ENQUANTO E NAO

terça-feira, maio 02, 2006

o CAPITAL, o TRABALHO e a CRISE

"Injustiças sociais/Arre, pôrra, que é demais"

Este foi um dos slogans mais gritados ontem no desfile que levou à alameda da cidade universitária, em Lisboa, dezenas de milhares de trabalhadores.

Se não com estas palavras, foi dentro do mesmo espírito que, em diferentes línguas, milhões de outros trabalhadores se manifestaram por todo o mundo. O capitalismo, desde a queda do regime socialista na União Soviética, para a qual tanto se empenhou, convenceu-se de que agora, sozinho em campo, era chegada a altura de sacar aos trabalhadores todas as vantagens que desde o fim da 2ª guerra mundial fora obrigado a conceder-lhes.

De então para cá, tem sido um “ver-se-te avias” na sôfrega obtenção de lucros fáceis e imediatos, ignorando por completo aqueles que produzem a riqueza que lhes enche os cofres. Não contente com isso, o capitalismo ainda tem o desplante de assacar aos trabalhadores a responsabilidade pelas dificuldades crescentes que lhes vem criando no seu dia a dia. O sistema da segurança social está em crise, logo, são os trabalhadores que têm de a pagar: trabalhar mais, descontar mais, reformar-se mais tarde, receber menos na reforma. Eles sãos os culpados, eles que paguem. São vítimas e réus ao mesmo tempo.

Porque não confessa o capitalismo que as receitas da segurança social são baixas, porque os salários são baixos? Porque não diz que as receitas da segurança social não são mais altas porque os desempregados são cada vez mais, sendo cada vez menos, portanto, a descontar? Porque não diz também que uma parte muito pequena de reformados leva fatias das receitas desmesuradamente grandes em relação à maioria dos outros? São os trabalhadores que têm a culpa de tudo isto?

Quem disse que o capitalismo trinfou? Por que não admite o capitalismo, e os que o administram, que é a sua própria filosofia de organização da sociedade que está a falhar redondamente e que caminha inexoravelmente para o fracasso? Porque não admite que a actual crise em que a sociedade se debate reside, sobretudo, na má e desequilibrada distribuição dos rendimentos? O capitalismo ainda não percebeu isso? Pois os trabalhadores já se deram conta e estão decididos, cada vez mais, a fazer reverter a situação.

Dizem os bem-pensantes da nossa praça e os seus confrades bem-pensantes de muitas outras praças, que os sindicatos estão ultrapassados, fora das realidades, fora do seu tempo. Dizem-no quase sempre com a intenção de significar que, sendo obsoletos não são precisos para nada e com isso desmobilizar os trabalhadores de se congregarem em torno das suas associações representativas. Num aspecto eles têm, porém, razão: os sindicatos têm que mudar sim, mas no sentido de endurecer ainda mais a sua luta, não apenas no campo restrito dos interesses imediatos dos trabalhadores locais mas, sobretudo, no âmbito de uma luta mundial, unificada e concertada, contra o seu inimigo mortal, o capitalismo desenfreado. Os Sindicatos estão começando a sentir essa necessidade e esse deve ser o caminho. À globalização dos interesses do capital só pode corresponder a globalização concertada dos trabalhadores. Os trabalhadores não podem ceder mais.


Como dizia a minha mãezinha, “quanto mais uma pessoa se baixa, mais o cu se lhe vê”, e é bem certo.
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"Onde estava no 25 de Abril?"
no meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com