ENQUANTO E NAO

sexta-feira, agosto 11, 2006

UM COMENTÁRIO e UMA TRANSCRIÇÃO

A ameaça terrorista em Londres

Perante a suposta ou real ameaça terrorista a ser perpetrada em diversos aviões, as autoridades ingleses tomaram ontem severas medidas de vigilância e precaução nos aeroportos de Londres. A existirem essas ameaças, tais medidas impunham-se, e agiram correctamente as autoridades ao toma-las. O terrorismo existe e os governos dos diferentes países a ele sujeitos têm o dever de proteger com medidas adequadas os seus cidadãos e é isso que fazem. Tudo bem.

E o principal? Combater as causas do aparecimento do terrorismo e as situações favoráveis ao estado de espírito que o propicia? O que fazem os Governos, especialmente os mais poderosos, os que mais poderiam fazer nesse sentido? Fazem alguma coisa? Muito pelo contrário. Os Estados Unidos, por exemplo – a única superpotência actualmente existente, com, a sua política belicista e exploração descarada de outros povos, não só cria as condições ideais para proliferação de actos terroristas, como recorre mesmo ao serviço de terroristas quando tal convém à sua politica expansionista, como fez em tempos com o Bin Laden e em outras dituações.

A pretexto de combater o terrorismo, o sr. Bush, com o apoio activo do sr. Blair e o encorajamento folclórico de uns quantos "yesmen", invadiu o Afeganistão e depois o Iraque. E depois? Acaso o terrorismo diminuiu? Pelo contrário, ele aí está, cada vez mais activo, cada vez com mais gente desesperada disposta a sacrificar tudo, mesmo a própria vida , para se libertar da “generosa ajuda” dos Estados Unidos e seus parceiros.

Este ataque sem regras nem medidas do governo belicista de Israel, ao Líbano, sempre com a bênção dos EU, seja qual for o resultado no campo de batalha, vai contribuir para a diminuição do terrorismo? Só um cego (nem um cego) não vê que, pelo contrário, ele vai sair dali muito mais reforçado e activo.

Quereis combater o terrorismo, senhores governantes? Ajudai, se ainda fordes a tempo, os países mais pobres, a desenvolverem-se, a terem acesso à educação e à saúde, a erradicar doenças endémicas – desinteressadamente, sem pressões políticas, sem lhes pilharem os seus recursos naturais ... e aí sim, se ainda fordes a tempo, estareis a contribuir para o declínio do terrorismo.
Sou um lírico? Pois sou. E vós sois estúpidos se não virdes o que tão claro está diante dos vossos olhos.

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A escapadela

Ana Sá Lopes
DN de 11-8-2006

Portugal acabou de dar o seu contributo para a guerra no Líbano, na versão "escapadela": autorizou a passagem de um avião com"material bélico não ofensivo", numa versão, ou "material dito não contencioso em pouca quantidade", em outra.

Foi coberto de remorsos que o secretário de Estado dos Assuntos Europeus garantiu que nunca mais acontece, que foi só uma vez e que Israel já foi informado de que nunca mais aterra na Terceira. Para além de invocar o carácter excepcional do feito, o Governo tratou de apresentar uma outra atenuante: era "pouca quantidade", como disse o secretário de Estado ao DN.

O episódio do avião é uma caricatura da tentativa de "não-posição" que o Governo tem assumido neste conflito. Se o Governo considera que Israel está em pleno exercício legítimo de um direito de defesa, deve autorizar o uso das Lajes, sempre que for necessário, para todo o material necessário a Israel, quer seja "bélico não ofensivo" (???), quer outro.

Se duvida que a presente destruição do Líbano seja exactamente o bom caminho para o reforço da defesa do Estado de Israel, não podia ter aceite a escala do tal "material bélico não ofensivo", uma frase do mais fino recorte político.

Na tentativa de encontrar a terrível bissectriz para posicionar-se face ao conflito Israel-Hezbolah-Líbano, a partir de uma putativa 'neutralidade', o Governo conseguiu que toda a gente, a começar pelo PSD veja o óbvio: quem autoriza legitimando um objectivo, autoriza sempre.

A versão "escapadela" da política internacional tem sólidos antecedentes em Portugal, do comportamento de Salazar na II Guerra à decisão de participar na invasão do Iraque com as forças da GNR. Se o Governo Sócrates, nesta matéria, se limita a cumprir a histórica "estratégia" nacional, é difícil perceber porque tomou uma decisão destas à revelia do Presidente da República que, para o bem ou para o mal, é o comandante supremo das Forças Armadas.

Ora, em qualquer contexto de guerra, a maior das Forças de que Portugal dispõe é a base militar da ilha Terceira, no meio do Atlântico, emprestada nesta "excepção" a Israel. Numa conjuntura destas, não ouvir o Presidente da República é uma "escapadela" institucional que, em devido tempo, Cavaco Silva (que tem estado silencioso sobre o conflito do Médio Oriente) não se esquecerá de "somar ao efectivo".
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