ENQUANTO E NAO

quarta-feira, agosto 23, 2006

TRAULITEIRICES

O trauliteiro-mor

Vasco Graça Moura já nos habituou ao se estilo caceteiro e vesgo tão pouco conforme às suas qualidades de poeta e intelectual de fina estirpe, que muito admiro quando nessas águas restritas se move. Contudo, na sua crónica de hoje no DN, intitulada “Cessar o quê?”, VGM consegue ultrapassar a sua própria fasquia de caceteirismo ultramontano. Não é uma crónica é um vómito. Nada escapa à seu mau feitio de sarrafeiro encartado:
”A ONU não presta para nada” ...(...) “É a instância mais empatativa e mais desprestigiada de toda a História internacional”
“O Hezbollah é uma canalha assassina que não pode ser tomada a sério nem é fiável como interlocutor.”

“Até se sentir em segurança, Israel dirá "sim, mas" ao cessar-fogo e fará o que entende que deve fazer. Felizmente para os judeus e para o mundo civilizado”

“Franceses, italianos e espanhóis, cuja participação nela (força militar da ONU) se anuncia, acabarão a contribuir submissamente para o falhanço da missão: é o que pode esperar-se da mediocridade congénita e irremissível dos srs. Chirac e Villepin, da periclitante salada de esquerda do sr. Prodi e do progressismo alvar do sr. Zapatero.

Os israelitas não terão outro remédio senão neutralizar o potencial nuclear do Irão. Mas a União Europeia continua a contentar-se com as patéticas deslocações do sr. Solana por esse mundo fora e a achar que tantas andanças tão exemplarmente sem sentido correspondem ao papel mais eficaz que a História lhe reservou.

Aí, valente! Nada se salva na opinião do ilustre cronista, excepto o Governo sionista de Israel, para o qual nem uma palavra de reprovação. Pelo contrário VGM acha que Israel deve dizer sim ao cessar-fogo, apenas para ganhar tempo para a desforra e fazer o que muito bem entender, Será que ainda o vamos ver de bazuca ao ombro ao lado dos seus amigos israelitas de que tanto gosta? Ele não morre de amores pela ONU. Os Estados Unidos também não. Comunhão mais perfeita de ideais não pode haver, O melhor seria então acabar com ela e entregar os destinos do mundo ao livre arbítrio do Império e seus aliados. Aí, sim, o Sr. VGM acalmaria os seus acessos biliosos.
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Duas Notícias
(no DN de hoje)

1ª: Teerão propõe “nova fórmula” para resolver crise sobre programa nuclear

2ª: Washington está pronta a entregar rapidamente uma proposta de resolução no Conselho de Segurança com vista a impor sanções ao Irão
.

Pois, pois, o melhor é apressarem se não vá o diabo tece-la e as propostas do Irão sejam susceptíveis de merecer a aceitação da ONU. O costume aliás: Invadir o Iraque, antes que ficasse provado sem margem para dúvida de este não possuiu quaisquer armas nucleares, Israel a endurecer as suas posições contra o Governo da Pelestina sempre que este está disposto a negociar... enfim, a gente sabe...

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O PCP, o BE e a contribuição de Portugal para o contingente da ONU a enviar para o sul do Líbano.

Confesso que não percebo a oposição destes dois partidos à participação de militares portugueses neste contingente, uma vez que o Próprio Governo do Líbano e o Hezbollah aceitaram recebe-lo. Tirando a impossibilidade financeira para o país em assegurar tal participação não vejo ( a menos que alguém me explique muito bem) qualquer problema de ordem política.

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Günter Grass


De repente toda a gente faz questão em desancar este grande escritor e homem de esquerda que tem sido ao longo de várias década uma das consciências da sociedade em que vivemos. Aqui d’el rei que pertenceu às SS, que nunca confessou, que lhe devia ser retirado o prémio Nobel, enfim um chorrilho de disparates, só explicáveis por inveja, mediocridade e ódio às ideias que professa. Que espanto pode causar que um adolescente se tenha deixado entusiasmar por participar numa aventura de “brincar aos soldados” , que lhe permitia escapar da alçada da família e viver a sua vida à sua maneira. Só que ele arrependeu-se quando tomou consciência e isso o atormentou a vida inteira. E tanto quem como homem de vergonha que é, tinha vergonha de o confessar.
Outros há que aplaudem genocídios e disso se ufanam


A este propósito, e no sentido de calar a boca aos invejosos que gostariam de ver este grande escritor despojado do Prémio Nobel que muito justamente lhe foi atribuído, permito-me citar uma passagem do artigo do DN de ontem,
“Os juízes de Günter Grass” da autoria de Diogo Pires Aurélio, pessoa insuspeita de ser seu admirador no aspecto político:

(...) Pelo meio, há ainda o ressentimento e o mero cretinismo, que não lhe perdoam o sucesso e que reduzem o episódio a uma operação de promoção. Gente que dá erros de ortografia, mas que não se coíbe de cacarejar sentenças sobre o estilo de Grass.

As opiniões políticas do romancista interessam-me pouco. Julgo que teve algum papel na Alemanha dos anos 60 e 70, ao lado de Willy Brandt, mas que, a partir da chamada crise dos mísseis, se colocou sistematicamente do lado errado. A sua adolescência nazi é, obviamente, um pesadelo de que talvez já não consiga libertar-se e uma culpa que só agora foi capaz de confessar. Não sei se terá perdão, sobretudo por parte dos que foram vítimas das SS. Mas sei duas coisas simples. Sei que as ideias que ele sustentou não ficaram piores nem melhores por se saber a dimensão do recalcamento que tinham por lastro. E sei, sobretudo, que não trocaria uma página d' O Tambor pelas obras completas de nenhum dos seus críticos.

Como diz o ditado, os cães ladram e a caravana passa, e a prova-lo está o facto de o seu último livro, “Descascando a Cebola”, onde faz a sua corajosa confissão, com uma edição de 150 mil exemplares esgotou completamente no dia da sua aparição.

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Veja também a nova estória,
OS TARALHÕES,
No meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com