga libertar-se e uma culpa que só agora foi capaz de confessar. Não sei se terá perdão, sobretudo por parte dos que foram vítimas das SS. Mas sei duas coisas simples. Sei que as ideias que ele sustentou não ficaram piores nem melhores por se saber a dimensão do recalcamento que tinham por lastro. E sei, sobretudo, que não trocaria uma página d' O Tambor pelas obras completas de nenhum dos seus críticos.

Como diz o ditado, os cães ladram e a caravana passa, e a prova-lo está o facto de o seu último livro, “Descascando a Cebola”, onde faz a sua corajosa confissão, com uma edição de 150 mil exemplares esgotou completamente no dia da sua aparição.

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Veja também a nova estória,
OS TARALHÕES,
No meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com

terça-feira, agosto 15, 2006

GUERRAS…Esta acabou (?) qual a que segue?

A Guerra (acabou?)

Por força da pressão internacional terminou, ao fim de 34 dias, a estúpida guerra contra o Líbano. As guerras são todas estúpidas, mas esta abusou. Normalmente há um vencedor e um derrotado, sendo que ambos na prática sofrem prejuízos incalculáveis. Aqui, os prejuízos são imensos e nem sequer houve um vencedor e se houve, pelo menos moralmente, foi o considerado mais fraco dos contendores.

Quem perdeu absolutamente foi a população civil. Essa perde sempre. No Líbano, morrerem, pelo menos 1084 civis e quatro observadores da ONU e ficaram feridos cerca de 4.ooo. Em Israel morreram 41 civis ficaram feridos 585. Quando se trata de matar, Israel vai sempre à frente, de uma forma imensamente desproporcional.

Deslocados, de ambos os lados são cerca de um milhão, sobretudo no Líbano.

As destruições, sobretudo no Líbano, são impressionantes: 29 Infra-estruturas vitais, como aeroportos e portos foram destruídas ou danificadas: O mesmo aconteceu a mais de 630 Kms de estradas e a 145 pontes, 7.000 habitações, 900 fábricas, lojas, quintas e mercados.

Tudo isto para quê? O motivo alegado era libertar os dois soldados israelitas, não era? No entanto eles continuam nas mãos dos raptores. Aliás Israel não tem moral para desencadear uma guerra por dois soldados raptados, quando o seu governo é um raptor compulsivo. Mantém raptados centenas de palestinianos, entre os quais metade dos membros do parlamento palestiniano, ameaçou diversas vezes raptar e mesmo assassinar o Presidente da autoridade palestiniana Yasser Arafat, que manteve cercado, como prisioneiro, durante largos meses. Que moral tem, pois?

Mas nesta guerra (como em todas) houve alguém que ganhou. Foram os fabricantes e vendedores de armamentos, à frente dos quais se destaca, todos sabem, a entourage política e governativa da administração Bush.

Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça!_
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Aliás a desculpa do rapto dos soldados para justificar a guerra é uma grande treta. Como, a confirmar o que qualquer pessoa mediamente inteligente podia suspeitar,se prova com a leitura da local do DN de ontem que a seguir reproduzo

Estados Unidos terão ajudado Israel a planear ofensiva

A Administração americana participou na planificação das operações militares israelitas contra o Hezbollah, antes mesmo do sequestro dos dois soldados do Estado hebraico pelo grupo xiita libanês, noticiou ontem a revista americana New Yorker, Segundo Seymour Hersti, vencedor do prémio Pulitzer pela denúncia do escândalo de torturas em Abu Ghraib, o Presidente dos EUA, George W. Bush, e o seu vice, Dick Cheney, estavam convencidos de que uma campanha contra o Hezbollah podia diminuir as preocupações do Estado hebraico com a sua segurança e funcionar como preparação para um ataque preventivo contra as instalações nucleares do irão. Citando um perito em assuntos do Médio Oriente, Hersh explica que Telavive tinha um plano para atacar a milícia xiita muito antes do sequestro de dote dos seus militares, a 12 de Julho, e tinha comunicado as suas intenções aos responsáveis americanos, De acordo com esse perito, Washington tinha uma boa razão para apoiar essa campanha: uma eventual operação militar contra as instalações nucleares do Irão passaria pela destruição das armas do Hezbollah, para evitar que fossem usadas numa eventual resposta contra Israel.

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sexta-feira, agosto 11, 2006

UM COMENTÁRIO e UMA TRANSCRIÇÃO

A ameaça terrorista em Londres

Perante a suposta ou real ameaça terrorista a ser perpetrada em diversos aviões, as autoridades ingleses tomaram ontem severas medidas de vigilância e precaução nos aeroportos de Londres. A existirem essas ameaças, tais medidas impunham-se, e agiram correctamente as autoridades ao toma-las. O terrorismo existe e os governos dos diferentes países a ele sujeitos têm o dever de proteger com medidas adequadas os seus cidadãos e é isso que fazem. Tudo bem.

E o principal? Combater as causas do aparecimento do terrorismo e as situações favoráveis ao estado de espírito que o propicia? O que fazem os Governos, especialmente os mais poderosos, os que mais poderiam fazer nesse sentido? Fazem alguma coisa? Muito pelo contrário. Os Estados Unidos, por exemplo – a única superpotência actualmente existente, com, a sua política belicista e exploração descarada de outros povos, não só cria as condições ideais para proliferação de actos terroristas, como recorre mesmo ao serviço de terroristas quando tal convém à sua politica expansionista, como fez em tempos com o Bin Laden e em outras dituações.

A pretexto de combater o terrorismo, o sr. Bush, com o apoio activo do sr. Blair e o encorajamento folclórico de uns quantos "yesmen", invadiu o Afeganistão e depois o Iraque. E depois? Acaso o terrorismo diminuiu? Pelo contrário, ele aí está, cada vez mais activo, cada vez com mais gente desesperada disposta a sacrificar tudo, mesmo a própria vida , para se libertar da “generosa ajuda” dos Estados Unidos e seus parceiros.

Este ataque sem regras nem medidas do governo belicista de Israel, ao Líbano, sempre com a bênção dos EU, seja qual for o resultado no campo de batalha, vai contribuir para a diminuição do terrorismo? Só um cego (nem um cego) não vê que, pelo contrário, ele vai sair dali muito mais reforçado e activo.

Quereis combater o terrorismo, senhores governantes? Ajudai, se ainda fordes a tempo, os países mais pobres, a desenvolverem-se, a terem acesso à educação e à saúde, a erradicar doenças endémicas – desinteressadamente, sem pressões políticas, sem lhes pilharem os seus recursos naturais ... e aí sim, se ainda fordes a tempo, estareis a contribuir para o declínio do terrorismo.
Sou um lírico? Pois sou. E vós sois estúpidos se não virdes o que tão claro está diante dos vossos olhos.

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A escapadela

Ana Sá Lopes
DN de 11-8-2006

Portugal acabou de dar o seu contributo para a guerra no Líbano, na versão "escapadela": autorizou a passagem de um avião com"material bélico não ofensivo", numa versão, ou "material dito não contencioso em pouca quantidade", em outra.

Foi coberto de remorsos que o secretário de Estado dos Assuntos Europeus garantiu que nunca mais acontece, que foi só uma vez e que Israel já foi informado de que nunca mais aterra na Terceira. Para além de invocar o carácter excepcional do feito, o Governo tratou de apresentar uma outra atenuante: era "pouca quantidade", como disse o secretário de Estado ao DN.

O episódio do avião é uma caricatura da tentativa de "não-posição" que o Governo tem assumido neste conflito. Se o Governo considera que Israel está em pleno exercício legítimo de um direito de defesa, deve autorizar o uso das Lajes, sempre que for necessário, para todo o material necessário a Israel, quer seja "bélico não ofensivo" (???), quer outro.

Se duvida que a presente destruição do Líbano seja exactamente o bom caminho para o reforço da defesa do Estado de Israel, não podia ter aceite a escala do tal "material bélico não ofensivo", uma frase do mais fino recorte político.

Na tentativa de encontrar a terrível bissectriz para posicionar-se face ao conflito Israel-Hezbolah-Líbano, a partir de uma putativa 'neutralidade', o Governo conseguiu que toda a gente, a começar pelo PSD veja o óbvio: quem autoriza legitimando um objectivo, autoriza sempre.

A versão "escapadela" da política internacional tem sólidos antecedentes em Portugal, do comportamento de Salazar na II Guerra à decisão de participar na invasão do Iraque com as forças da GNR. Se o Governo Sócrates, nesta matéria, se limita a cumprir a histórica "estratégia" nacional, é difícil perceber porque tomou uma decisão destas à revelia do Presidente da República que, para o bem ou para o mal, é o comandante supremo das Forças Armadas.

Ora, em qualquer contexto de guerra, a maior das Forças de que Portugal dispõe é a base militar da ilha Terceira, no meio do Atlântico, emprestada nesta "excepção" a Israel. Numa conjuntura destas, não ouvir o Presidente da República é uma "escapadela" institucional que, em devido tempo, Cavaco Silva (que tem estado silencioso sobre o conflito do Médio Oriente) não se esquecerá de "somar ao efectivo".
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quinta-feira, agosto 10, 2006

MALDITAS GUERRAS e mais quem as defende

Agora, em tempo de férias,
limitar-me-ei , em princípio, a transcrever neste blogue
artigos e opiniões de terceiros.Em contrapartida, agora que está de férias,
pode sempre ler alguma das minhas crónicas, sobretudo a última
"Amélia Melenas, minha mãe
em:
http://escritosoutonais.blogspot.com.
.
Do DN de hoje transcrevo este belo artigo , no qual se denuncia o belicismo. Não só dos que fazem a guerras, mas de todos (e há tantas cabeças ditas "bem pensantes", entre nos, que a defendem, a exaltam e a glorificam
Voltou o belicismo
Rogério Fernandes Ferreira
Catedrático de Economia
in DN de 10-8-2006

As ocorrências de conflitos armados são descritas tendenciosamente, favorecendo-se assim a deflagração ou o desenvolver de guerras. A génese da guerra está na mente dos seus fautores. Lançam os fermentos e invocam Clausewitz. Quem, realmente, quer a paz esforça-se por a encontrar. Conceber e concretizar guerras não é conceber paz. Culpa-se da guerra o outro lado (pois, nós, temos razão). Nós queremos o legítimo (o que é nosso). O que é nosso? O nosso é o que defendemos, o que queremos tirar aos outros ou o que os outros nos querem tirar a nós.Os fanáticos das guerras e os amantes das guerras mistificam, propagandeiam e enganam. Invocam que os outros - os inimigos - são maus, mentirosos ou bandidos. Com fins guerreiros mentem, enganam cidadãos e escondem propositadamente as justas razões dos outros. É com mentiras que se elimina a concórdia e se incitam as populações a guerrearem-se. Se, com verdade, se buscasse a paz, não se teria a guerra. Os belicistas não se importam com os males que a humanidade sofre com as guerras - mortes, destruições ou holocaustos. A guerra é o seu propósito e tudo fazem para que ela se verifique.Alguns lamentam as mortes e as destruições havidas, mas apenas as do seu lado. As do outro causam-lhes alegria, regozijo e festejos. A persistente guerra entre israelitas e não israelitas é exactamente exemplo disto. Os belicistas são inimigos da humanidade. Mandam, são poderosos e agem de modo a que a paz não ocorra. Desejam ganhar (a todo o custo), provocando injustiças e mortes. Que o mundo fique pior (para os outros), o mais não conta - basta que ganhem. A sua ambição, a sua cobiça, o seu desejo é lutar, vencer, aniquilar inimigos, mesmo que inventados.Os belicistas manipulam e provocam aliciamentos e engodos. Se usassem a verdade, não alcançariam os seus fins, as suas glórias. Aventureiros sem escrúpulos, calculam os seus ganhos líquidos e aí não contam os males infligidos aos outros.Os belicistas são criminosos. Comprovam-no os julgamentos da História e os julgamentos que hoje faz a opinião pública e também, por vezes, o Tribunal Internacional.Nas ocorrências que a comunicação social mostra descortinam-se as motivações das práticas criminosas. Muitos dos vencidos (os que não morreram) acabam a confessar práticas ou crimes que contra eles foram cometidos. Ainda não se condenam os crimes dos vencedores, dos mais fortes. Até persiste o mito de considerar mais heróis os que mais matam.Será ainda possível travar os belicistas? Alcançar a concórdia? A razoabilidade e a justiça?Recear o pior é motivo para não nos silenciarmos perante o agravar das guerras. Oxalá a comunidade internacional consiga de modo razoável apaziguar os primeiros contendores e não acirrar mais os ânimos. Isso para evitar que se passe aos segundos contendores e assim sucessivamente, até à guerra total, à vitória total! Será a vitória final? Talvez não. Podem não morrer todos os inimigos. Os que restarem, ou seus descendentes, continuarão também na mira da vingança e da vitória final, ou seja, na senda da derrota final da humanidade.
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Mais citações (muito a propósito)
"Em Portugal ser reaccionário voltou a estar na moda. Basta ler alguns velhos rezingões que por aí escrevem a destilar ódio e frustração e uns quantos jovens que fazem carreira semanal a exibir cinismo e xenofobia."
Leonel MouraJornal de Negócios, 09-08-06
"Muita desta gente que hoje advoga a barbárie em nome da defesa do mundo ocidental, já a defendia também quando militavam contra ele. Muitos passaram directamente do maoísmo e da extrema-esquerda para o bushismo."
Idem, ibidem

quarta-feira, agosto 09, 2006

QUE BELO ARTIGO!

Agora, em tempo de férias,
limitar-me-ei , em princípio, a transcrever neste blogue
artigos e opiniões de terceiros.
Em contrapartida, agora que está de férias,
pode sempre ler alguma das minhas crónicas, sobretudo a última
"Amélia Melenas, minha mãe
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E aqui,
eu, que não me identifico inteiramente com o autor, recomendo vivamente que não perca este excelente artigo:
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Um massacre é um massacre é um massacre é um massacre
João Teixeira Lopes*
in PÚBLICo de 9-8-2006

E Qana não existiu, talvez nada exista, talvez seja tudo uma imensa paródia virtual de imagens e palavras que, depois de as criarmos, se libertam, loucas, no hiperespaço e troçam de nós, porque já não as comandamos

Hoje apetece-me assistir a tudo, ver tudo e não ficar imune. Hoje apetece-me perder a compostura, aquela compostura medrosa, tão próxima da "pequena dor que cada um de nós/traz docemente pela mão/esta pequena dor à portuguesa/tão mansa quase vegetal".
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Apetece-me dizer: "Viva a Vida!" ao contrário dos falangistas que gritavam na carnificina espanhola "Viva la Muerte!". E um falangista é um fascista, é um fascista, é um fascista (Ó Vasco, Ó Vasco Pulido Valente, por que não tens amigos, por que ninguém te diz "Vasco, olha para o que escreves, olha para isto, vamos embora, tem calma, "ainda não é o fim/é apenas um pouco tarde""?!). E olho, incrédulo, para um artigo recortado do PÚBLICO, em que Pacheco Pereira se delicia com as suas memórias de convívio próximo e fraterno com o Átila de África, Savimbi, babando-se, incrível, com a suposta complexidade do personagem, com a heroicidade dos deuses do Olimpo, que acabam sós, numa solidão de grandeza majestática, de destino trágico, como as grandes Tragédias dos antigos - Savimbi, o carniceiro, o louco, o assassino psicopata, alvo de tão grandiosas atenções...
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E olho, ainda, para umas inacreditáveis aspas, no editorial de José Manuel Fernandes - "o "massacre" de Jenin" - aspas que colocam em suspensão a realidade, que troçam dela e dos que a tomam como tal. E entusiasma-se, o editorialista, com uma contabilidade de mortos, serão menos, foram menos, e Qana não existiu, talvez nada exista, talvez seja tudo uma imensa paródia virtual de imagens e palavras que, depois de as criarmos, se libertam, loucas, no hiperespaço e troçam de nós, porque já não as comandamos, porque já não nos pertencem - as palavras e imagens que nós próprios construímos! Arquivos históricos, a Amnistia Internacional, as dezenas de organizações não governamentais, os jornalistas e os media, o próprio exército israelita!
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Façam o favor, leitores - como eu fiz - de pesquisar na Net os jornais de referência europeus; centrem-se nos editoriais e, em particular, naqueles que defendem Israel. Dar-vos-ei um rebuçado por cada artigo mais extremista, fanático e pró-americano do que o de José Manuel Fernandes.
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Eu que detesto os teocratas iranianos e a sua idolatria;
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eu que abomino o caudilhismo de Chávez e a cleptocracia angolana;
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eu que em nada defendo a presunçosa e secular ditadura Síria;
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eu que afirmo, como a esquerda a que pertenço, que não há nenhuma sociedade modelo ou "farol da humanidade" - nem o falecido "comunismo real", nem o autoritarismo dinástico cubano, nem a horrenda monarquia norte-coreana, nem o capitalismo selvagem da China;
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eu que nunca defendi ou apoiei ou armei taliban e Saddam Hussein no massacre a curdos, xiitas e comunistas, como fizeram sucessivas administrações americanas e o Governo português no tempo de Cavaco primeiro-ministro com Durão Barroso à frente dos Negócios Estrangeiros;
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eu que denunciei, como milhões de cidadãos e cidadãs no mundo e do mundo, a guerra contra o Iraque e a intervenção no Afeganistão, e que vejo, agora, a guerra civil, o ódio disseminado, o caos flagrante, as chacinas diárias;
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eu que escrevo contra essa nova vanguarda de extrema-direita, a tribo neoconservadora, detentora da luz que iluminará o mundo, os novos cruzados do império americano e da ideia pura de democracia e do seu proselitismo, os acólitos da ideia de guerra de civilizações, os tementes do relativismo e da democracia avançada (a tal que, felizmente, tudo questiona, porque não há nada que não deva ser questionado, apesar do medo que isso lhes causa), os que defendem Washington como se defendessem Roma contra os bárbaros, desculpando, é claro, e omitindo, sempre que possível, os desmandos do império, como as grosseiras e constantes violações dos direitos humanos (vejam o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão - laboratórios inteiros em que, à custa da morte de centenas de milhares, tais peregrinas ideias se desfizeram em destroços - o que querem mais para além da prova, mais que científica, mais que experimental destes cenários de horror, o que falhou, que guerras são ainda precisas, digam-nos Helena Matos, digam-nos, José Pacheco Pereira, digam-nos, José Manuel Fernandes, digam-nos, João Carlos Espada, mas digam-nos de uma vez por todas, o que falta ainda?).
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Eu que amo a América de Walt Whitman, "dos perfumados prados do meu peito" e desse judeu dilacerante, Woody Allen; eu - e outro ou outra poderia eu aqui ser - relembro Einstein e o seu apelo ao pacifismo militante (aquele que não hesita em lutar pela paz), olho para Qana e para toda a terra ferida e digo, desta vez em coro universal, que se uma rosa
É uma rosa
É uma rosa

Então, um massacre é um massacre é um massacre.
*Sociólogo

(Citações de Alexandre O"Neil, Manuel António Pina, Walt Whitman e Gertrude Stein, por sinal também americana e judia).

segunda-feira, agosto 07, 2006

O ESTADO DE ISRAEL. algo sobre a sua história

Agora, em tempo de férias, limitar-me-ei , em princípio, a transcrever neste blogue artigos e opiniões de terceiros.
Em contrapartida, agora que está de férias, pode sempre ler alguma das minhas crónicas em:
Leia hoje "Amélia Melenas, minha mãe"
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Cães de guerra, ou a importância de se chamar Israel
António Vilarigues
in PÚBLICO de 7-8-06

O estado de Israel tem sido advogado de acusação, de defesa, juiz e carrasco de extremistas e de activistas palestinos. E nunca falha! Israel diz que é terrorista e está dito!

O estado de Israel adquiriu um estatuto único a nível do direito internacional. Desde o seu nascimento. Desrespeita todas as normas e resoluções que os seus sucessivos governos entendem. Aplica arbitrariamente a lei do mais forte. Em completa impunidade. Com total e incondicional apoio das sucessivas administrações dos EUA. Perante a conivência e a complacência da chamada "comunidade internacional", nomeadamente da UE.A origem - Em 1947 a ONU aprova, com base na resolução 181, um plano de partilha da Palestina em dois Estados: um judaico e um árabe. Jerusalém, cidade Santa para três religiões, ficaria com estatuto de cidade internacional.
Em 1948 grupos de judeus armados destroem pelo menos 250 aldeias árabes, provocando, até 1950, o exílio forçado de 900 mil palestinos. Dois futuros primeiros-ministros de Israel (Menahem Begin e Itzhak Shamir) participam nestes actos.No seguimento destes acontecimentos a ONU aprova, em 1949, a resolução 194 que decide permitir aos refugiados que o desejem o regresso às suas casas com direito a compensações pela destruição dos seus bens. Só que em 1948, David Ben Gurion, então primeiro-ministro, declarou: "Devemos impedir o seu regresso a qualquer preço". Hoje são mais de 3 milhões e um dos complexos problemas a resolver no âmbito dos acordos de paz.A que outro país seria permitida tal actuação?Terrorismo de Estado - Na sequência da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupa o resto da Palestina (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém-Leste). Ao arrepio da resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, nesse mesmo verão a colonização dos territórios ocupados começa com a construção de novos colonatos.
Hoje existem mais de 200 mil colonos nestes territórios. Criando uma situação de facto consumado.A política oficial do Estado de Israel tem sido defender a concepção de que se pode expulsar, pelo uso combinado da violência física e da pressão económica, alguém duma terra onde nasceu e que é sua, para em seu lugar colocar alguém que nasceu algures e nunca conheceu o país. Tem sido transplantar para diferentes locais populações inteiras, provocando, consequentemente, a morte de milhares dos seus filhos. Tem sido privar o povo palestino do direito ao acesso à educação e à cultura.Tem sido a de enclausurar populações inteiras em campos de refugiados, forçando-as a viver no seio da miséria e da doença, abaixo de qualquer limite de pobreza. Tem sido responder à revolta generalizada, com a repressão em massa, considerando toda a população como potencial terrorista. Tem sido executar prisioneiros palestinos (neste momento são mais de 9000, incluindo ministros e deputados), a sangue frio. Tem sido a de construir um "muro da vergonha" que inviabiliza qualquer estado Palestino.Segundo o direito internacional tais situações configuram claramente uma política de Terrorismo de Estado. O que fez a "comunidade internacional"?Retaliações - Em 1970, na sequência do chamado "Setembro negro", uma parte da direcção da OLP envereda pelo terrorismo individual, opção que só terminará em 1974. Inicia-se a política de "olho por olho, dente por dente".
A cada atentado Israel responde com a liquidação física de dirigentes da resistência palestina.Mais de 34 anos depois esta política mantém-se, sem grandes resultados práticos à vista. O estado de Israel tem sido advogado de acusação, de defesa, juiz e carrasco de extremistas e de activistas palestinos. E nunca falha! Israel diz que é terrorista e está dito! Os dirigentes israelitas têm tirado pleno partido dos erros da OLP, da Autoridade Palestina (AP) e dos sectores mais extremistas da resistência. Chamem-se "Setembro Negro", Abou Nidal, Hamas ou Hezbollah. Neste momento as ameaças subiram de tom. E trazem à memória conhecidas práticas. Ouvimos porta-vozes do governo e ministros falar em destruir 10 casas por cada rocket. Ou toda a infra-estrutura civil de Beirute se algum míssil atingir Telavive. Com a mesma arrogância, com a mesma brutalidade, com a mesma frieza dos seus antepassados nazis.
Tive a possibilidade de visitar a aldeia mártir de Lidice, na então Checoslováquia. E outras dezenas de situações semelhantes na Lituânia, em França, na Bielo-Rússia, na Ucrânia, na Rússia. Frutos da política hitleriana de 10 mortos por cada morto alemão. A similitude arrepia.O Estado - O Estado de Israel é um estado teocrático, fundamentalista, onde a lei religiosa é imposta a todos os cidadãos. Não há separação da Igreja e do Estado. É um estado nascido do sionismo. Israel é uma potência nuclear assumida. Que já teve um criminoso de guerra, considerado como tal no seu próprio país, como primeiro-ministro: Ariel Sharon. É um país que bombardeia, invade e ocupa os seus vizinhos a qualquer pretexto (Iraque, Tunísia, Síria, Líbano). Que assassina ou fere observadores da ONU (esta não foi a 1ªvez que tal sucedeu).E fá-lo com a compreensão, a complacência, o aplauso, o incentivo, a conivência, o apoio, dos EUA, da UE, da NATO.O presente - Em Setembro de 1993, no âmbito dos acordos de Oslo, Israel e OLP reconhecem-se mutuamente. É pois falso o argumento de que a questão central neste momento é o não reconhecimento do Estado de Israel.A questão central no Médio Oriente é o não reconhecimento, na prática, por Israel do direito à existência de um estado Palestino. Coerentemente a actuação dos seus governantes tem sempre contribuído para este objectivo estratégico. Basta recordar as sucessivas destruições de todas as infra-estruturas administrativas e policiais da AP. Depois acusada, por exemplo, de não perseguir os terroristas...A pretexto do rapto de militares seus, situação já verificada anteriormente e sempre resolvida, Israel desencadeou uma guerra em duas frentes. Com a invasão, pela enésima vez, de um país soberano, o Líbano. Refira-se que a superfície do Líbano (10.450 km2) é inferior à do distrito de Beja (13.738 km2). Sublinhe-se que uma operação desta envergadura não se prepara em 24 horas. Tudo se passou como se Israel estivesse apenas à espera do pretexto.O resultado é conhecido e traduz-se em centenas de mortos, milhares de feridos, perto de 1,5 milhões de deslocados dos três lados (Gaza, Líbano, Israel). Com a destruição sistemática de sectores vitais e infra-estruturas civis. Com o bombardeamento de pontes, estradas, portos, aeroportos e instalações governamentais.Esta contabilidade macabra contribuirá sem dúvida, como até aqui, para estimular o ódio e alimentar a intolerância mútua.É a política em que, como referiu Manuel Carvalho "a arbitrariedade da força militar se tornou o argumento exclusivo para a resolução de crises complexas". É a política em que o Pentágono reabastece o stock de mísseis das forças de Telavive. Enquanto proclama diplomaticamente a "urgência" no termo dos combates.
É a política de dois pesos e duas medidas.Os crimes de guerra e o rasto de sangue deixado por Israel na Palestina e no Líbano responsabilizam a política fascista do governo israelita. Mas também os países e potências imperialistas que estimulam a sua acção e têm nela um instrumento de concretização dos seus objectivos estratégicos no Médio Oriente.

*Gestor de Sistemas Informáticos

sexta-feira, agosto 04, 2006

AMÉLIA MELENAS, minha Mãe

Veja hoje, no meu outro blogue
AMÉLIA MELENAS, minha mãe

quarta-feira, agosto 02, 2006

Posted by Picasa

FIDEL CASTRO e outras coisinhas

Fidel Castro

Por doença, que se presume grave, Fidel Castro foi forçado a deixar temporariamente a governação de Cuba entregue à 2ª figura do Estado - o seu irmão Raul Castro. Definitivamente, talvez. Rejubilam alguns com o facto e enquanto outros, muitos outros se entristecem. Fidel Castro é uma personalidade que não deixa ninguém indiferente. Por mim, desejo que melhore e que possa vir a reocupar o seu lugar na condução dos destinos do Povo Cubano. Ontem No jornal da noite da TVI a jornalista de serviço, pediu a opinião de Miguel Sousa Tavares sobre o homem sobre o qual recaiam as notícias do dia, ao qual se referiu como ditador. Miguel Sousa Tavares (e ele não costuma poupar ditadores) começou por dizer que tem a maior simpatia por Fidel Castro, acrescentado que ele não é um qualquer ditador, não é um corrupto, não tem sinais exteriores de riqueza, tem uma ideologia, tudo o que faz fá-lo por coerência com os seus ideais – coisa rara na maioria dos políticos que para aí andam é uma figura incontornável da história contemporânea.

Cito de cor. Foi mais ou menos isto que MST disse e eu subscrevo inteiramente. Fidel é um gigante entre sapos
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O senhor VGM

A Europa civilizada insurge-se contra a utilização de aviões para torturar, em voo, e fora do seu território os prisioneiros que os estudos Unidos consideram suspeitos de terrorismo, e de utilizar indevidamente e sem autorização de aeroportos de outros países.

O sr. Vasco.Graça Moura acode solícito em defesa da política fascizante do sr. Bush:
“Não há qualquer indício de torturas infligidas a suspeitos eventualmente assim transportados e só esse aspecto podia ser relevante.”

Só contaram para ele

Todo o mundo sabe que a violação dos direitos humanos, o uso da tortura e a humilhação degradante dos prisioneiros são uma constante em Abu Ghraib e em Guantánamo.

Pois o sr. VGM, admirador da política belicista do Sr. Bush,defende que:
“O respeito dos direitos humanos é assegurado pelos próprios mecanismos do Estado de direito, como se tem visto, a propósito de Abu Ghraib e de Guantánamo.”
Só contaram para ele.

Qualquer pessoa, com um mínimo de sensibilidade respeito pelas liberdades e direitos fundamentais, sabe que ninguém pode permanecer detido sem que alguém do exterior, um familiar, uma instituição, um advogado tenha do facto conhecimento.

Pois o sr. VGM entende que o facto de o terrorismo não ser uma guerra convencional e desenvolvendo-se
“numa rede internacionalmente desmultiplicada, fanatizada e disposta a tudo”
”...explica a intervenção dos serviços secretos em moldes menos ortodoxos, como o de não se comunicar quem foi capturado e como, ou quem segue em determinado avião e porquê”

Isto é, justifica, na opinião do sr. VGM práticas de terrorismo de Estado
Aliás o sr. VGM entende que, esse terrorismo de Estado ,
“Essa actuação ainda assim respeita as regras jurídicas fundamentais. O adversário, esse, é que não respeita regras nenhumas.”

Só contaram para o Sr. VGM

Citações retiradas da crónica do sr. VGM (sempre igual a si mesmo) no DN de hoje

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A diplomacia da "ambiguidade"
Vicente Jorge Silva

Começa assim o seu artigo de hoje no DN

“O Governo português prescindiu - e continua a prescindir - de tomar posição sobre a tragédia que se vive no Médio Oriente. Nem os mais recentes e brutais acontecimentos, como o bombardeamento de um posto da ONU pela força aérea israelita e, sobretudo, o massacre na aldeia de Caná, fizeram o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros sair do seu mutismo imperturbável. “

E assim termina:

“...Se Portugal vier a participar numa força multinacional no Líbano - cenário que Amado admite - não será, portanto, por alguma ideia, atitude ou opinião própria que o nosso Governo tenha sobre o assunto, mas apenas por um seguidismo geostratégico do tipo "Maria vai com as outras". Depois do maniqueísmo, do fanatismo e do cinismo das posições sobre uma guerra cada vez mais cruel e devastadora, só faltava mesmo que o ensurdecedor silêncio oficial português se mascarasse com o pragmatismo farisaico da "ambiguidade" diplomática. “


É exactamente como já aqui escrevi. Em política internacional, geralmente, Portugal não tem opiniões, não toma iniciativas. Espera e segue os ditames do Império

Entretanto os mortos e as destruições continuam

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http://escritosoutonais.blogspot.com

terça-feira, agosto 01, 2006

CARTA DE UMA MÃE ISRAELITA

Também este texto me foi enviado de São Paulo por amigos de origem judaica.
o texto está escrito, obviamente, em português do Brasil
.
Israel: educação para o racismo
Nourit Peled-Elhanan - Militante pacifista israelense
.
Eu dedico este texto às mães das crianças assassinadas, às mães que
continuam a colocar no mundo crianças e a formar famílias, às mães que
preparam sanduíches para seus filhos vendo os "bulldozers" se aproximar
para destruir suas casas, às mães que acompanham diariamente seus filhos à
escola passando por quilômetros de destruição e de destroços sob a mira de
fuzis apontados por soldados apáticos sabendo que tais soldados que matam
os seus filhos jamais comparecerão diante de um tribunal para serem
julgados e se comparecerem não serão considerados culpados porque o
assassinato de crianças palestinas não é considerado crime no Estado de
Israel judeu e democrático.
.
Dedico este texto também à memória do escritor e poeta, o professor Izzat
Ghazzawi, com quem tive a honra de dividir o Prêmio Sakkharov de Direitos
Humanos e Liberdade de Pensamento do Parlamento Europeu. Poucos meses
antes de morrer de humilhação, ele me escreveu sobre os soldados que
invadiam sua casa à noite destruindo móveis e janelas, desrespeitando
adultos e aterrorizando as crianças com o objetivo, dizia, de "calar sua
voz". Izzat Ghazzawi me pedia para procurar o Ministério do Interior, a
fim de que parassem com aquelas ações absurdas. Mas seu coração sabia de
antemão que isso seria inútil o parou de bater pouco tempo depois.
Esta crueldade toda que não dá para ser expressa em palavras, esta forma
organizada e refletida de maltratar as pessoas, que hoje os melhores
cérebros judeus estão empenhados em planejar e aperfeiçoar não nasceu do
nada. É fruto de uma educação fundamental racista, intensiva e geral.
.
As crianças de Israel estão sendo educadas num discurso racista sem
concessões, um discurso racista que não se limita apenas aos
"check-points", mas envolve todas as relações humanas neste país. As
crianças de Israel estão sendo educadas para o mal que terão de praticar
ao término de seus estudos como alguma coisa imposta pela realidade em que
vivem. As crianças de Israel estão sendo educadas de maneira a considerar
as resoluções internacionais, as leis, as regras humanas, até as divinas
como palavras vãs que não se aplicam ao seu país.
.
As crianças de Israel não sabem o que é a ocupação de um país. Elas ouvem
falar de "povoamento". Sobre os mapas dos manuais de geografia, os
territórios ocupados são apresentados como parte integrante de Israel e
indicados como "terras abandonadas", antigamente citados como "zonas
desabitadas". Não há livro de geografia em Israel que mostre um mapa das
fronteiras do Estado. Assim, as crianças aprendem que tudo aquilo que vêem
no mapa pertence ao seu país, à entidade mítica chamada "Terra de Israel".
.
As crianças de Israel aprendem que em seu país há judeus e não judeus, que
há um sector judeu e um sector não judeu, que há uma agricultura de judeus e
uma agricultura de não judeus, que existem cidades de judeus e cidades de
não judeus. Mas quem são os não judeus? Como vivem? Isso não é importante.
E os que não são judeus são todos considerados como "árabes".
Por exemplo, no livro "Israel - o Homem e o Espaço" (Editora do Centro de
Tecnologia da Educação, 2002) pode-se ler no capítulo sobre a população
árabe o seguinte: "Dentro deste grupo da população há crentes de
diferentes religiões e grupos étnicos diferentes: muçulmanos, cristãos,
drusos, beduínos... Mas como a maioria deles são árabes, ao longo desta
obra chamaremos este grupo de árabes ou de população árabe..."
.
No mesmo livro escolar, os palestinos são chamados de "trabalhadores
estrangeiros" e suas condições de vida são apontadas como "típicas de
países subdesenvolvidos". Os palestinos, tanto os que vivem no Estado de
Israel como os que vivem nos territórios ocupados não têm rosto, não são
considerados como cidadãos, como pessoas modernas, como pessoas com algum
trabalho produtivo, intelectual, ou exercendo alguma atividade positiva.
.
Nos livros escolares eles são representados através de imagens
estereotipadas e considerados depreciativamente "os árabes de Israel".
Eles são sempre representados através de caricaturas racistas.
Por exemplo, no livro "Geografia da Terra de Israel" (2002) aparecem
caricaturados como um árabe das "Mil e Uma Noites" portando bigodes,
"keffieh", sapatos pontudos de palhaço e puxando um camelo. No livro "As
Pessoas e o Espaço" (1998) são mostrados como camponeses atrasados
anteriores ao advento da tecnologia, sempre puxando um arado primitivo com
a ajuda de bois.
.
Nos livros escolares "O Século XX", "Tempos Modernos II",
"Viagem pelo Passado" (2001), os palestinos que habitam os territórios
ocupados são mostrados ou como terroristas encapuçados, ou como bandos de
refugiados andando de pés descalços e com as valises na cabeça de um lado
para outro. Os qualificativos que acompanham tais estereótipos vão de
"problema que exige uma solução" e "um peso para o desenvolvimento" até a
"ameaças à segurança" e "pesadelo demográfico".
.
Embora as áreas palestinas não apareçam nos mapas dos livros escolares de
geografia, a Autoridade Nacional Palestina é apresentada sempre como um
inimigo. Por exemplo, no livro "Geografia da Terra de Israel" (2002) há um
capítulo intitulado "A Autoridade Nacional Palestina rouba a água de
Israel em Ramallah". Nem mesmo os livros considerados politicamente
corretos sobre "a verdade histórica" e a "paz" escapam das explicações
racistas, talvez porque seus autores, considerados progressistas, sequer
percebam o discurso racista que veiculam.
.
Por exemplo, o livro "O Século XX", de Elie Barnavi, no capítulo "Os
palestinos, de refugiados a uma nação" examina "o desenvolvimento do
problema palestino", "as atitudes da população israelense em relação a
este problema" e "a natureza da solução para este problema". Se me
dissessem que este capítulo foi escrito há pelo menos 60 anos e que em
lugar de "problema palestino" tratava-se de "problema judeu", eu não
ficaria surpresa. Como se criou o "problema palestino"?
No livro "Tempos Modernos" de Elie Barnavi e Eyal Nayed se explica a
questão do "problema palestino" (pág. 238) da seguinte forma: "é na
pobreza, na deterioração e frustração em que se encontravam os refugiados
em seus miseráveis campos que amadureceu o problema palestino" para
concluir logo em seguida que "o problema palestino envenena há mais de uma
geração as relações de Israel com o mundo árabe e com a comunidade
internacional". Na visão destes autores, a identidade dos palestinos se
forjou no "sonho de retornar à Terra de Israel" e não à Palestina.
E como foi criado o nacionalismo palestino? Ainda segundo este livro, "ao
longo dos anos, a alienação, o ódio, a propaganda, a esperança do retorno
e da vingança fizeram dos refugiados palestinos uma nação...". E explica
logo em seguida que a presença de palestinos entre nós é suscetível de
"transformar o sonho sionista em um pesadelo do tipo do da África do Sul"
(pág. 239). Estes argumentos foram escritos após a vitória de Nelson
Mandela, mas o livro identifica os judeus do Estado de Israel com os
brancos da África do Sul para quem a população negra do país era um
pesadelo.
.
O assassinato de palestinos pelos israelenses é visto como positivo nesta
obra pedagógica. Na página 228 do "Tempos Modernos" está escrito: "O
massacre de Deir Yassin não inaugurou a fuga massiva de árabes do país,
pois ela começara antes, mas o anúncio do massacre acelerou este
processo". "Inaugurou"? Esta é uma palavra festiva, não? E prossegue logo
em seguida: "A fuga dos árabes solucionou, ao menos parcialmente, um
terrível problema demográfico e mesmo as vozes moderadas como a de Haim Weizman consideraram isto como milagre".
.
Enfim, é assim que as crianças de Israel aprendem que em seu país não há
população árabe - o sonho sionista. Elas aprendem também que matar
palestinos, destruir suas terras, assassinar suas crianças não é crime. O
mundo esclarecido lhes mostra a cada instante que é preciso temer o ventre
dos muçulmanos. E todos os partidos no poder em Israel que desejam ganhar
eleições e fazer demonstração de seu engajamento ao sionismo, ou à
democracia, ou ao progresso fazem, às vésperas do pleito,
operações-surpresa, ostentatórias, de morte de palestinos.
.
E isso tudo apesar de que as escolas do Estado de Israel estão lotadas de
slogans do tipo "ame o outro e aceite aquele que é diferente". Pelo visto
o "outro", o "diferente" não se refere às pessoas que nos rodeiam em
Israel. Nossas crianças conhecem muito mais sobre a Europa - pátria da
fantasia e ideal dos dirigentes do país - do que sobre o Oriente Médio
onde elas vivem e que é o lar de origem de mais da metade da população
israelense.
.
As crianças judias no Estado de Israel conhecem os valores humanos, mas
não vêem ao seu redor a sua concretização. Ao contrário, por toda parte
elas assistem à violação destes valores. Uma estudante entrevistada pelo
jornal Haaretz ( 13.03.2006) mostra bem essa confusão. Ela se define como
"uma habitante de Tel Aviv, privilegiada, pertencendo à classe média" e se
mostra espantada de que "soldados do meu povo, que me protegem e velam
pela minha segurança, tenham maltratado sem hesitar um pai palestino e seu
filho". Sua expressão "soldados do meu povo que me protegem..." mostra
mais que qualquer coisa como está impregnada pela ideologia racista. Quem
são as pessoas que ela chama "meu povo"? A palavra "povo" como a palavra
"nós" são palavras comumente usadas como se não houvesse outra escolha,
como se fosse uma obra da natureza.
.
A morte me obrigou e à minha família a examinar com atenção tais palavras.
Quando há alguns anos um jornalista me perguntou como eu podia estar
recebendo palavras de consolo do "outro lado", eu lhe respondi que eu não
estava disposta a receber consolo do "outro lado" e a prova disso é que
quando Ehoud Olmert, então prefeito de Jerusalém, viera me dar as
condolências eu havia saído da sala e me recusara a lhe estender a mão ou
a lhe falar porque, para mim, o "outro lado" era ele e seus semelhantes.
Para mim, a palavra "nós" não se define em termos nacionalistas ou
racistas. O meu "nós" se refere a todos os que estão dispostos a lutar
para preservar a vida e salvar as crianças da morte, a todos os pais e
mães que não encontram consolo ao assistir à morte dos filhos dos
"outros".
.
É verdade que onde estamos este campo leva vantagem, pois tanto palestinos
como judeus tentam de todo jeito e com uma força que não me é familiar,
mas que não posso deixar de admirar, levar adiante suas vidas em condições
infernais que o regime de ocupação e a democracia do Estado de Israel lhes
impõem. Mesmo para nós, vítimas judias da ocupação, que procuramos nos
libertar da cultura de força e destruição que acompanha a guerra de
civilizações que se trava por aqui, há espaço.
.
Meu filho Elik é membro de um movimento novo que se formou sob o nome de
"Combatentes pela Paz". Dele fazem parte israelenses e palestinos que
foram soldados combatendo dos dois lados e que decidiram criar um
movimento de resistência à ocupação não violento. Minha família também
participa do Fórum das Famílias Enlutadas Israelenses e Palestinas que
postula a paz. E meu outro filho Guy faz teatro com amigos israelenses e
palestinos que se vêem como pessoas vivendo no mesmo território e buscando
se libertar de uma existência traçada pelo crime e pelo racismo que não é
a que eles almejam. E o meu caçula Yigal, todos os anos organiza um campo
de verão pela paz onde crianças judias e palestinas brincam juntas e criam
laços sólidos de amizade que se estende ao longo do ano. São estes jovens,
estas crianças, o "nós" para eles.
.
E isto porque a minha família faz parte de uma população que mora e vive
neste lugar e porque acreditamos que esta terra pertence aos seus
habitantes e não aos que vivem na Europa ou nos Estados Unidos.
Acreditamos que é impossível viver em paz sem conviver nos lugares com
todos os seus habitantes. Acreditamos que a fraternidade real só se
estabelece sobre a base de uma vida comum num lugar determinado e sobre
desafios enfrentados juntos e não sob critérios nacionalistas e racistas.
Não é um homem de paz aquele que não abre as fronteiras da raça e da
religião e que não se integra em meio às pessoas do país em que nasceu.
Infelizmente há muitos entre nós que se dizem homens de paz, mas que nada
fazem ao ver seus compatriotas serem lançados em guetos, emparedados por
muros com o único objetivo de que morram de fome, não protestem mais e
enviem seus filhos a servir no exército de ocupação ou bancar as
sentinelas nos portões do gueto.
.
Eu não sou uma mulher da política, mas para mim está claro que os
políticos atuais são os estudantes de ontem e que os políticos de amanhã
serão os estudantes de hoje. Por isso, me parece que os que querem fazer
da paz e da igualdade a sua consigna de vida devem se interessar pela
educação, criticar, protestar contra a propagação do racismo nas escolas,
no discurso pedagógico, no discurso social; devem propor leis ou reativar
leis que combatam o racismo no ensino, criar profissionais de ensino
dispostos a ensinar o conhecimento real do "outro", impedindo qualquer
possibilidade de espalhar a sanha pela eliminação do "outro". Este tipo de
orientação deveria mostrar sempre as imagens das crianças estendidas no
solo com seus uniformes de escola crivadas de balas atiradas a esmo e
colocar sempre a questão levantada por Anna Akhmatova que perdeu seu filho
nas mãos de um regime assassino:
"POR QUE ESTE SULCO DE SANGUE ESCORRE DE TUA FACE?"
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Escuso-me a fazer qualquer comentário. O texto fala por si.
Uma coisa é o povo judeu, outra o governo sionista/capitalista/colonialista de de Israel

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Fonte:
http://bellaciao.org/fr/
http://www.mahsanmilim.com/NuritPeledElhanan.htm
http://www.france-palestine.org/article3707.html
27 de Julho 2006
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