ENQUANTO E NAO

segunda-feira, junho 12, 2006

EU, "POLITICAMENTE INCORRECTO", ME CONFESSO

O “politicamente correcto” é, em minha opinião, uma das coisas mais execráveis que a se inventaram nos últimos anos. As pessoas não se regem mais por princípios, por comportamentos bebidos com o leite materno, por normas de respeito interiorizadas e livremente assumidas. Hoje todo o comportamento, sobretudo entre os bem-falantes, é marcado por agir de acordo com o “politicamente correcto” seja lá o que isso for.

A seguir ao 25 de Abril foi a grande moda da sacralização da juventude. A "malta jovem” tinha todos os direitos” era credora de todos os benefícios era endeusada até à náusea. Era quase uma vergonha, um estigma não fazer parte dessa nova religião alicerçada no supremo dom de não ter ainda trinta anos - idade a partir da qual qualquer indivíduo era considerado um ser supérfluo um réprobo, um pária, um “vaut rien” sem préstimo para a sociedade.

Agora, que essa moda perdeu alguma da sua virulência, os bem pensantes, que têm sempre que se entreter com qualquer coisa, resolveram terçar armas pelas criancinhas. Ai de quem ouse dar um tabefe, quantas vezes merecido, num filho, ai de quem se atreva a pôr o mínimo obstáculo à liberdade individual de um adolescente, muito embora os pais saibam perfeitamente os perigos que no caso particular do seu filho, para ele advêm do exercício plena dessa liberdade.

Vem isto a propósito da gritaria dos órgãos de comunicação social e de certos “opinion-makers” da nossa praça acerca do tabefe que o padre-director de uma das casas do gaiato teve de dar a um garoto que, teimosamente, se interpunha entre ele e o jornalista a quem estava concedendo uma entrevista. Como toda a gente sabe, o responsável pelas casa do gaiato é como que pai e mãe dos garotos à sua guarda. Pergunto: Que pai, com dois dedos de testa, amor pelo filho e sem preconceitos do “politicamente correcto” não faria o mesmo em iguais circunstâncias? Ah, sim, há muita gente que o não faz. Credo, parece mal, não é da moda… pois e os resultados estão à vista. Quem paga são os professores, os educadores de infância, os responsáveis por internatos, o cidadão que é desacatado na rua por essas adoráveis criancinhas ou adolescentes, com pais politicamente correctos que não souberam dar-lhes o tabefe oportuno na ocasião oportuna.

Minha mãe tinha cinco filhos, uma casa pequena, sem condições, e além da lida da casa tinha ainda que trabalhar até altas horas da noite, fazendo bordados para um armazém. Os filhos, como todos os miúdos, confinados a um pequeno espaço brigavam uns com os outros por tudo e por nada e minha mãe, coitada, só tinha uma solução para os acalmar: era levantar-se da máquina de costura e proceder a uma democrática distribuir tabefes pelos irrequietos galfarros que, de imediato, perante tão persuasivos argumentos, de pronto se aquietavam, até nova briga e nova distribuição de lapadas. Posso dizer que, até aos meus doze anos, talvez, levei dúzias de nalgadas e muitas centenas de tabefes de minha mãe e nem por isso deixei de a amar e de sentir uma mágoa imensa de a ter perdido, quando a sua hora chegou..
Os tabefes que levaram não impediu que os seus cinco filhos se tornassem cidadão respeitáveis, trabalhadores, ordeiros, com princípios morais e cívicos, que eram o seu orgulho.

Na sua crónica de hoje, no Diário de noticias, a ilustre deputada (ou ex-deputada )do Bloco de Esquerda, que deve ter muita prática de lidar com crianças, atira-se como gato a bofe ao padre desta história, permitindo-se mesmo comparar este episódio do tabefe ao garoto para que deixasse de ser intrometido com os maus tratos infligidos por uma técnica a menores deficientes que os jornais há tempos relataram – esse sim acto repugnante e condenável - tanto mais que era maus tratos frequentes e desajustados, que icluiam fechar a crianças às escuras dentro da dispensa. Ora uma coisa nada tem a ver com a outra. O padre em questão pode até ser um grande safado. E se o for, se o seu procedimento for cruel e injusto, que a justiça o puna com severidade.
Não o conheço de lado nenhum, nem estou aqui para o defender, mas tanto escarcéu por uma estalada – que, precisamente por ser em público, esbate qualquer suspeita de atitude dolosa – parece-me bastante descabido, a não ser pela necessidade de escrever uma crónica a qualquer custo.

Aliás, também vi acerbas críticas nos jornais ao mesmo padre, pelo facto de ter mandado vasculhar o quarto de um dos adolescentes da casa que dirige. “Que não tinha esse direito, que isso era invadir a privacidade da crianças” e outras tiradas deste género, quando essa “vasculhação” veio demonstrar que o adolescente em questão guardava no quarto armas e droga, de acordo com os mesmos jornais.
Então e o responsável não tinha o direito de averiguar o que se passava com os garotos à sua guarda? Tinha não só o direito mas o dever de o fazer.. Outra das acusações ao padre é que alguns dos disparates dos rapazes eram punidos com a obrigação de fazerem determinado número de flexões. Oh crueldade Inaudita!

Oh senhores e senhoras bem pensantes, por favor, moderem a vossa sanha cruzadística para causas mais importantes, como sejam dar casa e pão e educação, circunstâncias normais, às crianças desprotegidas.

Eu, que como disse, me estou nas tintas para o “politicamente correcto” sou de opinião que um tabefe dado a tempo”, pode resolver, na altura, problemas que, de outra maneira poderão vir a ser casos de polícia como aqueles com diariamente nos defrontamos

Por isso atrevo-me a enunciar este apelo: Pais, professores e educadores de todo o mundo, para bem dos vossos educandos e da sociedade em geral, exercei o vosso direito ao tabefe. Dado na hora, de intensidade proporcional à falta, e de forma que o receptor perceba o porquê da dádiva.. Se exagerardes na dose, ou o fizerdes com dolo ou crueldade, não mereceis o nome de pais ou educadores e a justiça vos pedirá contas.

Mas, por amor dos vossos filhos e educandos, não embarqueis na conversa dos pensadores de pacotilha que julgam que o mundo começou quando eles, generosamente, se dignaram pôr os privilegiados neurónios ao serviço das massas ignaras que são o resto dos comuns mortais.

Tenho consciência de que esses me vão chamar reaccionário pelas palavras que aqui escrevi. Mas eu sei o que sou. E , se quereis saber, já não estou em idade para me deixar impressionar ou condicionar pelo que os outro pensam ou digam a meu respeito.


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Leia no meu outro blogue
http://escritosoutonais.blogspot.com
a nova crónica
GRAVATAS & BRAVATAS

3 Comments:

  • Pois é, amigo António. Eu já visitei a Casa do Gaiato e se alguém julga que faz alguma coisa de tantos miúdos quem não têm pai nem mãe, só através de falinhas mansas está redondamente enganado. Aliás, quem achar que faz melhor que o Sr. padre que vá para lá e que o demonstre. Está mais que provado que esta súbita e tão proclamada angelização das crianças está de todo desajustada da realidade que vivemos hoje em dia. Os miúdos crescem depressa de mais, têm acesso a tudo e mais alguma coisa desde tenra idade e não lhes são incutidos valores, um dos quais verdadeiramente essencial, que é o respeito pelos mais velhos. Sensibilizou-me a sua compreensão pelas medidas tomadas pela sua mãe.Outra coisa não seria de esperar de si :-) Beijos.

    By Anonymous Anónimo, at 12 junho, 2006 23:37  

  • "...súbita e proclamada "angelização" das crianças..."
    É isso mesmo, Carla,
    Bjs
    António

    By Blogger António Melenas, at 12 junho, 2006 23:48  

  • Olá!
    E eu que pensava que apenas aqui, no Brasil, havia esse "patrulhamento" na educação a ser dispensada aos menores. Há 14 anos convivemos com um tal Estatudo do Menor e Adolescente, que cria pequenos perversos e mal educados.
    Aqui em casa, com 4 filhos, pouco tempo depois de sair tal estatuto, uma das filhas apelou aos "direitos" que lhe davam tal documento. Reuni os 4, mais a esposa, e deixei claro que na casa, no seio da familia, sempre prevaleceria a minha (nossas) responsabilidades e direitos de pais. Se algum deles, em algum momento quizesse fazer prevalecer a lei feita em papel, que o fizesse da porta para fora. E se a tal lei não os acolhesse como os acolhíamos em casa, que por lá ficassem. Resultado?
    Resolveu-se o problema, e continuamos respeitados como pais.
    Sou solidário com a tua preocupação.
    Creio que sociedade ainda colherá frutos amargos advindos dessa árvore de tanta tolerância com os pequenos.
    Felicidades!
    Um cordial e virtual abraço, a ti, e aos teus amigos.
    http://sonetosesonatas.blogspot.com
    Evaristo

    By Blogger efvilha, at 13 junho, 2006 00:02  

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