ENQUANTO E NAO

quinta-feira, abril 27, 2006

O CRAVO. os que o amam e os que dele se servem


Na sessão comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República, o actual Presidente da República fez um discurso que de comemorativo não teve nada. Nem o cravo que os seus antecessores sempre usaram, nesta cerimónia, se dignou ostentar ao peito, como se o cravo, independentemente do rumo que a revolução tomou, não tenha ficado intimamente ligado à gesta revolucionário daquele dia impar da nossa história, aquele dia que, se não tivesse existido, jamais ele chegaria a ocupar o lugar cimeiro que ocupa na hierarquia do Estado democrático.

Parecerá a muitos que é um pormenor de somenos importância a tácita recusa de ostentação da flor que simboliza o regime em que vivemos, no preciso dia e no preciso acto em que oficialmente se comemora a sua implantação. Mas não é de forma alguma despicienda e ausente de significado esta recusa. Ela é inquietante pois significa que o primeiro magistrado da Nação não aprecia o regime que o elegeu para o representar. Nem ele, nem os deputados do PSD e do CDS que, na mesma sessão evocativa do 25 de Abril, responderam com grosseiro e insolente silêncio ao apelo do Presidente da Assembleia da República, para que fosse ali prestada pública homenagem aos militares que tornaram aquela data possível. Estes são dos tais que cospem no prato da comida como o palhaço da Madeira.

Sei que haverá almas simples (ou nem tanto) a defender que o símbolo de Portugal é a bandeira e pati, patatá.. É sim senhor. Mas no dia 25 de Abril, não é a Pátria que se comemora .Para isso existe o dia 10 de Junho. No dia 25 de Abril, o Povo português, o Estado português e a Assembleia da República comemoram o regime implantado em 1974. e o símbolo desse regime, quer queiram quer não ( a história não são eles que a fazem) é o cravo vermelho – aquele que o povo elegeu desde o primeiro dia.

Mas, além da ausência do cravo, o actual Presidente da República fez um discurso que muito agradou à sua família política (pudera!) e que também não desagradou de todo ao PS, pela simples facto de ter sido poupado ao puxão de orelhas de que estava que estava à espera e merecia., mas não só não apresentou nada de novo, limitando-se a falar da exclusão social sem apresentar qualquer solução – coisa que qualquer pároco de aldeia poderia fazer na sua prédica dominical – como, de uma forma indirecta e sorna, criticou o regime saído do 25 de Abril (faço questão de insistir: o regime que lhe permitiu chegar aonde chegou) que com o 25 de Abril ter-se-á conseguido uma sociedade mais livre - mas não uma sociedade mais justa, sendo necessário, segundo ele, lutar para alterar tal situação.

Ora a verdade, o que devia ter sido dito, é que a sociedade é mais livre (não tanto como seria possível, mas é também mais justa do que era, embora a léguas do que seria desejável e possível)

O que o actual Presidente da República se esqueceu de dizer é que ele e os seus governos nada fizeram para minorar a situação de injustiça social e gritantes situação de exclusão que ainda se verificam. Que diabo, eles mandaram no país durante 10 anos seguidos e mais alguns alternados! Eles e o PS é que têm detido, praticamente o poder ao longo dos 32 anos de regime. Que é que eles andaram por cá a fazer?

É preciso, pois, ter muita lata para vir agora armado em salvador da pátria, e a exibir tanta preocupação pela falta de justiça social, quem tanto contribuiu para o estado em que ela se encontra.
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