ENQUANTO E NAO

sexta-feira, outubro 13, 2006

...E VIERAM MAIS DE CEM MIL

A manifestação de ontem, de protesto contra a política do Governo presidido por José Sócrates, excedeu todas as expectativas. Esperavam-se cerca de cinquenta mil participantes e vieram mais de cem mil. Cem mil participantes! É obra! Desde 1982, contra Cavaco Silva que não se via uma manifestação como esta. E não se tratou apenas de trabalhadores da função pública, como se poderia pensar. Lá estiveram professores de todos os ramos de ensino, do básico ao universitário, mas também ferroviários, funcionários públicos, mas também operários e técnicos metalúrgicos, funcionários da Administração local a todos os níveis, mas também, trabalhadores da construção civil, profissionais da saúde de todas as categorias, mas também operários têxteis, e camponeses e pescadores, e militares e psicólogos e médicos – Todo o Portugal laboral, do Minho ao Algarve, manifestou ontem a sua cólera contra a política irresponsável, injusta e prepotente deste governo e em especial contra o seu mentor, José Sócrates - política que um dos muitos milhares de cartazes empunhados resumia de forma exemplar:
"HÁ LUCROS AOS MILHÕES E SÓ COBRAM NAS PENSÕES"

É isto mesmo. È isto que concita o descontentamento e a ira dos trabalhadores e dos reformados deste país. Mas o senhor Sócrates teima em não ver a realidade. Continua a não se perturbar com tais e tantas manifestações de desagrado. Tanto que, ainda ontem, na Assembleia da República, enquanto cá fora a multidão o contestava, ele persistia na sua arrogância: “Há quem discorde, quem ache que seria melhor que ficasse tudo na mesma, mas o governo sabe o que é necessário fazer.

Senhor Primeiro Ministro, não é de seu interesse, nem do interesse do seu partido, fechar os olhos à realidade. O povo sabe que a situação é complicada; povo sabe que são precisas reformas: o povo, mais do que ninguém, de uma forma exemplar, heróica mesmo, tem dado o seu contributo ao suportar, sem tugir nem mugir, o progressivo emagrecimento dos seus vencimentos e pensões, comido ano após anos por uma inflação incontrolada, que a ele principalmente atinge; mas o povo sabe também que essas reformas estão sendo feitas quase exclusivamente à sua custa, e o povo não vai continuar a permitir tal situação. Quando o copo está cheio, a bebida transborda

Os bancos têm lucros fabulosos para além do que é razoável. Há empresários que vêm dia a dia engrossar as suas fortunas, de tal modo que já não se contentam com as que têm, que se propõem engolir outras. Pois é a esses que se deve apertar a tarraxa para ajudar a resolver a crise.

Nunca, como agora foi mais actual um slogan muito em voga no imediato pós-25 de Abril: OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE.

Chegou a altura de esses senhores fazerem qualquer coisa pela Pátria que os engorda. Aperte com eles, senhor primeiro ministro. É uma ocasião única agora que tem maioria absoluta. Ou não tem coragem de o enfrentar? Aí é que se ver a sua coragem.

Quanto aos mais desfavorecidos é altura exacta de começar a preocupar-se, a assustar-se mesmo, com sua a ira, já que o senhor resolveu fazer incidir sobre eles todo o ónus das suas pretendidas reformas. Ou está à espera que em vez de cem mil tenha um milhão de pessoas na rua a protestar contra a sua política? Por este andar, é bem possível que isto venha a acontecer.


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DIÁRIO DE UM VAGABUNDO
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Lugar aos outros nº22
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