ENQUANTO E NAO

quarta-feira, abril 19, 2006

VÁRIOS

A presença de vigilantes privados nas cadeias portuguesas,
ontem admitida pelo Ministério da Justiça, é um dos objectivos assumidos de algumas das maiores empresas de segurança privada, que sublinham as vantagens de o Estado delegar funções.
“Os gastos são menores e o serviço é melhor”, resume Ângelo Correia, o ex-ministro da Administração Interna que preside à recém-criada Associação de Empresas de Segurança
(AES).
Correio da manhã de 19-4-06

Considero detestável e perigosa esta opção. Não tarda nada que se esse sistema for adoptado, comecem a surgir notícias como as das sevícias praticadas em Abu Graíb, onde os americanos contrataram também empresas de segurança privadas. A gestão e as segurança das cadeias deve competir exclusivamente ao Estado.

Mas o mais curioso é essa medida, ser acarinhada pelo Engenheiro Ângelo, ex. ministro da Administração Interna. (famoso pela “conspiração dos pregos”, lembram-se?, empresário e… claro, está tudo explicado: presidente da Associação de Empresas de Segurança. O que para aí vai de compadrios, meu deus!

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Líder de Taiwan acusa Pequim de não renunciar à força
DN de 19-4-06

É exactamente a mesma posição do Hamas (enquanto partido, pois como governo ainda não se pronunciou.
Pois é. Só que a China é poderosa, tem força – a única coisa que os americanos respeitam
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Sindicatos defendem que as empresas devem poder criar salas de fumo
DN de 19-4-06,
Nada mais justo. Proibir que os fumadores ”suicidem” os não fumadores nos lugares públicos não implica que os que fumam deixem de poder dispor de locais onde possam suicidarem- se como lhes aprouver.

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0 19 de Abril de 1506

É hoje que se completam exactamente os 500 anos da matança de judeus em Lisboa, a que me referi há dias. É bom que se recordem estas datas para vermos como a intolerância que hoje se verifica no mundo já vem de longe e quão pouco o homem tem aprendido com estas tragédias, que tanto nos horrorizam, à distância, mas nas quais reincidimos sempre. Como é possível que estes crimes sejam cometidos em nome de Deus. Que deus gostaria que isto aconteceesse?

Eis como Ferreira Fernandes fala desta efeméride, na sua crónica no Correio da Manhã de 16-04-06, e como a ela se referiu o poeta da corte Garcia de Resende

Na missa da Igreja de São Domingos, na Baixa de Lisboa, gritou-se ao milagre, porque uma imagem de Cristo resplandecia. Alguém, imprudente, disse em voz alta que aquilo lhe parecia mais um efeito de luz. Era um cristão-novo, que foi arrastado para o adro, despedaçado e queimado. A multidão, acicatada por dois frades dominicanos, partiu à caça de mais cristãos-novos.Garcia de Resende, poeta da corte, conta: “Mais de quatro mil mataram/Meninos espedaçaram/Fizeram grandes cruezas/Grandes roubos & vilezas/Em todos quantos acharam”.

Mulheres violadas, homens queimados, crianças atiradas contra as paredes. Cruezas como antes e depois se fizeram, em outras paragens, aos judeus. No que me diz respeito, e é isso que mais me interessa – com o cinismo que meio milénio me permite – é que hoje pertenço a um dos povos menos cultos da Europa. E já houve tempo que não foi assim. Esta semana, estou de luto. Por mim.

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Retrato de Sócrates

Na sua última crónica semanal, no Público, António Barreto traça um retrato de Sócrates, verdadeiramente demolidor.
Diz Barreto:

Sócrates não era ninguém, ou quase antes de ser primeiro –ministro. Chegou lá por uma, para ele feliz, sucessão de factos e acontecimentos fora da sua vontade.

E noutra passgem:

Mestre em escaramuças, não se lhe conhece talento para as grandes batalhas.
È abrasivo, eventualmente vingativo. Gosta de quem o corteja, detesta ser contrariado. Parece querer modelar a sociedade, a administração e o mercado “à mão”, isto é, caso a caso. Foge dos “enquadramentos” e das “visões gerais”, corre atrás da pessoa, da empresa ou das instituições que lhe convêm. Não tem alianças visíveis com classes, profissões, sectores da economia, igrejas ou artes, mas em cada um desses meios escolhe seguidores e favoritos

Este ultimo parágrafo reflecte exactamente aquilo que aqui várias vêzes tenho dito. José Sócrates é um político sem norte. É teimoso, poderá ser corajoso – o que é uma qualidade – as reformas que pretende fazer até poderiam algumas ser justas e recomendáveis, só que ele cria múltiplas frentes de batalha e dispara para todos os lados ao mesmo tempo, contra todas as regras da estratégia militar. O que acontece é que em todas essas frentes ganha inimigos e, não faz aliados e, sendo assim, a sua derrota será inevitável

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Leia , também, a nova crónica
"ENCONTRO AZARADO,
no meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com