ENQUANTO E NAO

quarta-feira, maio 31, 2006

TIMOR, tudo na Mesma

Em Timor continua tudo na mesma.
Já hoje se verificaram novos incêndios e pilhagens em Dili.
Tal como tenho vindo a opinar, a conspiração só terminará quando os seus instigadores virem cumprido o seu objectivo: derrubar Mati Alkatiri e o seu Governo e colherem os benefícios económicos e políticos que lhes trará a substituição por um governo mais dócil, mais “compreensivo”.
É que segundo escreve no "El País de" hoje, o seu enviado especial Miguel Mora referindo se a Mari Alkatiri
,
(…) su poder es tan fuerte que aún sigue en el puesto, a pesar de que es notoria la oposición frontal de la Iglesia católica, de los gobernantes australianos y, más importante quizá, del ministro de Exteriores y premio Nobel de la Paz, José Ramos-Horta.

Pois aqui está: Igreja (poder de influência), Austrália (poder económico) Ramos-Horta (ambição política). Aqui estão alguns dos que mexem os cordelinhos. Os outros, os Reinado e os Salsinha são meros instrumentos dos desejos dos primeiros. Não posso deixar de referir, ainda e mais uma vez, o papel tendencioso da mulher de Xanana, coincidente com os interesses do país de que é natural

Para se ter uma melhor ideia do problema actual, transcrevo para quem não leu no DN de hoje e com a devida vénia a entrevista concedida por Moisés Silva Fernandes a Helena Tecedeiro e Nuno Fox

Há torças externas a a desestabilizar

Moisés Silva Fernandes
Investigador
Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Lisboa, é investigador j no Instituto de Ciências Sociais (ICS)

Timor-Leste nas relações luso-australo-indonésias contemporâneas é uma das suas áreas de investigação Moisés Silva Fernandes garante que a crise timorense era previsível desde as eleições de 2001.0 investigador, que recebeu o DN no seu gabinete do ICS, afirma que o petróleo é a "força motriz" por detrás dos interesses de potências externas, que usaram as divisões étnicas e tensões políticas em Timor-Leste para reforçar a sua posição no país e em toda a região.

Um relatório de 2002 do Australian Strategic Policy Institute já alertava para a possibilidade de conflitos nas forças de segurança timorenses. Esta crise era previsível?

Já era previsível desde as eleições de 2001, porque, se olharmos para os resultados eleitorais, já se nota uma certa divisão, de que agora se fala, entre a parte oriental e ocidental de Timor-Leste. O problema que se coloca é saber até que ponto estas divisões são exploradas a partir do exterior para fragilizar as instituições ti¬morenses, limitando a sua capacidade negociai. Esta crise remete-nos para um problema muito grave: o facto de os órgãos de poder terem apelado a uma intervenção externa é um sinal de grande debilidade de Timor-Leste e vai deixar muito limitados os próximos líderes.

A crise começou com a expulsão de 591 militares das forças timorenses, alegadamente por discriminação étnica. As divisões étnicas explicam toda esta violência?

A questão étnica é obviamente importante. Mas o que temos aqui é um problema político, com forças externas apostadas em desestabilizar Timor-Leste. Há anos que alguma imprensa australiana vem advogando um derrube do Governo de Alkatiri e espera ver no poder alguém mais maleável aos interesses de Camberra. Isto coloca problemas sérios, especialmente a Portugal. Porque a criação do Estado timorense obedeceu a duas opções: a escolha da língua portuguesa (com oposição da Austrália e da ONU) e a opção por uma base jurídica de matriz portuguesa, quando havia pressões para que fosse anglo-saxónica.
Qual a responsabilidade de Portugal na situação em Timor-Leste?

Quando assistimos à construção de um Estado, tem de haver um esforço colossal para que esse se firme. Ora, a partir de 2002, Portugal desinvestiu em Timor-Leste; e isso tem consequências políticas. Além disso, este desinvestimento coincidiu com a saída das forças do ONU, o que, ao deixar os timorenses entregues a si próprios, abriu a porta a interesses mais poderosos. Se a situação se degradar, poderá haver mais atritos entre Lisboa e Camberra. O que não é novo: as nossas relações com a Austrália pós-75 foram muito conflituosas, porque a Austrália foi conivente com a invasão indonésia e era um dos poucos países que reconheciam a anexação de Timor-Leste. Já em 1963, a Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e EUA se haviam reunido em Washington, onde tomaram uma decisão: quando o império português terminasse ou se houvesse problemas em Timor-Leste, o território seria entregue à Indonésia.

A Austrália instrumentalizou os grupos que protagonizaram a violência do último
mês?

Não há provas. Mas o facto é que os grupos que aparecem a fazer reivindicações, quer na polícia, quer nas forças armadas, têm uma certa ligação à Austrália. Na realidade, as ambições de Camberra em relação a Timor-Leste já vêm de longe. Em 1944, a Austrália quis, inclusive, comprar o território a Portugal. A acção dos australianos tem sido criticada e os timorenses pedem a presença da GNR. Como explica esta ânsia pela ajuda portuguesa? É uma ânsia que parte da população e de alguns sectores políticos, que estão interessados em que Portugal apareça para reequilibrar a balança. A chegada dos portugueses irá dar poder de manobra ao Governo para determinar o futuro de Ti¬mor-Leste. A ida da GNR é um aspecto político-simbólico.

Que papel teve o petróleo nesta crise?

O petróleo é determinante. É a força motriz por detrás destes interesses. Mari Alkatiri é um nacionalista do ponto de vista económico. O que ele quer é que os recursos rendam o máximo para Timor-Leste. A questão do petróleo é depois explorada de várias formas: dizendo que há um conflito étnico, que há uma luta pelo poder entre o Presidente e o primeiro-ministro. Esses elementos existem, mas não com a dimensão que lhes é dada

Como explica a "aversão" a Alkatiri?

A imprensa australiana tem acusado o primeiro-ministro de ser comunista, um argumento que a Indonésia já usara em 1974-75 para caracterizar o Governo de Díli. Mas não passa de poeira atirada aos olhos das pessoas.
O que acontece é que a Austrália não aceita que Alkatiri tenha conseguido óptimas contrapartidas no que diz respeito ao petróleo.

Como vê o papel de Xanana?

Como Presidente terá de assumir as responsabilidades. Até porque é o futuro político destes líderes que está em jogo. Se Timor-Leste definhar e entrar num ciclo de violência imparável, tudo irá recair sobre estas pessoas. Também me preocupa o papel da sua mulher, que aparece a falar como sendo quase o Chefe do Estado.

No meio desta crise, Ramos-Horta surge como ponte entre o Presidente e o primeiro-ministro e entre estes e os militares. Acha que está a preparar uma candidatura à presidência ou a secretário-geral da ONU?

Os próximos líderes em Timor--Leste terão cargos de pouca importância. Quem substituir estes dirigentes estará muito limitado, porque irá depender do entendimento com potências estrangeiras. Não vejo que os cargos de Chefe do Estado ou do Governo sejam muito ambicionados. Pode ser uma preparação para um cargo internacional. Não se sabe.

Ramos-Horta apontou as semelhanças entre as técnicas usadas pelos grupos revoltosos e as usadas pelas milícias em 1999. Acha que estes são resquícios dessas milícias?
É possível. Até porque Timor-Leste é uma sociedade com alto grau de violência.
Esta questão remonta aos tempos coloniais, quando as milícias eram usadas na repressão. Em 74-75, foram usadas para desestabilizar o território. E em 1999 também foram usadas pelos indonésios. Essa aprendizagem permanece com as pessoas. E se houver factores de ordem externa e razões políticas e sociais que favoreçam certas conjunturas, isso poderá agravar-se.

E ainda do DN de hoje:

"Antes mesmo de conhecer a intenção do Presidente da República e, numa entrevista a jornalistas portugueses, Filomeno Paixão o tenente- -coronel das Falintil, aquartelado à saída da capital, receava que o adiamento da chegada da GNR portuguesa para sexta-feira fosse tarde de mais. "O meu receio é de que, quando chegar, já não haja mais casas para queimar nem vidas para matar", disse, carregando de negro pesado o drama".

É necessário, pois que a GNR chegue o mais depressa possível a DIlLI. Devemos isso aos Timoreneses e devemo-lo a nós próprios, se queremos que a língua de Camões mantenha a sua presença por aquela longínquas paragens. Caso contrário, dentro de meia dúzia de anos, só o inglês com pronúncia australiana ali falado e escutado
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Nota: Todos os sublinhados do Texto, são de minha responsbolidade
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Veja hoje também o meu outro Blogue:
http://escritosoutonais.blogspot.
e
se gostou da minha crónica"Peúgas Brancas,"
Então vai gostar ainda mais de a ouvir,
lida pela voz inconfundível de Luís Gaspar,
em:
http://www.estudioraposa.com/
"Lugar aos Outros 04"