O PRESIDENTE JORGE SAMPAIO
Jorge Sampaio termina hoje o seu segundo mandato como Presidente da República Portuguesa. Não posso deixar de tecer a seu respeito um pequeno comentário muito pessoal e muito emotivo – coisa que liga bem com uma das sua peculiares características.
Jorge Sampaio exerceu este difícil cargo num período particularmente complicado e cheio de sobressaltos, para os quais não contribuiu, com discrição, sensibilidade, elegância e sabedoria. Foi honesto e digno em todos os actos em que teve de intervir. Preocupou-se com as assimetrias sociais de que o nosso país enferma, defendeu até ao fim as vantagens da regionalização, preocupou-se com os problemas de educação e da justiça, tudo dentro dos (poucos) poderes que a constituição, lhe conferia.
Foi enérgico na sua oposição aos desígnios do Governo de enviar tropas para o Iraque, apoiou decididamente a participação de Portugal em missões de Paz, contribuiu energicamente e de forma determinante para obrigar a Indonésia a aceitar o referendo sobre Timor, a partir do qual foi possível que aquele sacrificado povo – já condenado a uma irreversível submissão pela diplomacia portuguesa - obtivesse a almejada independência; e quando foi precisa um intervenção enérgica da ONU e dos Estados Unidos jogou todo o seu prestígio e o seu reconhecido domínio da língua inglesa para que essa intervenção tivesse lugar, como veio a acontecer, e Timor se tornasse uma nação livre, e independente, dentro da Comunidade de Paises da Língua Portuguesa.
Ramalho Eanes, usou o cargo de Presidente da Republica para formar um novo partido: Mário Soares, usou o se u segundo mandadato para fazer oposição o Governo, ajudando a criar o espírito quue Cavaco Silva apelidou de forças do Bloqueio. Já Jorge Sampaio norteou-se sempre pelo respeito à constituição e ao direito.
Lembro-me que, quando foi da sua aceitação do nome de Santana Lopes para Primeiro Ministro – aceitação que concitou a ira da maioria do povo de esquerda, eu fui das poucas pessoas, nos meios que frequento, que defendi a actuação do Presidente. Família e amigos, todos à minha volta tinha opinião contrária. Ora eu entendia que Jorge Sampaio, de formação jurídica e democrata de coração e de razão, não poderia deixar de aceitar um nome proposto por uma maioria parlamentar eleita democraticamente. Com efeito, não fora o fujão Barroso que fora eleito Primeiro Ministro, fora sim o seu partido que obtivera a maioria. E era essa maioria que, agora, lhe apresentava outro nome para o substituir. Ele poderia não aceitar e dissolver a Assembleia da Republica. Teria assim obtido os aplausos da esquerda mas, nesse caso, ele não seria o Presidente de todos os Portugueses, mas apenas Presidente da sua família política e ideológica. Aliás, quanto a mim, dado o estado calamitoso em que o PS de Ferro Rodrigues se encontrava na altura, havia fortes probabilidades de que a direita voltasse a ganhar as eleições – o que seria um desastre para a esquerda e uma vergonha para o Presidente.
Mas logo na altura eu dizia para os meus amigos. Aguardem, que Jorge Sampaio na devida altura saberá fazer o que agora lhe era moralmente vedado. E Assim veio a acontecer, quando a deterioração da unidade PSD/CDS e o chorrilho de asneiras de Santana Lopes tornaram claro para toda a gente que a maioria não existia mais, que aquele governo era um desatre e que se impunha, agora sim, a dissolução da Assembleia da República. Aí, Jorge Sampaio, e passe a ligeireza da espressão, nem pestanejou.
Concluindo, dificilmente voltaremos a te, tão cedo, um Presidente, tão culto, tão atento, tão conciliador, tão sensível, tão de acordo com a Constituição da República, como este Presidente que hoje deixa o Palácio de Belém, para ir ao cinema e ao futebol, coisas de que tanto gosta, como um cidadão comum, simples e afectuoso, como sempre foi.
PS.
Só numa coisa eu discordei dele. Não tinha necessidade nenhuma de acompanhar o Papa à Cova da Iria, quando este veio proclamar o 3º segredo de Fátima. Primeiro porque ele não é religioso e segundo porque o dito segredo é de uma tacanhez, de um primarismo tal, que muitos e muitos crentes o repudiam e dele se envergonham. O Presidente da Republica Português, podia e devia esperá-lo no aeroporto, prestar-lhe honras de Chefe de Estado, oferecer-lhe, porventura, um jantar, mas nunca, como Supremo Magistrado de um estado laico e laico ele também, o deveria ter acompanhado em cerimónias religiosas, num local de culto – muito contestado, de mais a mais. Mas aqui, a culpa não é só dele. O Estado é laico, é, mas as televisões passam um dia inteiro a mostrar imagens da viagem do caixão de uma religiosa (que nem santa nem beata é) de Coimbra para Fátima. É notícia? É. Mas é, sobretudo, subserviência.
Enfim, nobody is perfect. Ou como diria o dácono Remédios, não havia nexexidade.
Jorge Sampaio exerceu este difícil cargo num período particularmente complicado e cheio de sobressaltos, para os quais não contribuiu, com discrição, sensibilidade, elegância e sabedoria. Foi honesto e digno em todos os actos em que teve de intervir. Preocupou-se com as assimetrias sociais de que o nosso país enferma, defendeu até ao fim as vantagens da regionalização, preocupou-se com os problemas de educação e da justiça, tudo dentro dos (poucos) poderes que a constituição, lhe conferia.
Foi enérgico na sua oposição aos desígnios do Governo de enviar tropas para o Iraque, apoiou decididamente a participação de Portugal em missões de Paz, contribuiu energicamente e de forma determinante para obrigar a Indonésia a aceitar o referendo sobre Timor, a partir do qual foi possível que aquele sacrificado povo – já condenado a uma irreversível submissão pela diplomacia portuguesa - obtivesse a almejada independência; e quando foi precisa um intervenção enérgica da ONU e dos Estados Unidos jogou todo o seu prestígio e o seu reconhecido domínio da língua inglesa para que essa intervenção tivesse lugar, como veio a acontecer, e Timor se tornasse uma nação livre, e independente, dentro da Comunidade de Paises da Língua Portuguesa.
Ramalho Eanes, usou o cargo de Presidente da Republica para formar um novo partido: Mário Soares, usou o se u segundo mandadato para fazer oposição o Governo, ajudando a criar o espírito quue Cavaco Silva apelidou de forças do Bloqueio. Já Jorge Sampaio norteou-se sempre pelo respeito à constituição e ao direito.
Lembro-me que, quando foi da sua aceitação do nome de Santana Lopes para Primeiro Ministro – aceitação que concitou a ira da maioria do povo de esquerda, eu fui das poucas pessoas, nos meios que frequento, que defendi a actuação do Presidente. Família e amigos, todos à minha volta tinha opinião contrária. Ora eu entendia que Jorge Sampaio, de formação jurídica e democrata de coração e de razão, não poderia deixar de aceitar um nome proposto por uma maioria parlamentar eleita democraticamente. Com efeito, não fora o fujão Barroso que fora eleito Primeiro Ministro, fora sim o seu partido que obtivera a maioria. E era essa maioria que, agora, lhe apresentava outro nome para o substituir. Ele poderia não aceitar e dissolver a Assembleia da Republica. Teria assim obtido os aplausos da esquerda mas, nesse caso, ele não seria o Presidente de todos os Portugueses, mas apenas Presidente da sua família política e ideológica. Aliás, quanto a mim, dado o estado calamitoso em que o PS de Ferro Rodrigues se encontrava na altura, havia fortes probabilidades de que a direita voltasse a ganhar as eleições – o que seria um desastre para a esquerda e uma vergonha para o Presidente.
Mas logo na altura eu dizia para os meus amigos. Aguardem, que Jorge Sampaio na devida altura saberá fazer o que agora lhe era moralmente vedado. E Assim veio a acontecer, quando a deterioração da unidade PSD/CDS e o chorrilho de asneiras de Santana Lopes tornaram claro para toda a gente que a maioria não existia mais, que aquele governo era um desatre e que se impunha, agora sim, a dissolução da Assembleia da República. Aí, Jorge Sampaio, e passe a ligeireza da espressão, nem pestanejou.
Concluindo, dificilmente voltaremos a te, tão cedo, um Presidente, tão culto, tão atento, tão conciliador, tão sensível, tão de acordo com a Constituição da República, como este Presidente que hoje deixa o Palácio de Belém, para ir ao cinema e ao futebol, coisas de que tanto gosta, como um cidadão comum, simples e afectuoso, como sempre foi.
PS.
Só numa coisa eu discordei dele. Não tinha necessidade nenhuma de acompanhar o Papa à Cova da Iria, quando este veio proclamar o 3º segredo de Fátima. Primeiro porque ele não é religioso e segundo porque o dito segredo é de uma tacanhez, de um primarismo tal, que muitos e muitos crentes o repudiam e dele se envergonham. O Presidente da Republica Português, podia e devia esperá-lo no aeroporto, prestar-lhe honras de Chefe de Estado, oferecer-lhe, porventura, um jantar, mas nunca, como Supremo Magistrado de um estado laico e laico ele também, o deveria ter acompanhado em cerimónias religiosas, num local de culto – muito contestado, de mais a mais. Mas aqui, a culpa não é só dele. O Estado é laico, é, mas as televisões passam um dia inteiro a mostrar imagens da viagem do caixão de uma religiosa (que nem santa nem beata é) de Coimbra para Fátima. É notícia? É. Mas é, sobretudo, subserviência.
Enfim, nobody is perfect. Ou como diria o dácono Remédios, não havia nexexidade.
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