ENQUANTO E NAO

sábado, março 11, 2006

Ai O CAPITALISMO!!!

A Actual crise económica é a mais longa dos últimos 25 anos
Título de 1ª Página do Publico de hoje (11—3-2006)

A Crise é por cá e é por todo o mundo. É verdade. E a gente pergunta-se: que raio de organização é esta da sociedade capitalista? Agora, que está sozinha e triunfante, agora que o papão da União Soviética acabou, não era altura de o capitalismo mostrar as vantagens apregoadas do sistema? Mas o que nós vemos é precisamente o contrário.

A crise, a crise, a crise! Enchem-nos os ouvidos com este palavrão para que nos mantenhamos acomodados, apertando o cinto e aguardando pacientemente que a crise passe, ajudando mesmo, estoicamente, a contribuir para o fim da crise.
Pois é, mas crise é só para os que trabalham. Para o grande capital e para uns escassos milhares de privilegiados a crise não existe. Mais: quando a crise passar, nós estaremos mais pobres e eles estarão mais ricos. Incomensuravelmente mais ricos. Eles adoram crises, acreditem.

Os bancos portugueses (e lá fora é a mesma coisa) têm cada vez maiores lucros. Os nossos cinco maiores somaram em 2005 lucros líquidos que ascendem a 1,4% do PIB nacional. O Santander/Tota teve no último ano um crescimento de resultados de 243%, a CGD teve no mesmo período um crescimento de 133%. O BES 85% e o BPI 57%. E que dizer das grandes empresas, como a EDP, a PT, a SONAE e várias outras. A fortuna de Belmiro de Azevedo, por exemplo, aumentou 417 milhões de euros só num ano. A corticeira Amorim teve em 2005 lucros superiores a 15 milhões de euros. E os vencimentos e benefícios milionários, de administradores, gestores, directores e de toda essa privilegiada casta de gente que julga ter estômago e necessidades superiores às dos comuns mortais?
E os carrões de luxo, e os iates, e as piscinas e as férias principescas nas estâncias turísticas mais luxuosas.? Não nos lixem com a crise! Não nos peçam para apertar o cinto quando os poderosos nem um furinho se permitem apertar.

E a apregoada falência do Estado social que os experts do capitalismo constantemente nos atiram à cara? Sabem quando é que essa teoria começou a ser apregoada? A seguir à queda da União Soviética. Os Estados Europeus e sobretudo os Estados Unidos só começaram a preocupar-se em criar condições aceitáveis para os trabalhadores, pressionados pelo exemplo do que acontecia na URSS. Podia até acontecer que a propaganda do que acontecia naquele regime em matéria social não fosse exactamente como a apregoada, mas mesmo assim os regimes capitalistas tinham medo da influência que ela tinha nas classes trabalhadoras. Não foi por acaso que os direitos sociais dos trabalhadores das nações ocidentais ( nos Estados Unidos nem sequer existiam até essa altura) fossem incrementados logo após o início da chamada Guerra fria. É que, como diz o ditado, "quem tem cu tem medo". Agora, que o regime capitalista ficou sozinho em campo, é que aparecem os seus especialistas de encomenda a falar da falência da segurança social e, mais do que falar, a arremeter ferozmente contra ela. Ai que falta que nos faz a União Soviética! Nem que fosse apenas pelo respeitinho que infundia a estes gajos que nos exploram.

Mas atenção que o slogan “Trabalhadores de todo o mundo uni-vos” pode vir a encontrar eco nas massas trabalhadoras adormecidas. Veja-se o que está acontecendo em França.

governo de Villepin contestado na rua
Descontentamento dos jovens alastra em França

Ana Navarro Pedro, Paris

Um novo tipo de contrato talhado para os jovens parece capaz de desencadear um novo Maio de 68.
O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, desencadeou uma intensa vaga de descontentamento social com a sua principal reforma de combate ao desemprego dos jovens, o Contrato Primeiro Emprego (CPE). Manifestações de protesto reuniram 400 mil pessoas nas ruas de 10 cidades francesas, na terça-feira, e 40 das 84 universidades públicas estavam ontem em greve. Dentro da maioria parlamentar conservadora, um deputado apelou ontem à suspensão do CPE, criando um clima político instável para o primeiro-ministro e reforçando, ao mesmo tempo, as manifestações. Villepin, cujas ambições presidenciais para o escrutínio de 2007 assentam numa estratégia de combate ao desemprego, perdeu 11 pontos nos índices de popularidade, passando para apenas 34 por cento de opiniões favoráveis. O chefe do Governo radicalizou os protestos, ao optar por impor o CPE sem consultar os parceiros sociais nem os sindicatos de estudantes. O CPE autoriza as empresas a despedirem um jovem com menos de 26 anos a qualquer momento dos dois primeiros anos de emprego, sem justificação nem indemnização.
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Numa sociedade traumatizada pela taxa de 24 por cento de desemprego dos jovens, e angustiada com a permanência de uma taxa de 10 por cento de desemprego no resto da população em idade de trabalhar, o CPE divide claramente as opiniões. Uma sondagem recente do instituto IFOP indica que 62 por cento da população rejeita o novo contrato, mas a proporção de opiniões desfavoráveis aumenta para 77 por cento na classe etária dos 18-25 anos. "Escravo" durante dois anos"Durante dois anos vou ser um escravo sem direito a nada, só com o medo de ser posto na rua", argumentava Cédric, na manifestação de terça-feira, em Paris. Aos 23 anos, e apesar de uma licenciatura em Economia, Cédric não arranjou ainda um emprego estável. A namorada, Nathalie, acrescentava: "Se uma mulher fica grávida durante os dois primeiros anos do CPE, vai de certeza para a rua. É voltar para o século XIX". Os conselheiros do primeiro-ministro afirmaram que, em caso de maternidade, aplica-se a lei laboral que preserva os direitos da empregada, mas os juristas afirmam que nada, na nova lei, impõe as condições gerais do Código do Trabalho.
Outros jovens receiam que as empresas recorram sistematicamente aos CPE, despedindo-os antes de completarem os dois anos e substituindo-os por novos empregados com um CPE."Durante esses dois anos, o patrão, e toda a empresa quando se trata de uma PME, vai formar o jovem com um CPE. Este investimento não é feito à toa, ninguém tem energia para formar um trabalhador e depois recomeçar tudo só para guardar a possibilidade de o despedir facilmente", contra-argumentava ontem, num programa da rádio RTL, um empresário que dirige uma fábrica de tijolos com 42 empregados. A meio da semana, a Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), meteu a colherada, tornando públicas as suas reticências em relação ao CPE, ao recordar que "não é desejável" que o período de experiência de um empregado ultrapasse seis meses. O futuro desta vaga depende agora dos estudantes. Diversos sociólogos vêem nas greves as premissas de uma explosão estudantil idêntica à revolta de Maio de 68. Mas Dominique de Villepin estudou as relações de força saídas da jornada de acção na terça-feira, e optou por não ceder no capítulo do CPE, que foi aprovado ontem, definitivamente, pelo Parlamento.
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Como contrapartida, o chefe do Governo decidiu mostrar que não é surdo aos protestos, e anunciou novas medidas a favor do estatuto de estudante: enquadramento adequado dos estágios - de que as empresas francesas abusam, em substituição de contratos - ajudas ao alojamento, bolsas de estudo. A escolha das medidas tem um segundo intuito: convencer os estudantes que não estão de acordo com o bloqueio das universidades em greve a mobilizarem-se para exigir a continuação das aulas, como já o fazem alguns publicamente.
In PÚBLICO de 10-3-2006

2 Comments:

  • Como dizia a canção; "eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada..."

    By Anonymous Anónimo, at 12 março, 2006 03:45  

  • Como dizia a canção; " Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada..."

    By Anonymous Anónimo, at 12 março, 2006 03:48  

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