DANTES É QUE ERA BOM
Na sua Crónica de hoje, no DN, intitulada “Crise de euforia no patriotismo bipolar”, a jornalista Ana Sá tece judiciosas considerações acerca da nossa incurável propensão para nos menosprezarmos, sendo que essa tendência se refere sempre ao presente, pois houve um outro tempo (o tempo de cada um, obviamente) em que tudo era melhor
“Nesta matéria, o discurso da elite e a conversa de taxista convergem numa estranha unanimidade: "isto" não tem hipótese, "isto" não tem remédio, "isto" será sempre assim e, mais coisa menos coisa, "anda tudo a roubar". Ou (numa outra versão) "isto" já foi habitável, mas foi há muitos anos. Eventualmente, "no meu tempo", no "tempo" de cada um dos emissores do discurso de exaltação do passado. Que este discurso conclua pela existência de uma suposta glória nacional que haveria há trinta e cinco anos e não seja produzido por saudosistas do regime de partido único é um dos grandes mistérios nacionais.
É como se houvesse um qualquer mecanismo psicológico que, deitando fora as estatísticas, os números e os "gráficos", levasse qualquer indivíduo (mesmo "progressista") a exaltar "o antigamente que era bom", esquecendo-se obviamente de fazer as contas."
Afinal, há trinta e cinco anos estávamos em 1969. Bons tempos os de 69, quando havia democracia, direitos sociais, escolas para todos e, acima de tudo, a população era decididamente dada à leitura. (Tem sido interessante ver que, no debate sobre a educação que está em curso, tem-se assistido à defesa da escola de 1969, às vezes subtilmente, outras nem tanto)".
É isto mesmo. Sempre me insurjo quando ouço alguns (que muita vezes até parecem, se julgam, ou fazem crer que são progressistas) dizer que no meu tempo (tempo que feitas as contas coincide com o tempo do chamado Estado Novo) é que era bom. Costumo mesmo dizer e já o disse várias vezes neste blogue.: Com todos os problemas, com todos os agravamentos do custo de vida, com tods os problemas laborais, com todas as deficiências nos serviços de educação e saúde, nada era melhor do que hoje no tempo de Salazar. Acrescendo ainda a vantagem de hoje podermos, sem risco de o pagar com língua de palmo, criticar tudo o que não nos pareça bem feito contra isso lutar abertamente.
Não, dantes, nada era melhor do que hoje
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Timor, tudo na mesma
Os conspiradores continuam a agir impunemente, com a bênção da igreja, a tolerância do Presidente, o apoio de Ramos Horta, e o fechar de olhos dos australianos. Se o Presidente tem poderes para destituir o Primeiro Ministro, há muito que o deveria ter feito.
O que não podia era ter entrado neste jogo do faz-que-anda-mas-não-anda”, que tanto sofrimento tem causado à população e se arrisca a comprometer para sempre a existência de Timor Leste como estado independente.
A propósito da manifestação que ontem teve lugar em frente do Palácio presidencial, exigindo a dissolução do Parlamento e a demissão do Governo,
disse Marroio Alkatiri:
"As pessoas que dizem isso não conhecem a Constituição da República. O Presidente para dissolver o Governo tem de obedecer a critérios muito rigorosos e exigir isso é o desconhecimento total do país, da sua Constituição e da sua história",.
Se cada vez que 300, 400 ou mil pessoas que se juntam e pedem a demissão do Governo ou dissolução do Parlamento Nacional isso acontecer, significa que nem vale a pena estar a pensar em eleições. Ficaríamos com um país ingovernável , o protótipo de um Estado falhado".
Ora é isso que já está a acontecer. E é isso mesmo que parece pretenderem os mentores do golpe de Estado. Quanta inconsciência, meu Deus!
Ainda hoje, o major Reinado, cabecilha da sublevação contra o Governo, afirmava numa entrevista concedida à agencia Lusa:
"O conflito tem de acabar mas tem de haver negociações. Estou sempr pronto para negociar com as três autoridades que podem resolver este conflito: o Presidente Xanana, ramos Horta e a Igreja"
Cá está. Sempre a Igreja. Ela não tolera um não-católico como Primeiro ministro.
Este Governo, quando se trata de lixar os trabalhadores não volta atrás em qualquer medida impopular que tenha tomado. Isso seria minar a autoridade do Estado, pensará talvez. Mas quando alguma medida afecta os interesses de patrões e proprietários não têm o mínimo rebuço em voltar atrás logo que estes reclamem.
Vem isto a propósito das anunciadas multas aos proprietários
que permitissem fumar em salas onde o fumo não fosse permitido. Como estes reclamassem, o governo já veio pressuroso, anunciar a alteração dessas medidas. Assim, quem é multado são os clientes que não respeitem a proibição de fumar no recinto, onde essa proibição seja obrigatória. Estou mesmo a ver o proprietário ir denunciar os próprios clientes para que estes sejam multados.. Ah.ah. ah!
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