ENQUANTO E NAO

quarta-feira, maio 17, 2006

VIOLÊNCIAS

A violência em Timor-Leste
Os últimos acontecimentos em Timor-Leste, têm-me suscitado, a mim e julgo que à maioria dos portugueses, alguma inquietação.
Depois do carinho e solidariedade com que todo o povo português, acompanhou a saga da luta pela independência e do nascimento como Estado da nação timorense, é natural que as recentes notícias sobre a agitação - não isenta de violência, que recordam tempos de má memória – nos provoquem um indisfarçavel sentimento de preocupação sobre o futuro do jovem país.

Começa hoje em Dili o Congresso da Fretilin – o partido maioritário que detém actualmente o poder legitimado pelo voto e não me sai da cabeça que a agitação verificada nos últimos resulte uma manobra política premeditada, destinada a condicionar o decorrer deste Congresso e as suas decisões.

Não é que os motivos aduzidos não existam, não é que os militares que combateram como guerrilheiros nas montanhas não tenham dificuldades de adaptação à legalidade constitucional, não é que Governo não se tenha talvez alheado da situação e tenha descurado a resolução dos problemas daí decorrentes, mas também é verdade que há por detrás de tudo isso muitos interesses a manobrar na sombra, espicaçando e ampliando o descontentamento existente e algumas justas reivindicações.

É que Timor possui produto natural que pode ser a sua riqueza mas também é a sua desgraça. É que vizinhos poderosos, como a Indonésia e a Austrália(talvez esta mais perigosa neste momento e neste contexto) , para além de outras forças internas, às quais a igreja não é estranha, espreitam todas as oportunidades para fazer reverter a seu favor os benefícios da exploração dessa riqueza.
E o problema é sempre o mesmo. Na distribuição dos rendimentos que essa riqueza propicia, ao povo cabem sempre apenas as migalhitas que caiem da mesa de outras bocas e de outros estômagos mais vorazes.
E depois queixam-se!

Para Mari Alkatiri, porque não é de cedências fáceis e... não é católico (pecado sem perdão em Timor, onde a Igreja detém um imenso poder paralelo) , este congresso vai ser complicado, pois essas forças desafectas tudo farão para o destituir da chefia do Partido e consequentemente na chefia do Governo.
Veremos o que sai deste Congresso. Infelizmente e com grade pena, não auguro tempos fáceis para o martirizado povo de Timor Leste

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Ainda a violência em São Paulo

Parecem confimar-se as notícias de que a violência só terá terminado por ordem do chefe da poderosa associação criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) o cadastrado e perigoso "Marcola". Ao que isto chegou!

Como diz o povo, quem semeia ventos colhe tempestades. Tudo isto acontece, disse-o ontem e aqui o repito, por causa da iníqua repartição de rendimentos, num país onde há quem tenha fortunas fabulosas, - onde há quem tenha o seu aviaozinho de jacto (jatinho, como lhe chamam) particular, onde há nababos que, por terem esse "jatinhos" que lhes permitem poisar directamente nas suas luxuosas residências situadas em imensas fazendas, se dão ao luxo de pagar a autarcas corruptos para estes não arranjarem as estradas, mantendo-as esburacadas, a fim de impedir outros cidadãos de chegar perto dos seus "paraísos" - e onde há milhões de seres humanos com rendimentos inferiores a um dólar por dia.

Comentado o a minha entrada de ontem sobre este assunto um Amigo meu, disse-me, brincado com o facto de eu ter estado com febre nos últimos dias, que devia ser efeito da febre eu pensar que alguma vez os detentores das riquezas iam abrir mão dos seus privilégios e fazer uma redistribuição justa das mesmas.

Ora eu não disse, nem espero que eles voluntariamente o queiram fazer. Eu limitei–me, pura e simplesmente, a apontar como uma das causas principais da violência e da criminalidade, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, a injusta redistribuição dos rendimentos nacionais.
Compete aos governos e às classes dominantes fazer a sua opção. Um dia há-de chegar que, a não ser arrepiado caminho, com vontade ou sem ela, eles serão prisioneiros da sociedade que criaram. Eles sabem que têm que mudar, nem que seja para que tudo fique na mesma como diz o Marquês de Salinas (Burt Lancaster) no inolvidável filme de Visconti, "Il Gatopardo" . Caso contrário o dinheiro que arrecadam não lhes vai servir para nada porque não o poderão gozar em paz.

No Brasil isso já começa a acontecer
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Veja também o meu outro blogue

2 Comments:

  • Apenas um curto comentário/retificação ao seu blog sobre Violências.
    Afirma "Não é que os motivos aduzidos não existam, não é que os militares que combateram como guerrilheiros nas montanhas não tenham dificuldades de adaptação à legalidade constitucional, não é que Governo não se tenha talvez alheado da situação e tenha descurado a resolução dos problemas daí decorrentes, mas também é verdade que há por detrás de tudo isso muitos interesses a manobrar na sombra, espicaçando e ampliando o descontentamento existente e algumas justas reivindicações." - acontece que, entre os 591 militares, habitualmente designados por 'peticionários', apenas UM é antigo membro das FALINTIL. Todos são recentes (pós-independência) recrutados para a Força de Defesa.

    Cumprimentos,
    PP

    By Anonymous Anónimo, at 17 maio, 2006 17:41  

  • Muito obrigado pelo seu comentário e pelo seu esclarecimento. Mas sendo assim, ainda se reforça mais a minha ideia de que existem manobras obscuras por detrás dos actos de violência ocorridos em Timor nos últimos dias.
    mais uma vez obrigado

    By Blogger António Melenas, at 17 maio, 2006 18:02  

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