ENQUANTO E NAO

domingo, fevereiro 05, 2006

LIBERDADE/DIREITO DE INFORMAÇÂO

Uma senhora, de nome Helena Matos, de quem já tenho tido o desprazer de ver de, través, alguns outros escritos, publicou ontem no "PÚBLICO" um texto intitulado“coisas que não entendi” onde, a propósito da atitude firme do novo Presidente da Bolívia, Evo Morales, frente a uma provocação de um jornalista estrangeiro (muito cioso da sua liberdade de expressão, certamente), tecia, com a costumada sobranceria de quem não entende “népia” do que está falando, alguns comentários sobre a, segundo a sua opinião, falta de democraticidade dos movimentos revolucionários em geral e da América latina, em particular.

Lamentava a senhora que tais movimentos (que se dizem arautos e motores de governos democráticos nos respectivos países) jamais, entre as liberdades que pretendem conquistar fizessem qualquer alusão à sacrossanta “liberdade de expressão” de que nos últimos dias tanto se tem falado.

É preciso ter lata! Esta senhora, que fala de barriga cheia (com a cevada a picar-lhe a barriga na expressão pitoresca de minha saudosa mãe) acha, que o povo índio da Bolívia e quase todos os outros da América latina, semi-analfabetos, que vivem com o rendimento médio de um euro ou dois por dia, a quem falta tudo, casa, comida, saúde, educação, electricidade, transportes, estão minimamente preocupados com o conceito de liberdade de expressão tão caro às elites abastadas? Estou mesmo a ver um chefe revolucionário de um país andino em cima de um velho camião, perante uma centenas de camponeses pobres, a prometer-lhes liberdade de expressão e eles babados, com água a crescer-lhes na boca perante a suculência de tão apetitosa promessa!!!

Encham-lhes a barriga primeiro, mandem os seus filhos à escola, dêm-lhes habitações dignas, proporcionem-lhes trabalho devidamente remunerado, acabem com as doenças endémicas que os dizimam e falem-lhes então de liberdade de expressão. Melhor, falem-lhes antes de liberdade de informação.

Nós próprios, na Europa dita civilizada, é disso que precisamos. Liberdade de informação, direito à informação. É disso que precisamos e é isso que parece que temos mas não temos.. Toda a informação que recebemos é incompleta, condicionada, distorcida, manipulada. Por vezes os títulos da notícias dizem uma coisa que é precisamente o oposto do que o respectivo desenvolvimento contém. É essa, precisamente, a intenção, pois a maioria das pessoas só lêem os grandes títulos e são eles que lhes ficam na memória.

Nos regimes democráticos, diz-se, qualquer pessoa é livre de emitir as sua opiniões; mas nem todos as podem difundir. Publicam-se artigos sobre os mais variados assuntos onde são feitas graves denúncias ao funcionamento das instituições; quer no próprio país quer no estrangeiro. Vejam que liberdade! Pois, mas apenas em revistas da especialidade ou em páginas recônditas dos jornais, ou a desoras na TV, ou numa linguagem que só iniciados entendem e que só são lidas por quem já nem precisava de as ler. O grande público, esse, fica sempre à margem dessas informações

E como se não bastasse, as rádios e as televisões, subalternizam metodicamente os programas de informação (falo de informação mesmo, não de faits-divers e casos de polícia) em relação ao entretenimento, alienante quase sempre, boçal com muita frequência. Pão (pouco) e circo (a toda a hora), que a informação é um perigo!

Não me lixem, pois, com a apaixonada exigência do “inalienável direito de se exprimir” de chocar, de espantar o indígena, de ofender até, se a tanto a sua expressão criativa o exigir.

Senhores jornalistas, Informem com honestidade, exijam o direito de informar com verdade. E isso sim, é uma boa causa.
Vale a pena, mesmo, morrer por ela