ENQUANTO E NAO

segunda-feira, agosto 07, 2006

O ESTADO DE ISRAEL. algo sobre a sua história

Agora, em tempo de férias, limitar-me-ei , em princípio, a transcrever neste blogue artigos e opiniões de terceiros.
Em contrapartida, agora que está de férias, pode sempre ler alguma das minhas crónicas em:
Leia hoje "Amélia Melenas, minha mãe"
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Cães de guerra, ou a importância de se chamar Israel
António Vilarigues
in PÚBLICO de 7-8-06

O estado de Israel tem sido advogado de acusação, de defesa, juiz e carrasco de extremistas e de activistas palestinos. E nunca falha! Israel diz que é terrorista e está dito!

O estado de Israel adquiriu um estatuto único a nível do direito internacional. Desde o seu nascimento. Desrespeita todas as normas e resoluções que os seus sucessivos governos entendem. Aplica arbitrariamente a lei do mais forte. Em completa impunidade. Com total e incondicional apoio das sucessivas administrações dos EUA. Perante a conivência e a complacência da chamada "comunidade internacional", nomeadamente da UE.A origem - Em 1947 a ONU aprova, com base na resolução 181, um plano de partilha da Palestina em dois Estados: um judaico e um árabe. Jerusalém, cidade Santa para três religiões, ficaria com estatuto de cidade internacional.
Em 1948 grupos de judeus armados destroem pelo menos 250 aldeias árabes, provocando, até 1950, o exílio forçado de 900 mil palestinos. Dois futuros primeiros-ministros de Israel (Menahem Begin e Itzhak Shamir) participam nestes actos.No seguimento destes acontecimentos a ONU aprova, em 1949, a resolução 194 que decide permitir aos refugiados que o desejem o regresso às suas casas com direito a compensações pela destruição dos seus bens. Só que em 1948, David Ben Gurion, então primeiro-ministro, declarou: "Devemos impedir o seu regresso a qualquer preço". Hoje são mais de 3 milhões e um dos complexos problemas a resolver no âmbito dos acordos de paz.A que outro país seria permitida tal actuação?Terrorismo de Estado - Na sequência da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupa o resto da Palestina (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém-Leste). Ao arrepio da resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, nesse mesmo verão a colonização dos territórios ocupados começa com a construção de novos colonatos.
Hoje existem mais de 200 mil colonos nestes territórios. Criando uma situação de facto consumado.A política oficial do Estado de Israel tem sido defender a concepção de que se pode expulsar, pelo uso combinado da violência física e da pressão económica, alguém duma terra onde nasceu e que é sua, para em seu lugar colocar alguém que nasceu algures e nunca conheceu o país. Tem sido transplantar para diferentes locais populações inteiras, provocando, consequentemente, a morte de milhares dos seus filhos. Tem sido privar o povo palestino do direito ao acesso à educação e à cultura.Tem sido a de enclausurar populações inteiras em campos de refugiados, forçando-as a viver no seio da miséria e da doença, abaixo de qualquer limite de pobreza. Tem sido responder à revolta generalizada, com a repressão em massa, considerando toda a população como potencial terrorista. Tem sido executar prisioneiros palestinos (neste momento são mais de 9000, incluindo ministros e deputados), a sangue frio. Tem sido a de construir um "muro da vergonha" que inviabiliza qualquer estado Palestino.Segundo o direito internacional tais situações configuram claramente uma política de Terrorismo de Estado. O que fez a "comunidade internacional"?Retaliações - Em 1970, na sequência do chamado "Setembro negro", uma parte da direcção da OLP envereda pelo terrorismo individual, opção que só terminará em 1974. Inicia-se a política de "olho por olho, dente por dente".
A cada atentado Israel responde com a liquidação física de dirigentes da resistência palestina.Mais de 34 anos depois esta política mantém-se, sem grandes resultados práticos à vista. O estado de Israel tem sido advogado de acusação, de defesa, juiz e carrasco de extremistas e de activistas palestinos. E nunca falha! Israel diz que é terrorista e está dito! Os dirigentes israelitas têm tirado pleno partido dos erros da OLP, da Autoridade Palestina (AP) e dos sectores mais extremistas da resistência. Chamem-se "Setembro Negro", Abou Nidal, Hamas ou Hezbollah. Neste momento as ameaças subiram de tom. E trazem à memória conhecidas práticas. Ouvimos porta-vozes do governo e ministros falar em destruir 10 casas por cada rocket. Ou toda a infra-estrutura civil de Beirute se algum míssil atingir Telavive. Com a mesma arrogância, com a mesma brutalidade, com a mesma frieza dos seus antepassados nazis.
Tive a possibilidade de visitar a aldeia mártir de Lidice, na então Checoslováquia. E outras dezenas de situações semelhantes na Lituânia, em França, na Bielo-Rússia, na Ucrânia, na Rússia. Frutos da política hitleriana de 10 mortos por cada morto alemão. A similitude arrepia.O Estado - O Estado de Israel é um estado teocrático, fundamentalista, onde a lei religiosa é imposta a todos os cidadãos. Não há separação da Igreja e do Estado. É um estado nascido do sionismo. Israel é uma potência nuclear assumida. Que já teve um criminoso de guerra, considerado como tal no seu próprio país, como primeiro-ministro: Ariel Sharon. É um país que bombardeia, invade e ocupa os seus vizinhos a qualquer pretexto (Iraque, Tunísia, Síria, Líbano). Que assassina ou fere observadores da ONU (esta não foi a 1ªvez que tal sucedeu).E fá-lo com a compreensão, a complacência, o aplauso, o incentivo, a conivência, o apoio, dos EUA, da UE, da NATO.O presente - Em Setembro de 1993, no âmbito dos acordos de Oslo, Israel e OLP reconhecem-se mutuamente. É pois falso o argumento de que a questão central neste momento é o não reconhecimento do Estado de Israel.A questão central no Médio Oriente é o não reconhecimento, na prática, por Israel do direito à existência de um estado Palestino. Coerentemente a actuação dos seus governantes tem sempre contribuído para este objectivo estratégico. Basta recordar as sucessivas destruições de todas as infra-estruturas administrativas e policiais da AP. Depois acusada, por exemplo, de não perseguir os terroristas...A pretexto do rapto de militares seus, situação já verificada anteriormente e sempre resolvida, Israel desencadeou uma guerra em duas frentes. Com a invasão, pela enésima vez, de um país soberano, o Líbano. Refira-se que a superfície do Líbano (10.450 km2) é inferior à do distrito de Beja (13.738 km2). Sublinhe-se que uma operação desta envergadura não se prepara em 24 horas. Tudo se passou como se Israel estivesse apenas à espera do pretexto.O resultado é conhecido e traduz-se em centenas de mortos, milhares de feridos, perto de 1,5 milhões de deslocados dos três lados (Gaza, Líbano, Israel). Com a destruição sistemática de sectores vitais e infra-estruturas civis. Com o bombardeamento de pontes, estradas, portos, aeroportos e instalações governamentais.Esta contabilidade macabra contribuirá sem dúvida, como até aqui, para estimular o ódio e alimentar a intolerância mútua.É a política em que, como referiu Manuel Carvalho "a arbitrariedade da força militar se tornou o argumento exclusivo para a resolução de crises complexas". É a política em que o Pentágono reabastece o stock de mísseis das forças de Telavive. Enquanto proclama diplomaticamente a "urgência" no termo dos combates.
É a política de dois pesos e duas medidas.Os crimes de guerra e o rasto de sangue deixado por Israel na Palestina e no Líbano responsabilizam a política fascista do governo israelita. Mas também os países e potências imperialistas que estimulam a sua acção e têm nela um instrumento de concretização dos seus objectivos estratégicos no Médio Oriente.

*Gestor de Sistemas Informáticos