ENQUANTO E NAO

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

LIBERDADE DE EXPRESSÂO

A Caricatura de Maomé
Reina a maior indignação no mundo árabe pela caricatura de Maomé publicadas no jornal dinamarquês considerada ofensivas e sacrílegas para os seguidores do Profeta.

Ora, por solidariedade e em defesa do “sacrossanto” direito da liberdade de informar, outro jornal sueco a reproduziu e agora, um pouco por todo lado, outras publicações europeias, fazem questão de lhe dar guarida.

Quer dizer: a liberdade de informação dá direito a tudo. Dá direito a publicar todas as bacoradas que nos vierem à cabeça, dá direito à utilização de palavras e gestos obscenos na televisão, dá direito à exibição de cenas pornográficas, ou muito próximas disso, em horários totalmente desaconselhados para o efeito, e tudo isso em nome do direito à informação.

Sempre discordei deste conceito fundamentalista de liberdade de expressão e como não sou particularmente adepto de “politicamente correcto”, dá-me este episódio ensejo para publicamente manifestar o meu repúdio por tal conceito.

Meus amigos, a liberdade é um bem precioso de mais para ser desperdiçado em palhaçadas como estas. Tenho visto jornalistas que, durante o tempo da ditadura amouchavam que nem cordeirinhos perante os ditames da censura, sem nunca, como outros fizeram, arriscar furar-lhes as malhas e pouco depois do 25 de Abril se tornaram os mais acérrimos defensores de uma liberdade desbocada vociferarem contra quem sensatamente contra tal se insurgisse.

Admito que o jornal dinamarquês que primeiro publicou a polémica caricatura não se tenha apercebido do problema que iria levantar junto dos crentes islâmicos, já os que, depois do coro de indignados protestos por parte desses milhões de crentes, insistem na sua divulgação, cometem uma provocação desnecessária e eventualmente perigosa a homens e mulheres que não têm de se reger pelos parâmetros de liberdade praticados pela comunidade judaico-cristã.

Liberdade sim, mas bom senso acima de tudo.
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Mais Liberdade (?) de expressão

Ora, se liberdade de informação é um bem demasiado valioso, para ser desperdiçado com parvoeiras também o é para ser gasto com inutilidades, sobretudo na televisão, onde ainda por cima o desperdício é demasiadamente caro..

Ruben de Carvalho escreve no DN de hoje um artigo intitulado "Cai neve nas Televisões" que vem muito ao encontro do que penso a respeito de tais inutilidades que enchem os ecrãs de televisão, apenas para gastar tempo ou simplesmente "épater le bourgeois”

É o caso dos infindáveis programas noticiosos de todas as nossas estações de TV, que Ruben de Carvalho considera os mais longos de toda a comunidade europeia.
Aquilo é como as pilhas “não sei quê”, que “duram, duram, duram! Essas ao menos ainda têm utilidade enquanto duram,

Além de intermináveis os noticiários da TV que temos (mas não merecíamos) começam sempre por um fait-divers, um jogador de futebol que assinou um contracto com o Clube X, um marido que deu duas facas na mulher, uma casa que ruiu no bairro da Fonte.. As noticias que interessam verdadeiramente parecem lá mais para o fim, quando o pobre espectador já ressona diante do ecrã ou já se fartou e se pôs a milhas.

Permito-me, sem mais comentários, transcrever a seguinte passagem do artigo de Ruben de Carvalho.

O ocorrido no passado domingo com o nevãozinho que chegou a Portugal constitui um exemplo brilhante. Não há nenhum critério noticioso defensável que sustente o dedicar 32 minutos do horário nobre de um telejornal ao facto, por inusitado que seja, de ter nevado em Lisboa ou noutros pontos do País! Como não podia deixar de ser, a excitação televisiva que os flocos de neve provocaram traduziu-se numa péssima informação sobre o que afinal seria informativamente mais importante: quem quisesse aceder ao colectivamente essencial da questão (limitações de trânsito, nomeadamente) foi forçado a perder-se no meio de intermináveis entrevistas de inigualável interesse público do estilo "então já tinha visto neve?"...

2 Comments:

  • António
    Felicito-te pelo artigo que meteste no teu blogue ácerca da liberdade de expressão e informação.
    Em meia dúzia de parágrafos retratas o que se passa á sombra da referida liberdade.
    Diz-se tudo e mais alguma coisa, emporcalha-se quem quer que seja e se alguém levanta a voz, aqui d'el rei !
    Bem, já estou a alargar-me e eu só queria dizer-te que o artigo está óptimo e espero que continues a enriquecer o blogue com o teu apurado sentido de análise e de crítica.
    Um abraço.
    Francisco

    By Anonymous Anónimo, at 05 fevereiro, 2006 16:24  

  • É bem verdade! Nevou na televisão. Quando não neva, chove, faz sol ou outra coisa do mesmo género. Seja como for, a televisão mete água por todos os lados, com uma informação de chacha, bastante ao estilo popularucho.Não há pachorra.

    Carla

    By Anonymous Anónimo, at 08 fevereiro, 2006 18:50  

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