AI TIMOR...
Disfarçadas de meras reivindicações antes do congresso da Fretilin, na esperança de poder condicionar o seu resultado e claramente insurreccionais depois de o Congresso ter dado uma clara vitoria a Mari Alkatiri e o consequente apoio à manutenção do seu governo, as forças interessadas no seu derrube têm vindo a apostar num escalada de violência susceptível de provocar a total ingovernabilidade do país e dessa maneira lograrem alcançar a satisfação dos seus obscuros intentos.
Todos sabemos que enquanto grande parte da população ansiava libertar-se do domínio indonésio, houve muitos que nunca aceitaram de bom grado a situação instaurada pelos vencedores. Entre estes contam-se não só os antigos quadros e familiares da administração indonésia, mas também muitos pretensos oposicionistas de fachada, que ficaram sempre ao meio a ver para que lado caíam as coisas e que no final não se conformaram – porque o povo neles não confiava – por terem ficado arredados da governação. Mas também os vizinhos australianos, que contavam preencher o lugar da Indonésia, quando esta se retirasse, na exploração das riquezas naturais de Timor, ficaram muito ressabiados por o governo timorense não lhes permitir tanto como pretendiam os seus apetites hegemónicos nessa exploração. Mas também a igreja católica, que durante séculos foi mentora das consciências do povo maubere não vê com bons olhos a existência de uma governação laica, onde a sua influência fica reduzida
São todos esses que, agora, aproveitando ou fomentado a confusão, espreitam na sombra o momento em que poderão reverter em seu proveito as oportunidades que actual governo lhes tem negado, indiferentes ao facto de que com tal confusão o poder esteja caindo na rua, abrindo caminho à acção criminosa de bandos de marginais que saqueiam, incendeiam e matam as populações indefesas, perante a inércia das tropas australianas que supostamente teriam desembarcado para ajudar a restabelecer a ordem. Ainda ontem passaram imagens na BBC onde de se vêm grupos de jovens a destruir casas, com os militares australianos parados, a assistir.
E o Presidente Xanana Gusmão, o que tem feito, durante esta crise? Além de não ter feito nada de positivo, tem permitido que a sua mulher tenha vindo deitar azeite na fogueira, de uma forma inadmissível e violadora dos preceitos constitucionais.
É muito inquieto que assisto ao desenrolar de todos estes acontecimentos num país pelo qual tenho (e têm todos os portugueses) o maior carinho. Tenho a vaga sensação de estar a reviver acontecimentos longínquos em que um outro primeiro Primeiro ministro de um país recém-chegado à independência também foi vítima de igual conspiração por parte de compatriotas traidores e organizações internacionais que não viam com bons olhos a nacionalização de riquezas naturais por todos cobiçadas. Falo de Patrice Lumumba, Primeiro Ministro da República do Congo (ex-Belga) que acabou assassinado e o seu corpo diluído em ácido sulfúrico, pelas mesmas forças obscuras que agiam e continuam a agir, na sombra, para impedirem que outros usufruam das benesses que, por direito divino, se arrogam o direito de serem únicos e privilegiados merecedores.
Também no Congo havia um Presidente da República (Kasabuvu) de comportamento dúbio (pelo menos) e havia um major Reinado (Moisés Tshombé), cujo nome não saiu nada limpo nos trágicos acontecimentos que envolveram o seu bárbaro assassinato.
Só espero que eu esteja delirando e que esta associação de ideias não seja mais do que isso: delírio
De qualquer modo tendo evocado a morte de Patrice Lumumba, talvez não seja despropositado citar aqui um poema que lhe dediquei, na altura e que, obviamente, guardei bem guardadinho no fundo da gaveta. Até hoje
CANTO A PATRICE LUMUMBA
Patrice Lumumba está morto
disseram os jornais.
Mas todos sabiam
há muito
que estavas morto
O teu assassínio durou meses.
A tua agonia
foi longamente
barbaramente prolongada.
Negam-se a dizer o local da tua morte
mas nós sabemos onde te mataram.
O teu sangue
encharcou todos os cárceres
do Congo
por onde o ódio
dos teus assassinos te arrastou.
Nenhuma prisão
era suficientemente segura
para te guardar.
Nenhuma força
era suficientemente forte
para te domar.
Só a morte
(pensavam)
traria sossego
à sua miserável
existência de traidores.
Patrice Lumumba, estás morto
mas não a chama
que te incendiava o coração
não a força
que animava a tua luta.
Como que simbolicamente
não foste morto
num só lugar
Foste morto em muitos lugares
e por muita gente
Ma nós sabemos,
Patrice Lumumba,
nós sabemos
exactamente
quem te assassinou.
Os teus verdugos
não são negros
nem brancos
nem amarelos
pertencem a uma “raça”
definida
implacável e sanguinária:
o fascismo.
Os seus nomes são
Hammarskjoeld
Tshombé
Chang-Kai-Chek
Salazar
Franco
Trujillho
Somosa
americanos e belgas
tiranos
colonialistas
reaccionários
fascistas
de todo o mundo.
Patrice Lumumba está morto
Mas a simples evocação
do seu nome
encherá de pavor
as noites dos verdugos
Sim, Patrice,
não foi inútil
o sacrifício da tua vida!
Não foi em vão
que o sangue generoso
do teu corpo jovem
encharcou a terra misteriosa
do teu Congo amado!
Ele fará germinar a flor
do ódio
que guiará os passos
do teu povo
e aguçará a lança dos teus guerreiros!
O teu nome
será uma bandeira
na luta dos povos africanos!
A tua memória
será um incentivo
na luta de todos os povos,
PATRICE LUMUMBA!
Moscavide, 13-2-1961
Patrice Lumumba, numa carta escrita à esposa em Janeiro de 1961 uma semana antes de ser esquartejado e dissolvido em ácido sulfúrico pelos capangas de Tshombé e de polícias belgas, de noite, no meio da mata, dizia:
“Nenhuma brutalidade, mau trato ou tortura me dobraram, porque prefiro morrer de cabeça erguida, com fé inquebrantável e uma profunda confiança no futuro do meu país a viver submetido e espezinhando princípios sagrados. Um dia a história nos julgará, mas não será a história escrita por Bruxelas, Paris, Washington ou pela Onu, mas sim pelos países emancipados do colonialismo e dos seus títeres”
Patrice Lumumba foi, até hoje, o unico Governante da Republica Democrática do Congo a ser eleito democraticamente. E já lá vão 46 anos!!! E qual foi o argumento que os colonialistas usaram para o destruir? Que tinha simpatias pelo comunismo. è sempre o mesmo argumento.
É bom que se aprenda com a história
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Veja hoje no meu outro Blogue:
http://escritosoutonais.blogspot.com
Uma nova estória
A VELHA SENHORA DA MORTE FELIZ
e
se gostou da minha crónica
"Peúgas Brancas,"
Então vai gostar ainda mais de a ouvir,
lida pela voz inconfundível de Luís Gaspar, em:
http://www.estudioraposa.com/
"Lugar aos Outros 04"
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